a million parachutes

for us

24 dezembro 2005

:: encerramento

véspera de natal. hoje faz 3 anos desse lugar. vou guardar as melhores coisas. quem quiser me visitar na casa nova, faz assim:

http://acasainvisivel.blogspot.com

havia tanto mais para escrever, ah, se havia. mas os ciclos são assim. agradeço o leitor a fidelidade. espero ter correspondido bem. quis bem fazer um post melhor, mas a vida chama e ela diz que melhor é sempre.

márcio

20 dezembro 2005

:: tsuru.48

a chuva que derrete o papel é a chuva que faz crescer as árvores.
a chuva que lava o corpo é a chuva com a qual se faz a lama.
a chuva que refrata a luz que atravessa a janela é a razão para que tenha janelas.
:: correio!

acabei de mandar pelo correio os zines. já peço desculpas pelos erros de português e a dificuldade em prensar. vou procurar uma gráfica expressa melhor e espero que o próximo número seja mais cuidadoso.

aos que assinaram, quando receber, por favor, comunique-me para eu dar ok na minha lista. caso tenham assinado, mas não receberam até meados do mês de janeiro, mande-me um email para reiterar o endereço.

espero que gostem!

19 dezembro 2005

:: tsuru.47

a reconfiguração da noite depende muito mais de seus sins do que das nuvens.
:: parachutes.zine.02



está pronto, só falta imprimir a quantidade certa. por isso esta é a última chamada para receber o zine. quem quiser receber em casa é só mandar o endereço para:

marcioyonamine@yahoo.com.br


a minha nova casa é:



lá não será como o parachutes. vai ser um laboratório para textos com mais fôlego. vou postar fotos e vídeos que possam me ajudar a criar os personagens, climas e lugares. pode ser aborrecido para quem acompanhava as miudezas do parachutes. mas pode ser divertido também.

14 dezembro 2005

:: big bill broonzy

antes de big bill broonzy apresentar ao blues a guitarra elétrica, quando criança já fazia das suas demonices.

ao ver que seu violino partira-se com uma queda, broonzy resolveu construir outro. pegou uma caixa de sapatos, deu forma e na hora de lhe arrumar as cordas, vendo o formato do novo instrumento, perguntou-se por que só 4 cordas. não encontrando uma resposta muito lúdica a sua razão de criança, broonzy deu-lhe mais 3, totalizando 7 cordas.

anos mais tarde, broonzy teria esse pensamento, antes de terminar o whisky falsificado, ir para casa e deitar-se com a mulher: "não me faltava cordas, me sobravam notas. não, não. achei que com mais cordas eu acharia as notas escondidas dos blues. e eu as encontrando, era a vez delas me encontrarem."

12 dezembro 2005

ana,

mais um ano chega ao fim. com este dia 15 que se aproxima, serão 2 anos que nossos palavreados se encontraram. faço um esforço para disfarçar a memória ruim e não cometer gafes sobre palavras que disse e não lembro ou palavras que nunca foram ditas mas me soam escritas.

nesta terra vasta não sobrou muito do nosso jardim e também alikan deve ter feito família em outro lugar. eu imaginava seu rio de janeiro um pouco bossa-nova e fazia contraste com a minha são paulo tão cheia de vícios e medos. eu sonhava com são paulo com outras caras. mas quem multiplica as almas não é o espaço e sim, o tempo.

já havia combinado com o feirante dos pistaches que lhe guardasse algum. mas ana querida, nos desencontramos. confesso que fiquei um pouco triste de não tê-la visto porque tenho essa mania de olhar. mas o feirante, assim como eu, sempre tem pistaches. os plantadores dessa iguaria nem imaginam o quanto de esperança alguns grãos podem significar.

eu ando um pouco perdido. umas vezes tenho impressão de que estou adiando a minha vida. outras é que ela já está acontecendo e só falta saber disso. tenho estado preocupado com a minha saúde e já me propus algumas atividades que tanto fazem bem à alma quanto ao corpo. penso em escrever algo com mais fôlego. ou fazer um mestrado. ou ter aulas de trompete. ou qualquer coisa que me mantenha com essa sensação de lúdico como quando escrevo para você.

mande-me relatos, fotos e notícias. sei que sua solidão é nuvem que apesar de constante, liquefaz-se em chuva e trovoada às vezes. agasalhe-se. falaram-me do frio. não quero que se adoente, principalmente quando a primavera chegar. mande-me postais da primavera que lembrarei bem.

beijos,

márcio
:: memória

estou escaneando algumas fotos antigas. algumas brisas memoriais atravessam a roupa molhada dos meus pensamentos. vou me lembrando de alguns detalhes e tento, com a boa intenção da imparcialidade, montar fragmentos das coisas que foram e aconteceram. há algum tempo, com a metódica eficácia de minha mente, consigo organizar algumas coisas. mas nisso há um porém: lembro-me que aconteceu, mas não consigo trazer para mim os sentimentos que habitavam meu olho durante aquela chapa.

o mesmo vejo em alguns posts que me soam registros bonitos, mas impessoais.

quase não me vejo nas fotos. nunca tive preocupação em ser registrado. problemas práticos e de auto-estima. a minha imagem está perdida em detalhes: a capa da máquina fotográfica, o olhar surpreso do fotografado e a reclamação do horário impróprio.

e isso talvez isso tenha agravado essa sensação de não lembrar além dos registros. é como se sobre o papel a tinta ou a prata tivessem registrado, mas a epiderme, a pele mais profundo, não.

11 dezembro 2005

:: querida wendy

"as mulheres gostam das palavras, mas as esquecem facilmente."
:: portugal

fernando pessoa morreu em 30 de novembro de 1935. com os 70 anos de morte, sua obra tornou-se de domínio público. acabei de ler no jornal que portugal é o povo em que há mais poetas por habitantes. muitos pessoas em muitas facetas. respira-se o gás carbônico emitido por poetas e a vegetação absorve esse ar e faz fotossíntese que deixa o solo ainda mais poético. e esse pó, para onde foi pessoa e para onde todos nós vamos, é a rima final e o primeiro verso.

mas a língua, ah, essa não se sabe onde se meterá. como boa terra de lamentos e alegrias, a língua é a alma penada que nos assombra com generosidade.

09 dezembro 2005

:: viridiana

eu estava em pé no metrô, com uma das mãos de apoio em cima, quando uma moça pegou na minha mão livre e ficou segurando. olhei para ela esperando que me perguntasse algo, mas ficou assim de cabeça baixa. olhei para os lados para ver se eu tinha perdido alguma coisa.

ela tinha cabelos lisos e leves, vermelhos e presos. uma tez bastante pálida. carregava uma bolsa pequena e usava uma blusinha com dizeres anarquicos. eu ia perguntar se estava tudo bem. então ela apertou mais forte, deixou seu rosto sobre minha mão e pude perceber pela ofegação e pela umidade que chorava ou havia chorado.

passei a mão em sua cabeça. enrosquei meus dedos em seus cabelos. ela percebeu a minha falta de destreza e senti um pequeno riso.

cheguei a minha estação. ela beijou minha mão e largou, não me olhou. saí como se nada tivesse acontecido. pensei em me virar e olhar através da janela. mas segui o meu caminho.

nas minhas mãos senti a história dessa cidade. o beijo que se perdeu na primeira pia de banheiro. o afago que desfaz o cabelo caro. e o toque deixa dois estranhos menos sós.

08 dezembro 2005

:: caro leitor,

24 deste mês se encerra mais um ciclo em minha vida. fecharei o parachutes pensando que está nos melhores dos fôlegos. evitarei assim uma fase de declínio e decadência que muitas vezes ameaçaram esse humilde blog. mas você, caro leitor, foi quem salvou essa empresa da ruína.

das vezes que pensei em desistir, foi você, caro leitor, fiel e amigo, que me fez voltar atrás. sempre me foi muito angustiante escrever para ninguém. mas sei que há pessoas que costumeiramente visitam esse espaço. a essas pessoas dedico a minha eterna gratidão e disponibilidade para qualquer tipo de ajuda.

sei que não foi fácil aguentar meus temperamentos e muitas coisas bobas escritas. mas as coisas boas fizeram algum sentido. vejo em pequenas atitudes como comentários de apoio ou emails de protesto ou gratidão. confesso que deixei as mais profundas palavras de minha alma nesse blog e a quem pode contemplá-las de alguma forma, receba meu agradecimento. senti-me menos só muitas vezes e continuei em cada palavra que ecoava das minhas. esta fidelidade e prontidão levarei comigo e me tornarei muito mais doce.

sei que muitos quase não se manifestaram, mas me foram companheiros mesmo quando não podiam. a vocês dedico o meu amor de palavreiro e a vocês digo que a palavra é a substância etérea de minha alma. nunca os esquecerei porque essa sensação de companheirismo vai comigo. obrigado, muito obrigado.

peço que vocês também tentem viver a vida da melhor forma possível. evitem a traição, principalmente contra si mesmos. o que nos resta à alma é um pouco dignidade. e espero, do fundo do meu coração, que eu tenha sido digno da atenção dada.

com amor,

márcio

07 dezembro 2005

:: enquanto você dormia

enquanto você dormia, veio-me essa vontade boba de ouvir com atenção sua respiração. inspirei forte e segurei. pude ouvir com detalhes o seu diafragma se movendo, o ar atravessando a garganta e tornando o nariz. você se virou de costas para mim e notei que sua respiração tinha outro tom. pude ver suas costelas se desviando para acomodar o pulmão que se avolumava para se desfazer em suspiros.

então você acordou sobressaltada, um pouco sem saber por quê. e disse que tinha perdido o fio do sono porque não sentia o ritmo da minha respiração.

06 dezembro 2005

:: por perto

"num velho disco a vida se desfaz
em poucos minutos.
para onde aquele tempo te levou
também vou"

pato fu
:: fim de tarde

acredito, no mais intimo profundo de minha alma, que o amor pode não vencer e que eu posso não ter a sorte de encontrar alguém. mas também me é intimo e profundo que as almas se enganem e em desenganos possam, como por sorte, se encontrarem.

assim como a tarde da qual e para onde refugimos.

04 dezembro 2005

:: girassol

das muitas pétalas que se abriram,
o girassol tendeu-se em direção a uma:
o feixe de aurea da manhã.

02 dezembro 2005

:: ligia

o que sei sobre ligia é que há alguma escuridão atrás de seus olhos claros.
e que a espiral de seus cabelos não dá no coração.
:: tsuru.46

quando as meias tem a cor dos tapetes quase acreditamos que estamos em casa.
:: segunda chamada

está quase pronta a edição impressa do zine parachutes. devo postar no correio antes do natal. quem quiser assinar é só mandar o endereço (rua, avenida, cep, cidade, país, fronteira, planeta) para o email:



o zine é mensal, será um ensaio para outras coisas e continuará de certa forma o parachutes -- este humilde blog -- que encerrará suas atividades em 24 de dezembro.

digrátis.



:: alessandra

sonhei há pouco com alessandra. vim correndo anotar sua visita antes que me escapasse mais uma vez da memória. antes que desaparecesse da minha vida e perdesse algum sentido possível.

lembro-me de seu nome com facilidade porque foi o primeiro que tive o prazer de articular em minha boca. eu não utilizava o recurso dos apelidos fáceis. sempre quis tê-la exata em minha boca: alessandra.

conheci-a no ensino fundamental. tornamo-nos amigos próximos. ela tinha um riso falho que se perdia no respirar, quase gonzo. tinha olhos ageis e dedos longos. tinha-me carinho, dividia a ana-maria recheada. mas no quarto ano, mudou-se para outra escola. a conveniência não é um conceito muito fácil para uma criança. assim como a saudade.

encontrei-a uma outra vez anos mais tarde. andava de bicicleta. passou e não me viu. os cabelos ainda eram de um negro intenso. não era mais menina, mas reconheci fácil o sorriso e quase pude ouvir sua risada tosca.

e ela se perderá nas minhas memórias. talvez nem a reconheça mais na rua. cada ano, é uma rua nova, uma cidade nova quase irreconhecível. natural que seja assim.

mas sonhos assim, para que são? alessandra está indo embora. deixou a porta aberta. a chuva recomeça e penso se estará agasalhada. mas não me lembro de nenhum agasalho seu.

01 dezembro 2005

:: afinando a caixa de fósforo

ah, o samba. amor-perfeito o caralho, eu quero amor de chinelos trocados e gastos -- tudo para economizar sandálias para o samba. josué! me traz mais maria-mole um pouco de cú-de-burro para aliviar a quentura dessa cerveja genérica. pandeiro é pele. batuque tom-tom. coração. a língua é corda de cavaquinho afinado a partir dos sete cordas. se você errar, repita o refrão. porque amor afinado em caixa de fósforo é partido alto. é para voltar e cantar de novo e improvisado.

amor, coloca as sandálias.