a million parachutes

for us

18 agosto 2003

:: fazes-me falta

no café, peço um chocolate quente grande. sento-me numa mesa menor em um lugar estratégico em que posso acompanhar o salão inteiro; em que o volume da música ambiente e a temperatura estão agradáveis e que eu possa ver se o bilheteiro da sala de cinema já pode deixar as pessoas entrarem.

há um principio de briga, amenizado por uma piada lançada que ambos os lados enfrentadores acatam de tão boa que é; casais apaixonados; casais um pouco menos; amigos aos montes rindo antes do silêncio cinematográfico. há um outro que está só.

esquento minhas mãos na xícara, hábito para quem nunca quer ter as mãos frias. um pequeno arrepio por conta de um vento fugitivo. absorto, vejo o vapor. um vapor aconchegante e convidativo. sorrio por um estante pelo vício do chocolate. lembro do cachicol esquecido sobre a cadeira. não faltaram avisos.

lá fora, os movimentos do carro sugerem a volta para casa. aqui todos se sentem um pouco em casa. no conforto da sala de cinema exorcizarão pequenas mágoas e tristezas e perceberão coisas que não puderam ou ainda não inventaram. acho graça de ter pensado isso porque eu também vou me entregar.

na sala de cinema, o barulho do projetor, os sussurros, defeitos da película evidenciam o quanto não estou só. e assim me sinto mais só. porque não estou naquele filme. estou em outro. ainda mais difícil porque o roteiro não costura para dentro. é escrito a lápis todo tempo e com vontades de viradas e climaxs.

o filme é bom. mas fazes-me falta.