a million parachutes

for us

28 outubro 2003

:: se há

e se há poesia nisso, que haja o suficiente para que a mensagem não se perca. que o mundo construído desmorone com o tempo, não com as nossas viciosas e furiosas mãos. o que eu quero te dizer é que penso em você deveras. ouço discos, gravo fitas, planejo receitas, arquiteto cenas cheios de plots dramáticos, escrevo no meu caderno de anotações o quanto está aqui dentro das temporas, sob a cutis, impregnada no cabelo, entre os dedos, vc fica escondida nessa região esquisita entre o nariz e os olhos e quando me olho no espelho, você foge para aquele vale debaixo do pescoço que deve ter um nome médico temeroso, mas que se inventássemos seria muito mais bonito.

e se não há como mudar muita coisa agora, que tenha esperança suficiente para suportar até que tempos bons venham. conservo certa convicção que os amigos acham tola. admito que todos eles tem razão. que é realmente ridículo permanecer nesse estado, dizendo coisas de esperança se eu mesmo não pratico a boa esperança. os sonhos vão se diluindo enquanto os seriados caminham para novas e últimas temporadas.

os amigos comunicam que estão se mudando. ou estão longe, ou mudaram, ou as duas coisas. tem pernas diferentes, tem raciocínios mais rápido, sonham coisas de verdade e pagam muitas das suas próprias contas. em cada voz ouço um pouco da sua. aquela palpitação quando pergunto se estão bem. não sei porque muitos hesitam em responder a coisa padrão, querem ser sinceros comigo, dizer coisas que lhe faltam sentido. e nem me preocupo em lhes dizer o que me faz falta.

e se há alguma falta, que haja o suficiente para que não seja tanta e para que não me embruteça.