a million parachutes

for us

28 fevereiro 2005

:: cartas

tenho sobre a mesa duas cartas que não foram enviadas a seus destinatários. estão comigo porque seus remetentes não tiveram a coragem de enviar e acharam que talvez fizesse sentido para mim que sou curioso com essas coisas epistolares. leio com atenção, tento compreender seus detalhes, interpreto rabiscos e a falta de cuidado em certas partes.

envio todas as minhas cartas, só alguns esboços evito porque ainda os vejo como esboços.

são duas cartas de despedidas, mas não necessariamente que anseiam isso. a primeiro fala sobre a falta e a saudade; a segunda retoma a idéia de círculo em que compara a memória recente com a memória mais passada. vejo muita mágoas em ambas, sofrimentos e memória. vejo pouca invenção ou esperança real. a dor é a coisa mais real que vejo nessas linhas.

as minhas cartas já foram assim. já tiveram essa finalidade de aliviar a dor como analgésicos. talvez, ainda tenham um pouco essa finalidade. mas como me proponho sempre a enviá-las, sei que se comportarão como diálogos. a dificuldade é encontrar a linha tensa entre o que deseja falar/ouvir e como esse discurso refratará no meu destinatário. no caso das cartas em minha mesa, percebo que os destinátrios são mais os seus próprios remetentes. um jeito de projetar seus próprios desejos já que a realidade os repudia de forma tão convicta.

o que farei com ambas? pensei em me basear para escrever textos, transformá-las e dar uma dimensão diferente. algum tempo atrás talvez fosse a forma mais digna de saber suas existências.

mas só dessa vez, acho, que vou enviá-las: para os seus destinatários e para seus remetentes.
:: bad day

me disse adeus e se foi...
nem deixou que me despedisse
e que assim finalizasse de vez esse dia ruim.

27 fevereiro 2005

::vazio

o meu braço tomba na mesa.
os meus olhos teimam a se fechar.
já não olho para o horizonte
para mim, ele está cada vez mais alto.
os meus pés se arrastam
a vida pequena que já não me satisfaz.
não me abaixo, porque os joelhos doem.
uma dor lasciva no peito.

minha vida caminha para um vazio
e o que me importa o vazio
se nem sei até lá chegarei?
:: flases amorosos #03

fotografias da cidade de salvador num livro panorâmico. ela legendando. saudades de um lugar que fui apenas através dos olhos dela.

:: love

querida, coloquei sua foto em minha parede e fiz uma janela.

26 fevereiro 2005

:: flashes amorosos #02

tirando com o dedo um cabelo da boca dela.
:: blood

esse sangue que me tiraram, não me faz falta.

fará?

25 fevereiro 2005

:: palavra

te beijo a boca e viro poeta.
:: news

um chá de erva cidreira. biscoitos de mel e aveia. paranoid android e um livro de contos da lygia fagundes telles. minha mão treme um pouco e uma dor pincel no peito. lembranças pipocas de amigos e de amores. o cabelo maltratado e a mão sempre aquecida. penso nas palhetas que comprei hoje de manhã e nas dificuldades do dia.

conheci ronei jorge e seus ladrões de bicicletas. som bom. o ep tem um cachorrinho na capa. ele dorme sem que ninguém possa incomodá-lo. estou cansado eu também. mas insisto em viajar em desejos. ligam a tevê e espero virar uma notícia boa de alguém.

24 fevereiro 2005

:: marca-páginas

se você olhar de longe, pode achar que são dois objetos diferentes. mas esse marcador de página é formado por duas peças. em uma está pendurada uma lua; na outra, uma estrela.

o de estrelas uso para marcar as páginas de histórias que leio. o de lua, para o caderno que conto.

o marca páginas é um portal: de um lado eu mergulho em mundos alheios; de outro, mergulho em mim mesmo. até não saber quem me contém ou quem contenho. até não saber mais se sou eu quem conta ou sou eu quem é contado.

se ela me ama ou se é ela quem é amada.

23 fevereiro 2005

:: nivão

beira . says: nivão!
cabelo bicolor says: meu querido?
. beira . says: tudo bem?
cabelo bicolor says: tudo! vamos nos ver no dia 05?
. beira . says: não sei se poderei ir.
cabelo bicolor says: cuzão!
. beira . says: hahahaahahaaha

p.s. conversa editada, mas basicamente foi isso.
:: médico

este suor frio não é sangue.
:: ficção cientifica

às vezes sinto que há tanto no mundo que é necessário explorar novos planetas para colonizar.
:: beira _ ludov

eu me encantei num verdadeiro amor
e tive tudo aos meus pés
trouxe o mar aqui para te beijar amor
parei o tempo só para viver
eternamente ao lado teu
colhendo risos da manhã
pois foi assim sempre manhã
em mim.

fiz do teu olhar o meu espelho a luz
sempre brilhante em nós dois
e o teu olhar foi o veneno então
quando lembrei dizer
eu quero é mais
e o mundo se desmorou
e éramos sós a perceber
a solidão multiplicar
por não em si.

não queria entender
todas as vezes que me joguei
sobre marolas de amor
não queria esquecer
então virava deus em nós dóis
vingando(?) sempre a mim
determinando o fim
enquanto o mundo virou nosso
que o tempo fez ao nos deixar
levando luz a escuridão
iluminando o proibido
trazendo a tona os teus segredos
e destruindo a paixão
de então.

eu que só queria um verdadeiro amor
e tive tudo aos meus pés.

22 fevereiro 2005

:: 37

meus pés cabem nos seus.
:: olhos vermelhos

eles não dizem nada.
:: ventania

às vezes tenho vontade de ser levado pelo vento. despedaçar-me no atrito com os prédios. passar pelo cabelo da menina e sussurrar desventuras. e acabar em ressaca, estirado em pedras que chamarei de coração.
:: she´s not anyone

Não consigo dormir. Tenho uma mulher atravessada entre minhas pálpebras. Se pudesse, diria a ela que fosse embora; mas tenho uma mulher atravessada em minha garganta.

galeano

21 fevereiro 2005

:: nariz

meu nariz voltou a sangrar hoje. não sei o que me acontece... talvez mudança abrupta de temperatura e umidadade. talvez algo querendo me dizer que não sou de ferro...
:: flashs amorosos #01

agora me ocorreu as costas dela encostadas a minha, enquanto falavamos das nossas diferenças culturais assistindo águas dançantes.

20 fevereiro 2005

:: finding neverland

acredite em fadas.
você não quer correr o risco que alguma delas morra só porque você não quis acreditar, né?
:: foi um rio que passou em minha vida e meu coração se deixou levar

"que a vida não é isso que se vê... é um pouco mais."

show do paulinho da viola no sesc. maravilhoso!
:: quadrilha

as pessoas amam umas, mas namoram outras.
ana,

tem sido uma semana intensa, ana querida, e ao contrário do que costumo fazer, deixei-me levar. corri o risco de não anotar muita coisa e esquecer fatos importantes -- minha memória imediata se perde em sonhos e ilusões -- em prol de viver o momento como está sendo. vejo nessa atitude um pouco de você.

compreendo melhor, acho, esse sentimento de liberdade ou de pretensão de liberdade. não sou uma pessoa livre, eu mesmo me dou comprometimentos. não mudarei muito, porque gosto de ter laços. sou medroso, preciso de terra firme. mas um pouco de mar não faz mal a ninguém. e de vez enquando acho que sair por aí não me fará mal. vou te visitar o mais breve possível.

falava sobre o quanto anda doce, ana. acho que eu também posso me adocicar um pouco. quanto aos seus cajus, vou dar utilidade as castanhas e comê-las todas!

márcio
:: nova Ilusão _ paulinho da viola

és dos teus olhos a luz
que ilumina e conduz
minha nova ilusão
é nos teus olhos que eu vejo
o amor e o desejo
do meu coração...
és um poema na terra
uma estrela no céu
um tesouro no mar
és tanta felicidade
que nem a metade
eu consigo exaltar...

se um beija-flor descobrisse
a doçura e a meiguice
que teus lábios tem
jamais roçaria, as asas brejeiras
por entre roseiras
que são de ninguém...
oh, dona do sonho,
ilusão concebida
surpresa que a vida,
me fez das mulheres,
há no meu coração
uma flor em botão,
que abrirá se quisesse.

p.s. aquecimento para o paulinho da viola.

18 fevereiro 2005

:: tristeza

felicidade tem fim.
:: se

e se as minhas mãos não tocarem sua nuca,
e as chuvas se anteciparem,
e o museu estiver fechado,
e a peça for ruim,

e se as ruas estiverem muito cheias,
e se as fotos não ficarem boas,
e as noites não tiverem estrelas,
e se você morar muito longe,

e se os discos não forem tão bons,
e as comidas nem forem tão saborosas,
e se nem gostar tanto assim das avenidas,
e as coisas que me dão identidade,

mesmo assim quero que fique,
incondicionalmente ao que deixei de ser.
:: you don't know how lovely you are

mãe. ela quer ser mãe. mas não sabe se será boa. não sabe se será mais filha que mãe para seus filhos. talvez muitas filhas não soubessem como se seriam boas mães até o momento que se tornaram uma. o seu filho é um duplo: um pedaço dela que não é. mãe: o filho a chamará por esse som. e ela perceberá que é uma declaração.

e ela não sabe o quanto amorosa é. não sabe que em seus olhos brotam amorosidades. seu filho terá do bom e mal amor, mas nunca faltará a ele essa vigília que torna filhas em mães e que só as mães tem a arte de fazer.

17 fevereiro 2005

:: book of dreams #02



levanto o braço direito como quem quer tapar o sol no rosto.
levanto o esquerdo como quem sinaliza o tamanho do mundo.

não tenho asas, mas digo que sei como voar.

aí você chega perto
e vou fechando os braços sobre seu pescoço.
(as pontas dos pés escalam estratosferas).
e quando perceber,
as palmas das minhas mãos já se encontraram em suas costas.

minha cabeça inclinada em seu ombro é um sol.
e seu corpo envolto por meus braços é um mundo.
:: de hoje a 8

semana intensa. deixei me levar. vontade de nadar a favor e contra. mas deixei me levar. talvez não tenha feito tudo que pudesse, mas torço por outras cheias, semanas. vou sentar na beira do rio e pensar no que me aconteceu. se quase morri ou foi apenas vida para secar no varal.
:: querida

há mtas coisas para dizer da estadia dela aqui na minha cidade. mas por enquanto, apenas digo que ela me reiventa órbitas e deixo de saber o que dizer.
:: sacada

da sacada, espero um nascer do sol que não virá.
:: paulicéia city

eu sou a cidade. mas não sou são paulo...
:: desencontros

na paisagem, vejo duas janelas sendo ligadas - penso se são duas pessoas que voltaram do mesmo encontro. depois uma dezena de outras janelas tb são ligadas.

sorrio, mas pela velocidade em que são logo depois apagadas, penso se não foram apenas desencontros.
:: madrugada

o vento frio vem do leste. eu lhe digo: me leva.
:: despertadores

há um horário -- entre a madrugada curta e a manhã ainda desprovida -- em que, se você prestar bem atenção, os despertadores tocam como em coro. todos os tipos: sinos, rádio, alarmes, eletrônicos, galos.

e dentro da desorganização há uma música que não fala dessa hora, mas de outras que estão por vir.

é a hora mágica da cidade.

15 fevereiro 2005

:: querida

tanto para dizer sobre ela... me faltam palavras, me sobram impressões.

me sobram desejos.
:: caixa azul

dormi sobre, tentando sonhar. tentando trazer para dentro da cabeça as coisas contidas na caixa azul. bobagem: as coisas da caixa azul estão dentro do meu coração. e hoje, o meu coração é o mundo.

14 fevereiro 2005

torcida

querida, boa sorte!

:: serviço _ show

ludov + wonkavision

19 de fevereiro
19h no centro cultural são paulo (r. vergueiro, 100 - ao lado do metrô vergueiro)
preço: 10 , 5 a meia.

para quem não é paulicéia city, transmissão ao vivo do show pela web radio do centro cultural são paulo:

http://www.centrocultural.sp.gov.br

13 fevereiro 2005

:: encontro

ela tem caras e bocas. segura a frase no final com ares de indiferença, mas sorri depois e se sabota. ela tem uns olhos de densidades diversas que se transmutam de acordo com a febre ou o humor. ela está atenta ao ambiente. muitas coisas passam em sua cabeça. estando eu em frente a ela, será que pensa em mim ?

12 fevereiro 2005

:: book of dreams



amarra!

não sei o quanto de nó é necessário
para que os pés fiquem no chão.
finquem.
criem raízes.

não sei se são os cadarços,
estes restos de raízes,
ou o coração,
este resto que é necessário,
que me leva...


não amarra!
ama!
ama.

11 fevereiro 2005

:: alumbramentos

um blog novo. a tereza e a renata alumbraram-se. eu ajudo.

http://www.alumbramentos.tk
:: liza

não esqueci. não te esqueço.
é importante. sempre foi.

10 fevereiro 2005

:: kriptonita

"eu tenho um mundo inteiro para salvar
e pensar em você é kriptonita"



:: dani

ela desenhava os vestidos. sua vó os costurava. era um pacto simples. ela não rebuscava os desenhos, mas tinha suas pequenas ousadias. sua vó encontrava tempo entre muitas encomendas e sugeria extravagâncias.

faz um tempo que sua vó se foi. mas ela continua desenhando. pensa se aprenderá a costurar, se lhe compete tal empresa tão delicada. mal sabe ela que linhas, quaisquer linhas, são a menor distância entre dois pontos.
:: quarta-feira de cinzas

o carnaval acabou. tive um dia bom. tive a notícia de que continuarei no meu trabalho e posso levar meus outros projetos. um alívio para outros planos desse ano. comprei ingressos para o show do paulinho da viola. mais tarde soube que passei na fuvest! farei letras esse ano. mais tarde eu vi a portela escapar do rebaixamento... ah, paulinho, terá que tocar "foi um rio que passou na minha vida"... e para acabar a noite, assisti a uma virada histórica do tricolar paulista em cima do são caetano. acho que a quarta-feiras de cinzas começou ontem ao conhecer a danny (nhá) e hoje ainda encontrei a vandreza, por acaso, nas ruas de são paulo. agora pouco tive uma notícia ótima de pessoa que chega...

que venham outros carnavais !

08 fevereiro 2005

:: carnaval #02

a porta-bandeiras volta de metrô para casa. na grande sacola, parte do vestido que usou na avenida. nos cabelos, uma lembrança, uma presilha banhada a gliter.

vai ser sua bandeira para o resto do ano.

07 fevereiro 2005

:: garota interrompida

você pinta as unhas e ela diz que não está morta. é um santo esmalte!
:: aliche!

-- aliche!

-- mas você nem quer saber o que o mundo fará se for tão mal, não é, baby? porque não se deve causar desejo se vai despachá-lo depois. não há maldado maior, minha mãe diria se ela estivesse vive e se ela tivesse uma vida menos moralista para se poder falar dos toques do corpo. e se você me abandonar, assim, como a um jornal já lido e relido, terá notícias minhas e serão boas, mas nenhuma em relação a você. porque eu sei escolher macarrão, sopas, condimentos. sei o tempo das chuvas, do cozimento e de uma boa foda. você podia ao menos reconhecer que eu sei preparar o melhor pudim que há no bairro.

-- aliche!

-- mas se você me abandonar mesmo, vou ficar com aquela sua mala grande para colocar as coisas que me deu. farei questão de não devolver nada. nadica de nada. o que der para pendurar, penduro na garagem. o que der para usar de pano de chão, limpo o banheiro. o que der para comer, dou para os cães da rua. o resto você pode levar porque provavelmente não me interessará. o chuveiro fica comigo, mas serei bondosa, pode ficar com as cortinas e os lençóis. fique também com os cd´s. eu aprendi a fazer mp3 e nem preciso mais deles. é muito mais fácil deletar mp3´s.

-- aliche!

-- e se você quiser voltar, devo confessar que pensarei no assunto. não que você mereça, mas é que tenho que considerar os tempos bons que tivémos. mesmo que você tenha um mal gosto para pizzas e sanduíches e não dê valor para o chope escuro. mesmo que você insista em ler a chata da virginia woolf e não aprecie o cool jazz. mesmo que chame de samba essa musiquinha de criança que fez para mim. mesmo que você não tenha noção nenhuma de enquadramento e ache que furos no roteiro sejam apenas buracos negros filosóficos. ah, você me ama, não? deve amar... ama tanta coisa...

-- aliche...

-- ok, ok... meia aliche, meia portuguesa.

06 fevereiro 2005

:: sobre alfinetes e corações

a cada traço, uma imagem querendo nascer. se sonho que traço, não é só linha, curva, borracha. é também viagem-sentimento. quem me leva? meus sonhos-traços ou as linhas da realidade que invento? o coração é que nem um balão: estoura a alfinetadas. mas você não conhece meus alfinetes...
:: true love waits _ radiohead

i'll drown my beliefs
to have you be in peace
i'll dress like your niece
and wash your swollen feet

just don't leave
don't leave

i'm not living
Iim just killing time
your tiny hands
your crazy kitten smile

just, don't leave
don't leave

and true love waits
in haunted attics
and true love lives
on lollipops and crisps

just, don't leave
don't leave

05 fevereiro 2005

:: easy to please _ coldplay

love, i hope we get old,
i hope we can find a way of seeing it all
love, i hope we can meet
i hope i can find a way of letting you see

that i'm so easy to please
so easy to please

love, i hope we grow old
i hope can find a way of seeing it all
love, i hope we can meet
i hope i can find a way of letting you see

tha i'm so easy to please
so easy to please
:: azul e branco

para abrir a terça-feira de carnaval, lá pela meia-noite, a portela vai desfilar. não sou dado a desfiles de carnaval, principalmente os televisionados. vou assistir um pouco da mangueira, mas a portela vai bater forte.

abram alas que a portela vai passar!

04 fevereiro 2005

:: what a difference a day made

ela é esse timbre delicado de piano...

:: vai me beijar?

" a razão por que mando um sorriso e não corro é que andei levando a vida, quase morro. quero fechar a ferida, quero estancar o sangue e sepultar bem longe o que restou da camisa colorida que cobria minha dor. não se esqueça por favor que voltarei depressa tao logo a noite acabe, tão logo esse tempo passe, para beijar vc"
:: carnaval #01

ah, meu amor, pois o carnaval é dias sem máscaras. vou tirar tua maquiagem e na alegria dos confetes e serpentinas me dirás que o ano não é de folia, mas as tuas horas comigo serão. a lágrima desenhada no rosto se tornará úmida e salgada e farás com que os tempos se confundam num só. o passado fará outro sentido, o futuro semeará e o presente dos nossos beijos. ah, meu amor, pintarás os teus olhos com gliter e terás essa sensação de olhos brilhantes para todo o resto do dia... todo resto do ano.

e enquanto eu ensaiar o molejo, meu amor, retirarás o resto de tintura e me revelarás... e saberei que na quarta-feira farás das cinzas o meu amor.
:: tortas de chocolate

"(...)um dia não resistiu. chegou disfarçado, sua última tentativa de confundir os vizinhos. em cada mão trazia uma mala. ela sofreu antecipada aquela longa viagem. ajudou-o como se ele tivesse cansado, a vida exigia demais dele. trouxe-lhe água gelada, lamentando não dispor de uma fonte no quintal, haveria de enfeitá-la de pedras, talvez uma imagem. o homem bebeu. tirou o disfarce que jamais sofrera dela qualquer restrição. e assumindo fingida independencia falou alto paa que ela ouvisse:

-- terminou o tempo da provação. desta vez eu vim para ficar.

a mulher escondendo a profunda alegria olhou o homem, em seguida correu para a cozinha. ninguém a superava nas tortas de chocolate."

(nélida piñon)

03 fevereiro 2005

:: chão-te

querida, quero lhe dar um chão para que pegue propulsão e colha as estrelas.

:: salve simpatia

tia ana morreu hoje às 5h da manhã.

faz uns bons meses que não a vi. uma velhinha sorridente, é o que tinha de sobra: sorrisos.

não teve filhos. talvez por isso o excesso de sorrisos: eram todos reservados para os filhos que não vieram e que se guardados iriam estragar. as pessoas eram maldosas, deram-lhe o status de tia. talvez tenha sido sua maior tristeza, até o abandono dos seus sobrinhos que lhe pegaram as terras e cercaram sua pequena casa com prédios não era tão triste quanto a ausência dos filhos.

o destino ainda lhe foi mais cruel: encheu sua barriga de água e a prendeu a uma cama.

mas o seu sorriso está em minha cabeça numa persistência fotográfica... perguntando como está a escola e as namoradas... sorrio que está tudo bem.

salve simpatia!

:: tathy

conheci tb a tathy. q linda q ela é !
:: luiza

depois de mtos desencontros, conheci hoje a luiza. choveu até. já havia planejado o que faria se ela não viesse: comeria um pedaço de pizza, compraria o livro da clarice ou veria algum filme no cinema. mas ela veio e me encontrou.

fomos para um bar para conversar. é estranho nos conhecermos sem termos nos visto. sabíamos já de mta coisa um do outro. prestei atenção nos olhos e no sorriso que se moviam para acompanhar as minhas falas e as coisas do mundo.

ela me deu um pirulito.

falamos mto do que nos aconteceu. mtas infelicidades que agora ditas soam mais leves -- espero que para ela tb. despedimo-nos com um abraço, como para retribuir atenção e compreensão mútuas.

no metrô, indo para casa, percebi que não falamos mto sobre os sonhos. ocorreu-me que eles são mto mais íntimos que nosso passado. é mais fácil falar sobre o que passou do que o que pode vir. mas essa ausência dos sonhos nas nossas falas só me faz pensar que eles existem...

... quais os sonhos de luiza?

02 fevereiro 2005

:: razões para se apaixonar pela tereza

_ sonho

"sonhei contigo. preciso contar. era assim, resumindo: estávamos num lugar com muitas pessoas, uma casa grande. tinha bastante luz do dia. eu tinha estourado um vidro na minha boca. não doía. eu tinha feito de propósito e não era estranho. todo mundo agia naturalmente. eu ficava segurando os cacos na boca e conversava com as pessoas tomando cuidado para os cacos não caírem e nem me machucarem. uma hora me cansei, queria que saíssem da minha boca. era incomodo e não dolorido. mas minha boca estava inchada e um pouco machucada. pus a cabeça pra baixo - como quem vomita - e alguns cacos cairam mas muitos ficaram presos na boca, lábios e mucosa interna. aí falei que precisava de ajuda pra conseguir tirar o resto. tava com medo de machucar. aí vc veio e falou: eu ajudo. e sabe como vc ajudou? pegou um album de fotos minhas. tinha muitas pessoas, de toda a minha vida comigo, sem mim. vc foi folheando e tirando todas as fotos, só deixou as minhas fotos de criança. criança mesmo, até no máximo 7 anos. assim, os cacos sumiram todos. só ficou minha boca um pouquinho inchada. eu tentei negociar as fotos de duas outras crianças, mas vc não deixou. só podiam ficar as minhas. é isso."

:: desencontro

"eu te dou pão e preferes ouro. eu te dou ouro mas tua fome legítima é de pão. "

coisa de clarice, mas podia ser da ana.


:: o amor segundo violeta

quem já conversou com violeta sabe que não é mulher dada a muito sentimentalismos, mas quem conhece, sabe que ela é uma pessoa que o amor é bastante fundamental. não que ela vivesse apaixonada, de maneira alguma, pode-se contar nos dedos os seus amores. mas a todos eles violeta estirpou algo de si, deixou pedaços e em todas essas carnes pulsa sangue, mesmo que não seja propriamente o dela.

sempre viveu muito só e às vezes reclamava dessa situação, mas argumentava sobre a falta de praticidade de não ter alguém. porque violeta podia ser muito independente -- e era mesmo! ela comprava sua própria comida -- mas reconhecia que estivesse mais segura nesse mundo se tivesse alguém para tratar suas feridas. porque violeta tinha algumas boas feridas.

então violeta conheceu jacob, um homem bom e que tinha carreira longa pela frente. era professor de biologia, mas estudava bastante para dar aulas em faculdade. violeta até que tentou não se apaixonar, mas jacob muito inteligente lhe seduziu com argumentações. a principio, violeta se sentiu segura com a praticidade de amar alguém assim. depois, foi fácil perceber que jacob estava realmente apaixonado.

viveram felizes bons 2 dois anos até que jacob encontrou outro alguém. ele argumentou muito bem que não poderiam mais ficar juntos e ela, mulher muito prática, reconheceu as dificuldades e desatou o compromisso. é sabido que meses mais tarde, jacob tentara voltar para violeta, mas ela usou os mesmos argumentos dele para lhe dizer um não.

violeta me contou essa história enquanto tomávamos um café numa padaria com certo movimento. as pessoas que passaram e que ouviram um pouco da nossa conversa provavelmente não diriam que falávamos sobre amor e relacionamentos. depois que acabou o seu relato e uma breve explicação sobre um amor correto, ela ficou em silêncio, fitando e saboreando o café naquele copo americano.

-- vi, o amor tem solução? perguntei tentando quebrar o silêncio.

ela se virou e estranhou. era a primeira vez que eu falava a palavra amor em nossa conversa. e para ela foi como se o amor fosse uma novidade. ela sorriu. queria saber mais desse amor que vinha da minha boca e com timbres diferentes. fiquei sem graça. ela respondeu:

-- talvez o amor não exista. o que existe são pequenos pedaços de um todo que nunca vai ser como deve. mas se for esperto, estes pedaços serão em si um todo seu.

ou algo assim.

01 fevereiro 2005

:: as coisas que ficam

cruzei com selma no metrô. fazia uns bons anos que não nos víamos. emagreceu, a linha do rosto ficou mais reta. sua fala está mais lenta, mas ainda há a risada de pateta. está mais velha, o cabelo na cor natural.

selma foi uma pessoa ótima quando eu morria de amores por sua irmã. agora posso dar o nome de alento a sua estranha presença em época passada.

me deu um abraço forte como há mto não tenho recebido. e sumiu na correnteza da multidão.

mais tarde percebi que nem me ocorreu perguntar há quantas andava sua irmã...

:: manhã

sonhei que estava sentado numa varanda e na minha frente havia um jardim que não acabava. o sofá em que eu estava era mto familiar, lembro do conforto não sei de onde. o sol era daqueles mornos, que atiçam a pele. e o céu era um azul sem nuvens, um azul provocante. e não se ouviu mta coisa. aquela sensação de vazio sonoro. achei uma hora que minha respiração tinha parado porque o meu peito não ia e nem vinha. fiquei seduzido por aquela paz. pensei que podia esquecer de tudo, sem culpa. pensei no quanto estava cansado e comecei a chorar... acordei no colchão da sala da tereza e da renata. elas dormiam. vi o adiantado da hora e precisei ir. pensei em deixar um bilhete agradecendo a hospitalidade e carinho. saí com pressa.

na rua, a sensação do sonho ainda era forte. havia mta luz e eu não conseguia manter os olhos mto abertos. os ventos me causaram falta de ar. a minha pressa me fez pensar: "do que está fugindo, márcio?" e eu não sabia responder.
:: conselho de amiga

"enquanto isso, tente fazer programas que te agradam. faz assim, agora, pense em

um filme que ama
uma pessoa que ama (amigos ou familia, de preferencia)
uma musica que ama
um lugar que ama
uma roupa que ama
um intrumento

faça essa lista. junte tudo. e fique pensando nessas coisas boas, que te deixam feliz. vc vai ver como é bom."

um filme que amo: os vestígios do dia

há mtas cenas boas. lembro-me de uma seqüência quase final em que o sr. stevens despede-se de sua amada com um aperto de mãos. ele nunca se declarou, mas ambos se amavam, ela está chorando, sabe que pode não mais revê-lo por causa da idade avançada. e está tudo nas mãos dele. se ele pressionasse uma pouco mais a mão, ela ficaria. novamente ela lhe foge pelas mãos...

uma pessoa que amo : a luiza fecarotta

veja muito pouco. conheci-a sem querer, através de uma amiga em comum, a mariana. já lhe escrevi coisas boas, mas ultimamente a escrita anda rala. acredito que goste mto de mim, de um jeito que até me assusta. mas reconheço e tento retribuir tanta atenção e dedicação. sei que não é fácil para ambos, pessoas instáveis e com tudo a flor da pele. mas a gente continua... continua.

uma música que amo : learnin´ the blues com louis armstrong e ella fitzgerald

é uma música que me faz querer continuar. não tenho mta sorte na vida, acho. a vida me é mto desencontrada, talvez porque insisto em tentar encontrá-la. essa música fala de uma solidão mto próxima a mim: a mesa vazia, o salão deserto, toca-se a mesma velha música, o cigarro que você acende um após outro não poderá mudar o jeito que você ama, você queima por dentro... você está aprendendo o blues. tem a ella com sua voz vibrante e o louis dando o contraponto rouco e dificil. um trompete que elegantemente desafina. me dá alento que a vida pode não ser tão triste assim... pode ser um blues. as pessoas merecem blues e sambas.

um lugar que ama : avenida paulista

há mtos lugares que gosto, mas sei que amo a avenida paulista. não gosto dos prédios opressores, das pessoas correndo e do barulho. mas sempre tenho vontade de passar por ela, de enfrentá-la, me perder em suas entranhas. anteontem quase fui atropelado tão distraído que estava. imagino que os encontros que gostaria de ter e a avenida paulista está sempre como pano de fundo. se tivesse bancos, eu sentaria por alguns minutos. já a atravessei, chorando lamentos que tenho da vida. mas não há lágrimas minhas por lá, foram levadas pelas chuvas, pés, pneus alheios. talvez, algum dia, ela me reconheça e diga que lembra das lágrimas.

uma roupa que ama : meu tênis all star vermelho.

não sou mto dado a roupas. mas gosto mto do meu all star vermelho... agora ele tá aposentado por causa dos furos, mas não o joguei. sempre tive tênis escuros, acho mais versáteis. o vermelho foi um ato subversivo no tédio que é minha moda. ninguém reparou tanto nele. mas eu sim. falei para minha mãe que eu estava virando comunista.

um instrumento: minha guitarra elétrica

acho que foi o meu primeiro bem que comprei na loucura. veio com ela uma pedaleira e um amp. paguei em prestações. é um modelo les paul toda preta. tem um adesivo colado do snoopy nela. não tem um timbre tão bom, mas eu adoro. às vezes passo meses sem tocá-la, fica toda desafinada. mas ela me dá quase todos os timbres: samba, rock, blues, eletrônico... não sei fazer música, nem toco tão bem. tenho até outros instrumentos que acho mais bonitos. mas a minha guitarra elétrica é a preferida. talvez tire notas próprias e bonitas dela, assim posso agradecê-la o tempo de convívio e os esquecimentos.

:: jazz

"é, rapaz, agora é juntar os cacos desse coração partido."