a million parachutes

for us

31 outubro 2005

:: tsuru.33

a sua graça é como o blues: está entre as notas do cravo temperado, imprecisa e deslizante.
:: amar

e tem essa fotografia.

na janela ao fundo, há o mar azul e tempestuoso, com suas ondas espumantes. em primeiro plano, o seu rosto perdendo-se em um horizonte que não posso ver. penso na falta de veracidade dessa foto, já que o contra-luz não atrapalha que eu veja seu rosto. nunca mais vi seus olhos assim. me faz lembrar um tempo que em nós dóis éramos românticos, sabe? um tempo em que acreditávamos muito mais na grande fatalidade humana do amor do que em nós mesmos. para mim, seus olhos não eram seus... eram do amor. as minhas cartas não eram minhas. eram do amor. ah, como você amava o amor. e mesmo que você nem se lembre dessa foto -- eu mesmo não me lembro se foi eu quem tirou -- saberá também que fatais nunca fomos a não ser para nós mesmos.

e tem esse modo obliquo com que tento explicar os seus presságios.

sempre tive na ponta da língua -- além da sua -- a palavra certa para lhe dar segurança. você achava bom acreditar que nós venceríamos no escudo certo que era o amor. você comprava flores e eu escrevia poemas. você me falava da alvorada e eu te complentava a aurora. mas a completude não suporta o real falido. e amor, como o mundo, transforma-se. você economizou a minha revelia e comprou uma casa na praia. viu que o mar é muito maior que o amor que pode ter.

e tem essa sua voz que atravessa a prata do papel e me diz que está tudo bem.

eu não tenho dinheiro para casa. mas comprei uma passagem. está junto com a fotografia duvidando de nós dois. mas ninguém sabe, nem você, que hoje vou tomar banho de mar.

30 outubro 2005

:: tsuru.32

e se você viesse com os postais de b.h.?
:: miliana

na vida vazia de sentido de miliana, só seu caderno está cheio de si mesma. em rabiscos, esboços e tentativas de correção. só em seu caderno, ela foi dona de si e soube dar tamanho, forma e cor aos seus sonhos. e apenas lá deixou que quem lhe amasse pudesse dizer.

29 outubro 2005

:: tsuru.31

-- onde eu guardo tsurus?
gaiola não pode.

-- guardar tsurus ?
os pares você guarda no coração.
os ímpares você guarda no bolso...
perto do coração.

28 outubro 2005

:: tsuru.30

as lagrimas são vidro refratário
que no fogo da alma é moldado.
se das lágrimas fizesse um copo
o que guardaria de tão amado?

(continua...)

27 outubro 2005

:: tsuru.29

hey chris, don´t wait him too long
hey chris, don´t wait him too long
tomorrow is hope, but today is a song.

:: não me olhe assim

anda nas escadas nas pontas dos pés.
ninguém vai saber se desce.
ninguém vai saber se sobe.

26 outubro 2005

:: para sentir tua respiração

a cama estava deslocada. ela ajeitou a fronha para trazer algum equilibrio. o modo com que pegou o lençol soava familiar; o cuidado em nivelar também. quis esparramar-se [ para sentir tua respiração ]. enxugou sua saliva, arrumou o cabelo [ estou com sede ], sentou-se perto da quina; alertou o despertador da hora certa e da hora errada [ você diz as horas de um jeito incomum ]. a luz mudou. quando virou-se para a janela, passou os olhos pelo armário [ para que servem caixas que não informam em suas tampas o conteúdo ?]. anoiteceu [ meu coração traz a pressa do inverno ] enquanto seus dedos timidamente mediam a solidão da cama vazia [ essa luz rarefeita nem chega a me cegar, mas imensidão é muito mais que isso ]. ameaçou levantar-se e fechar a cortina [ para sentir tua respiração ]. mas a sua mão: espera! um pouco de coragem para desafiar o inverno. quis se sentir cansada e adormecer [ se eu fechar meus olhos, talvez você encontre uma maneira nossa para abri-los ]. ela esperou que ele regressasse e não lhe ocorreu que muito provavelmente ele havia esquecido também de sua cama.[ quero só um pouco de o que pode ser meu, por favor ]. o quarto branco ficou pequeno para tanta falta de dia.

clique. sua mãe perguntou por que estava no escuro. ela respondeu com serenidade incomum que não tinha percebido por causa do cansaço[ a escuridão é uma forma de tato ], mas que já se arrumaria para sair. chá e banho [ sim, já vou ]. de um modo estranho, lembrou como ele tocava seus ombros [ se eu chorar, deixa ]. suas mãos ficaram inquietas, insatisfeitas. foi pegar uma caixa sem dizeres do armário [ esse arranhão na tampa diz que é tão viva e frágil quanto eu, que de um golpe pode ser arremessada para alguma garganta muda ou simplesmente pode ser aniquilada com as leis do perecivel ]. colocou com cuidado sobre a cama, mesmo sabendo que seu desejo era arrumar a bagunça de dentro [ você bem que poderia usar seus poderes e me encantar com as qualidades de quem tem o caos como sol ]. abriu. seu coração tocava caixa acústica de seu peito [ para sentir sua respiração ]. dentro havia bilhetes, papéis de bala, fotografias pb, [ postais, cartas, rótulo de cerveja ], cardeneta, pulseira, poema, [passagem, contra-vale, planos], perfume, elástico de cabelo, pente de barba, caneca, dicionário de palavras inventadas a dois [ amavios, amavios são o meio de transporte que me resgata desses bairros frios. são velozes como o metrô e leves como os monomotores. por que você não veio me buscar ?].

boooooooooooooooooooooooooo! levou um susto [ esse espelho deixa meus cabelos longos demais para mim ]. olhou com firmeza para sua imagem. seus olhos eram brilhantes e não era umidade. a falta foi virando saudade, assim como a tristeza foi virando sorriso. não sabia esquecer. mas também não sabia viver sem ela mesma [ ainda reservo muitos pensamentos para você porque você é quem mais amo ]. recolheu com delicadeza todos esses objetos falidos de dois e lhe deu o lugar da gaveta do meio. [ ainda que eu saiba bem dizer o que sinto, nada me fará enxergar mais do que está contido nesses desejos].

pegou uma caneta de ponta fina, fez pressão na ponta dos dedos, deixou a tinta deslizar sobre um papel para lhe dar forma de bilhete [ para sentir minha respiração ].
:: tsuru.28

o amor é questão de sorte.
é a ponta do dedo do cílio dado.

25 outubro 2005

:: tsuru.27

no caderno de anotações: encontrar novas dobras para que o pássaro cruze o oceano.

projetar dobraduras de jatos para chegar às estrelas.
:: verena

no dia em que verena partiu, pensei que ela tivesse levado minha escova de dente, meu livro do galeano e minha felicidade.

quando eu a reencontrei anos mais tarde, já não se chamava mais verena. meu sorriso desentortou só um pouco, encontrei galeano nos braços de outra mulher e a felicidade... bem, a felicidade ela tinha deixado na mesa em que rascunho a minha vida.

:: giana

na sobrancelha esquerda de giana
há uma inscrição com os seguintes dizeres:

"fecha os olhos para o encontro dos mares".

na sobrancelha direita,
uma cicatriz
aponta com sofreguidão
para o sul.

quando beijo giana,
não me atrevo abrir os olhos.
e sinto o latejar de sua cicatriz.

e quase posso me afogar.

24 outubro 2005

:: tsuru.26

o céu está cinza. mas sobre as nuvens, o sol.
assim como sobre suas olheiras: os olhos moldam seres viventes.

23 outubro 2005

:: field of dreams

"construa e eles virão".

22 outubro 2005

:: tsuru.25

claro que estou te ligando porque é seu aniversário. não que eu não ligasse se não fosse. desse jeito parece que só ligaria em dias fundamentais e isso seria um julgamento simples do que é fundamental. talvez se eu não tivesse ligado hoje, mas em outros dias e com uma freqüência boa, não soasse que eu não costumo me importar com datas e suas representações. mas o fato é que eu também não julgo o que seja um freqüência boa. não gosto muito mesmo de falar no telefone. mas isso não me dá a qualidade de um péssimo amigo que não lembra de ligar, só me dá o contorno de um.

o que estou tentando lhe dizer com certa justificativa é que sim, pensei em te ligar durante o dia inteiro. pensei nas melhores justificativas e até piadas boas para lhe falar por que ligaria em outros dias que não seu aniversário mas que ainda é estranho reservar sons e até improvisos para você, porque tempo não costuma me faltar para pensar em você. e que agora, penso que está tendo um dia bom nessa cidade cheia de faltas como a minha.

por isso, não vou me demorar. vou deixar coisas para outros dias e telefonemas. e que mesmo que não seja seu aniversário, gostaria que fossem tão bons quanto um.

21 outubro 2005

:: tsuru.24

no seu aniversário, eu te dava um beijinho de felicidades. desses em que não se acredita na hora, mas depois o gosto parece merecer.

20 outubro 2005

:: tsuru.23

na avenida do algodão,
cair no chão é deleite.
saber que do asfalto
fazemos vestidos e meias
é segundo passo para sair.
o primeiro é assistir
à avenida absorver

as lágrimas.

:: o farol festeja

hoje é aniversário dela.
os barcos que se arrisquem a costa,
porque as luzes do farol vão estar ligadas ao deus-dará.

19 outubro 2005

:: left

é primavera, mas a noite está fria. choveu agora pouco, há esse cheiro de alívio. fazia um tempo que eu não sentava e apreciava a noite. coloco o novo cd do jamie cullum. penso no anterior e naquele tempo em que estava apaixonado. quero dizer ao jamie que não deu certo, que as canções não foram suficiente para que encontrasse alguém tão disposto quanto eu. mas é um som amigo, familiar. novas histórias, sei como acabam, mas deixo que conte.

o amor não serve para mim. ninguém gosta de quem tem dois pés esquerdos.
:: tsuru.22

nessa noite acotovelei a solidão
e cantei as víceras que tinha.
mas ela me beijou uma canção:
o blues fudeu minha pinga.
:: meus olhos tristes do amor que não virá

o amor é um longo beijo de boa-noite.

18 outubro 2005

:: tsuru.21

gosto do jeito que ela faz de que não é com ela.
e esse ritmo quebrado que é respiração.
gosto quando seu gosto por mim se revela.
e diz que feitos de nuvens os seus olhos são.

17 outubro 2005

:: tsuru.20

poesia é susto de palavra torta e sentimento afiado.

16 outubro 2005

:: tsuru.19

as molas para amortecer os passos da vida é feito de algodão do céu e um tanto de controle das densidades.
:: paulo e os livros

hoje eu sei que é tão fácil fazer
coisas difíceis de consertar.
hoje eu sei que é tão fácil perder
confiança.

você tem o certo e o perfeito
eu sei... eu sei.

paulo, você não me fale de dias mais tristes
que essas coisas não tem mais lugar.
sei o que eu quero
e a felicidade escrevo um livro só para contar
que a felicidade é o seu nome.

_casino
:: hoje é dia de maria

"os remédios curam o corpo.
o que cura a alma são as histórias.
acorda, maria."

15 outubro 2005

:: eco

essas palavras chegam até a porta da sua casa,
mas não a atravessam.
:: tsuru.18

no corredor, apoiar-se nas paredes, trocar a lâmpada e esconder sobre a porta...

14 outubro 2005

:: tsuru.17

sai pelas mangas, plumas esvoaçantes. na gola, planos de vôo. desabotou o sutiã e usou como catapulta. na tecnologia da camisaria havia amor e correias dentadas. portão 21, te espero.

13 outubro 2005

:: tsuru.16

ele: bigodes feito de penas.
cinto de pedaços de livros.
ela: um brinco de grão de cacau.
batom de amores notívagos.

12 outubro 2005

:: mariana

neste dia de nossa senhora, mariana está fazendo um arranjo de flores, separando algumas velas e organizando os papéis com orações. pegou no meio de um livro um mapa estelar. ficou conservado com pétalas secas de girassol. atrás do mapa estava desenhando uma bonita cruz e instruções para que fosse esculpido em sabão.

então mariana pegou um sabão não muito caro e uma pequena faca para cortar peixe. esculpiu segundo o indicado. tomou um banho demorado e se vestiu para sair. na rua, ouvia-se canções em passos, pedras, pipas e carros. ladainhas, mariana sabia dizer.

mariana acendeu uma vela, mas não pediu nada.

11 outubro 2005

:: tsuru.15

o silêncio que fala.
a fala que silencia.
a palavra é uma bala
chupamos em delicia.
:: chama

muitas pessoas me contaram nestes termos, mas lembro-me das palavras de ligia: há algo na alma que é parecido com uma chama. queima com violência e ilumina os que estão em volta mesmo que a si mesmo não consiga libertar. e se apaga como é a natureza das chamas.

e lembro também de ligia, sentada e triste, olhando para seus pés e depois para seus dedos e depois tocando seu rosto e fazendo fechar seus olhos e desarrumando timidamente o cabelo, esperando que sua chama se apagasse. deixava cair os braços em seu ventre, tombava de lado e deitava. ela esperava que soprassem e que virasse apenas gás carbônico.

hoje penso na minha chama e o quanto é rarefeito o ar que a alimenta. penso em ligia e na chama que não se extinguiu. penso se é essa a melhor figura de linguagem para falar do que fazia ligia uma pessoa tão especial. poderia falar de tempestades, estações do ano, do sol e das cidades. não sei. sou um todo não sei e não importa se estou aceso ou não.

mas toda vez que adoeço, meço a minha temperatura e é ligia que me deixa febril.

10 outubro 2005

:: tsuru.14

o céu é imenso assim como seu sorriso.
mas o solo é que se planta os desejos.
e é lá onde as sombras nos contam histórias.

09 outubro 2005

:: tsuru.13

chocolate com amendoas e café.
pão e o recheio que quiser.

08 outubro 2005

:: tsuru.12

quando o céu está bonito, é pecado você não estar também.

07 outubro 2005

:: agenda reloaded

+ 22 de setembro - maria bethânia
+ 23 de setembro - los hermanos

+ 25 de outubro - kings of leon, strokes, mundo livre s.a. e arcade fire
+ 23 de novembro - madeleine peyroux
+ 25 de novembro - pato fu
+ 26 de novembro - sonic youth, flaming lips, iggy pop, nin e nação zumbi
+ 2 de dezembro - pearl jam
:: girassol

para renata

ontem ganhei um girassol.
que bonito é o meu girassol.
quase posso acreditar que gira
e quase posso me aquecer o sol.
que bonito é o girassol.

:: tsuru.11

não perca sua carteira. guarde um tanto de mente sã paras as engrenagens da vida concreta. as engenhocas da vida sonhada são imperfeitas (sonhando ser perfeitas), mas a física do mundo concreto não perdoa.

06 outubro 2005

:: *

tem uma estrelinha (*) que fala comigo.
tsuru.10

ter a vida de pouco bons excessos.
velocidade para chegar mais cedo
e surpreender quem espera.
ana,

já faz um tempo que não lhe escrevo, esperava envelhecer algumas notícias para já lhe enviar maduras e embaladas em jornal de hoje para você saber o quanto estavam maduras. e tenho até novidades, mas nada que mereça tanto sua atenção ou ser embrulhada com qualquer papel que seja.

recebi com alegria suas fotos: o farol, o mar, o campo de golfe, londres, glasgow, suas meias e seu cigarro aceso. também me prendeu a curiosidade uma máquina de lavar, muito mais pela localização na casa do que por ser um eletrodoméstico de aparência tão diferente para esses meus olhos que não conhecem o antigo.

tem dias que de tarde me bate uma saudade que parece susto. de repente me pergunto se ana estará bem, se sua solidão ainda lhe diz sensatez ou se já deixou que os insensatos a resignarem. se está com frio, se lhe aborrece os dias iguais. se presta atenção no relacionamento do farol e das naves. se esta comendo bem ou se pensa em mim.

na correria dos meus dias, uma doença estranha tem me aborrecido. sigo amando e desamando. embora não tenha tido muito ânimo para as coisas que me fizeram o que sou . cansei de mim e as pessoas também cansaram.

sonhos, ana, de que são feitos? não sei mantê-los em mim. eles me dizem adeus.

mas de nós dóis, tenho essa aventura de encontrá-la em tóquio, mesmo que possa desencontrar depois.

saudades

márcio

05 outubro 2005

:: tsuru.09

e se venta tanto pode ser que leve os cortinados do varal.
mas também pode ser que faça secar mais rápido.

:: to be or not to be

tem alguém que me leva a sério aqui?
:: pantufas

esperança é deixar as pantufas secarem de noite, mesmo que a tevê diga que vai chover.

04 outubro 2005

:: tsuru.08

tomar banho de estrelas cadentes.
enxugar-se com manto da noite.
escovar os dentes com raios da alvorada.
sonhar com a esperança da supernova.

03 outubro 2005

:: tsuru.07

bonito é o teu coração dizer que é animal alado e imaginário.
o amor é o teu coração ter uma boca assim.

02 outubro 2005

:: lucy

ela dormiu no banco de passageiro. eu não sei dirigir.
e eu fiquei horas pensando se ela ia rir.
:: tristesse

tristeza, te convidaram para uma república nova.
fiz tuas malas, arrumei tuas coisas. vai embora.
vai embora porque não quero mais te amar.
:: tsuru.06

que se invente o mar entre suas tripas.
:: parachutes.tv

página temporária do parachute.tv enquanto arranjo um servidor novo.. dois vídeos novos (ou quase).



precisa ter o internet explorer e o windows media player...

01 outubro 2005

:: tsuru #05

em dias frios, faça fogueira com aquelas memórias que não importam mais.