a million parachutes

for us

27 julho 2006

:: Poesia mínima

a aurea-marida me mandou um haicai.

Pintou estrelas no muro
e teve o céu
ao alcance das mãos.

Helena Kolody

vou mandar outro para ela.

25 julho 2006

:: the end of the day

o dia acabou. ela vai embora e não há frase que diga ou divida que pague que a faça mudar de idéia. enquanto você a sabota refazendo as dobras das roupas de forma não producente, ela reclama do novo formato das apresentações dos videos da mtv. neste momento ocorre a você uma saudade inesperada do tempo em que os clipes eram feitos de forma ingênua e ambos eram também. tanto que hoje qualquer coisa que não soe cinematográfico com seus superrealismos merece risada de desprezo. por que tanto desprezo? você se pergunta. mas esta não é o tipo de pergunta que se faz quando o dia acaba e a pessoa com quem conviveu durante 3 meses está indo embora. você se dá conta da falta de coerência que ela notará ao ver as dobras das roupas feitas com tanta imprecisão. você que sempre foi tão preciso com decimais, virgulas, pontos e unidades de medida.

a janela aberta é para ouvir o táxi solicitado e impedir que o motorista toque a campainha do apartamento errado. você poderia tê-la convencido da bobagem que é dizer um número de apartamento quando na campainha diz outro. mas como desafiá-la se o desejo sempre foi viver no apartamento 12 de um prédio qualquer? quando ela coloca algo naquela cabeça desmiolada, não há como contrariar. seria um crime cruel repudiar a liberdade que emana pelos poros dela e que você, por ser tão preciso, sabe a medida da sua própria limitação.

dentro da mala dela, você ainda troca a maconha por analgésicos contra ressacas mesmo sabendo que em algum momento, quando ela tiver a oportunidade de fugir para um banheiro, chamará você de filho da puta assim como ela não lembrará que não havia sido ela quem guardou os analgésicos. e você ainda guardará os papelotes em uma gaveta qualquer esperando que a validade acabe.

o táxi chega. você corre para avisar o motorista, mas ele foi mais rápido. você pede desculpas para a senhora que aparece na janela ao lado. a do apartamento 12.

dois braços o pegam pelas costas e formam um abraço. você se vira com alguma resistência, mas com um movimento de omoplata ela pede e você a abraça com uma ternura que ela nunca percebeu antes. ela pega as malas e parte. e você acena o adeus ensaiado dos filmes.

você se senta para assistir a tv. abaixa o volume. o dia acabou. aos poucos sua concentração toma a casa e você se pergunta se é a sua ou a campainha da vizinha que tocará primeiro.

20 julho 2006

:: natália brincamar

um antigo sonho de escrever tiras/quadrinhos com a ajuda da talentosa natacha.

www.fotolog.com/brincamar
:: natália brincamar #01

ela pinta fotos preto e branco, consome açúcares em demasia e tem vocação para tramas complexas. chamou-me num canto e perguntou:

-- percebeste as minhas meias?

-- se vestires só as meias, ficarão mais sujas na parte de baixo.

-- não! não percebes? as listras estão invertidas de uma para outra!

depois me deu um beijo na orelha e foi inventar nomes para cães.

18 julho 2006

o ar desta manhã cheira a tarde.

15 julho 2006

:: ventania
 
te animou a saia.
 

14 julho 2006

:: geladeira

em sua geladeira tem um papel pendurado por imãs que diz: "cuide-se, sofia".

amor é algo assim. não saber se sofia é assinatura ou vocativo.

12 julho 2006

:: parachutes.radio.station.02


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+ still in love - cat power - a mulher mais sexy e desengonçada que já conheci.
+ never recover - the cardigans - tem um gente meio sombrio e meio cute, fora o tchutchuru syle.
+ brand new cadillac - the clash - um clássico dos caras
+ what?s happened to my rock n roll - black rebel motorcycle club - pegada punk, fico doidão.
+ freeze the saints - stephen malkmus - bem na linha pavement, boa balada para acabar.

08 julho 2006

:: parachutes.tv _ texture memories



direção/produção - Iolanda Andrade e Aline Nordi
edição - marcio yonamine
:: copa do mundo

veio-me a imagem de minhas ex-namoradas formando uma barreira enquanto me preparo para chutar uma folha seca no ângulo. depois ocorrou-me pensar em quem teria feito a falta, se tinha sido expulsa ou não e se haveria algum tipo de impedimento.

05 julho 2006

:: parachutes.radio.station.01


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1. both sides of the gun - ben harper
2. it hurts see you dance so well - the pippetes
3. croocked teeth - death cab for cutie
4. 11.33 - the gift
5. cash machine - hard-fi

04 julho 2006

:: tereza

não fazes telhados de tuas metáforas, mas elas podiam te abrigar das chuvas.
:: esboço #01

Chris. Os movimentos de diafragma de Michel são inconstantes. O seu colo não é confortável e o amor é azul escuro como os buracos dessa cidade. Ele conhece alguns atalhos. Se estivesse aqui. Ele está. A Chris não sabe se acomodar em mim. Prefere o colo ao meu peito e ombros. Lembro-me dela sentada do lado da janela, o preferido. Não era a janela. Falei para ele que não era por causa da janela. Mas por essa sensação de que me sentir com dificuldades de sair de um lugar. Chris sempre foi para onde sempre quis. Ela foi atrás de mim com determinação e habilidade. Mas não sabia se acomodar em mim. Faz alguns meses que ele se foi. Michel disse adeus como se descesse do ônibus.

Eu sinto falta dela fingindo da janela que já fui. Ele me assusta quando o seu diafragma pára com uma respiração mais lenta.

Mika, seus olhos estão salinos e saudosos. Nosso itinerário está sendo desfeito enquanto chegamos. Não tenho coragem de virar meu rosto para encontrar o seu. Sinto sua falta na periferia dos meus olhos enquanto observo a cidade através da janela. Mas, Chirs, eu fingia muito bem estar prestando atenção nas ruas quando suas ruas eram o que me guiava. A minha respiração lenta não chamou sua atenção.

Chamou sim.
:: casamento

eu te pedi em casamento e fizeste desdém.
saibas que já fui pedido! só não lembro quem...