a million parachutes

for us

31 janeiro 2005

:: love

-- não deve ser covardia desistir por estar cansado.
-- acho que desistir é muito humano. mas me frusta a desistência por medo.
-- estou cansado.
-- não precisa desistir. pode adiar.
-- isso. vou me adiar...

:: o passo que se apressa

acompanho esse blog, sempre passo por lá. mas nunca ocorreu-me linká-lo aqui. talvez porque haja um reconhecimento próprio, uma intimidade inexistente. como se fosse algo bobo das minhas memórias que penso que esquecerei, mas persiste. deixo o link aqui do lado esquerdo. é muito bom, textos ótimos. não merece meu egoísmo, mas a fatalidade do mundo.

:: talvez

talvez nunca me amasse... ela tem seu gênio forte por pessoas que possam amá-la com convicção, com ternura e carinho. e que tenham em si a possibilidade de uma vida avassaladora e cheia de sentidos. ela não me amará porque sou uma pergunta e ela quer uma resposta. quem se interessaria por uma pergunta? talvez eu o amasse, mas nunca manifestarei ou deixarei essa vontade crescer o suficiente porque ele é o melhor amigo e assim me preservo uma vida suportável. talvez ele nunca me perdoe a covardia de não tentar amá-lo, mas hoje quero o amor que me propague e não esse amor que ele me oferece: um amor deveras delicado e entediante, um amor de dia-a-dia. o seu corpo não me diz respeito, mas o amaria... estaria amando? ela se refugia em figuras passadas. os amores não morrem, acumulam em tonéis na esperança de ficar melhores. mas chega uma hora que o coração transborda e choro compulsivamente... gostaria de amá-lo e só a ele porque sei que seria um amor esforçado e inventivo, mas não mando em minha teimosia. talvez ele encontre alguém... talvez eu encontre alguém que me cative tanto quanto ela. ele encontrará alguém e sentirei sua falta, mto mais que ciúmes. estarei pensando que talvez ele fosse, dentro de suas dificuldades e na grandeza de suas qualidades, o grande amor que não foi meu porque eu não quis. e ela será a melhor representação de que não se ama quem se quer, com quem se pode. ama-se o torto e o direito. e mesmo ela sem ter me amado, ainda considerarei como grande amor, grande pela falta e pela covardia, grande pela minha imensa incapacidade de ofertá-la com uma vida que não a minha. ele me perdoará o amor que não tive. e eu vou pensar sempre se não foi eu quem deseperdiçou uma chance boa de felicidade. eu lhe darei a mão mostrando que eu ainda estou aqui. e eu pegarei a sua mão e desta vez não serei eu quem sentirá a frieza da ausência. te amarei. te amava. mas você fingiu que não e eu não acreditei nas suas profecias. agora nada mais importa, o tempo de colheitas passou. estou resignado a esquecer as coisas do amor. te amo. talvez.

30 janeiro 2005

:: cerveja na madrugada

a lata gelada condensa algum orvalho,
seguro-a até que o frio penetre em minha mão
e corte qualquer sentido e dor.
estou com vontade de velhos vícios.
estou com um pouco de vontade de chorar.
organizo as últimas músicas da noite
e preparo as leituras de amanhã.
parece-me o mais longo dos dias,
da mais longa das semanas,
do mais longo dos anos.

bebo aos que não se encontraram,
bebo aos que irão se perder.

:: deficiência

é que você não sabe que meu coração é desses modelos sem valvula de escape.

:: olhos

-- você tem olhos bonitos.

agradeci. já estava acostumado com essa mania das pessoas acharem que eu enxergo diferente as coisas. sempre me senti um pouco marginalizado, pessoa com quem se deve ter um relacionamento menos usual. ocorria-me toda vez que ouvia algo assim uma solidão profunda de que não pudessem e que não quisessem me alcançar. e eu sempre tentando alcançá-los e por isso a profundidade...

-- obrigado. disse resignado. ela percebeu minha frustração.

-- os olhos de dentro são bonitos, mas eu estava falando dos de fora.

fiquei sem graça.

:: i love you

a menina bielo-russa foi adotada por um casal de americanos e ela está começando a lidar com a língua nova. deixará de reconhecer a língua no qual nasceu para viver a língua do seu presente. mas agora não é tempo para pensar nisso porque em sua cabeça não há diferença, todas os significados são produzidos nesse momento, para ela a invenção de seus signficados é uma novidade.

-- i love you. diz a minha amiga vandreza, querendo mostrar sua admiração pela história e beleza da menina.

dias mais tarde, a menina diz a mesma coisa a ela. tocada, a vandreza se emociona também. mas alguns momentos depois percebe que a menina relaciona o "i love you" a seu nome. acha que a minha amiga de fato chama-se "i love you".

e que coisa amorosa deve ser dar nomes, inventar verbos e fazer correr orações! porque num momento primeiro os significados nos vêm como descobertas e num momento depois como instrumento. e, no final, só nos cabe o que é importante...

a menina pode não ter aprendido o amor com o simples absorver de sons, mas talvez descubra algo próximo quando lhe der satisfação o rosto de quem ama ao dizer "i love you too".

29 janeiro 2005

:: cavaquinho

a casa do velho negro está a venda.

eu passava em frente e ele sentado em sua cadeira de plástico me cumprimentava com um aceno. eu respondia com um bom-dia.

uma única vez o vi fora de seu solar. foi numa apresentação para comemorar o aniversário do bairro. tocou cavaquinho e sambas de sua própria autoria com a voz de sua filha mais nova.

não sei de onde veio, não sei para onde foi.

não sei se viveu de samba. só sei que foi grande quando pôde.
:: por quê?

a moça de laranja que caminha na praça esforça-se para fazer um passo contínuo e regular apesar da disritmia que um derrame lhe causou no lado esquerdo do corpo. vê-se o sofrimento no lado direito da face.

os outros corredores passam e sentem pena. ela se vê humilhada. mas continua, por quê?
:: supletivo

no supletivo, a mulher que trabalha de manhã de bacolnista rende-se ao cansaço e dorme. no seu sonho -- pois sim, ela sonha -- é capaz de acertar uma quantidade grande de exercícios de matemática e garantir que seu 13º seja suficiente para os presentes de quem lhe quer bem.
:: fernanda

fernanda havia perdido tudo: roupa, sapato, filho e amor. deixou ribeirão preto e foi como pôde até o mar. demorou uma semana e meia para chegar. não tinha quase nada nos bolsos e na mala carregava uma trouxinha de roupa e algumas lembranças. sentou-se na areia o dia inteiro, os pés estavam submersos na água que ía e voltava. de lá, fernanda viu o sol nascer, mas não viu se pôr. os pés já estavam bons da caminha e fernanda então continuou.

28 janeiro 2005

:: killer cars

too hard on the brakes again
what if these brakes just give in?
what if they don't get out of the way?
what if there's someone overtaking?
i'm going out for a little drive
and it could be the last time you see me alive
there could be an idiot on the road
the only kick in life is pumping his steel

wrap me up in the back of the trunk
packed with foam and blind drunk
they won't ever take me alive
'cause they all drive...

don't die on the motorway
the moon would freeze, the plants would die
i couldn't cope if you crashed today
all the things I forgot to say
i'm going out for a little drive
and it could be the last time you see me alive
what if the car loses control?
what if there's someone overtaking?

wrap me up in the back of the trunk
packed with foam and blind drunk
they won't ever take me alive
'cause they all drive killer cars

p.s. voltando a ouvir radiohead, desde pablo honey até hail to the thief será uma longa peregrinação...
:: café caipira

querida, encomendei aparelhos rústicos para feitura de um café caipira. também andei pesquisando o melhor modo de fazer. a mulher que me recomendou o café diz que há muito deixou de beber pela praticidade do café em pó solúvel. seu marido foi quem mais reclamou, mas acabou se acostumando.

é preciso lavar, deixar secar, torrar os grãos. há um modo, pelo que entendi, que os grãos são torrados duplamente, com sol a pino e sol de aurora -- achei bonito também! depois, os grãos são moídos através de um moinho que nas casas costumava ficar atrás das portas. o perfume do café sendo moído é diferente do café pronto. a mulher me disse que é um aroma de esperança de um café bom porque antecede a mesa. ela também disse que é bem trabalhoso e que talvez esse seja um dos motivos de ter se tornado tão obsoleto.

mas afirmou com convicção que nos visitará, ainda mais se haver café preparado assim. falou que não tem muitas saudades do gosto e que alguns cafés de hoje em dia são até mais saborosos. mas que seria uma surpresa para o marido que sente muitas saudades na vida. assim como a gente, ela acha que deve haver alguma felicidade nas coisas que a gente não vê.
:: para lá do fim do mundo (se existir um fim)

arrumando a casa para a visita que chega...
ana,

fiquei feliz com as boas novas. de uma hora para outra, a vida vira um furacão e quando pensamos em desastre, de alguma forma inexplicável mas terrivelmente clara, a vida toma jeito e segue o caminho que acreditamos de um jeito que pode ter muitos nomes, até fé.

e você achando que é sorte... é sorte também. mas também é dedicação e perseverança no que acredita. quanta sorte há em saber o que não se quer? muita. mas manter-se fiel ao que acredita é outros tantos que não depende tanto. vejo em você, ana querida, uma inquietação. e sei que é fiel a essa inquietação porque é muito próprio de você. sempre gostei disso em você. sempre pensei por que nunca quis saber das minhas notícias... é que você já sabe. é sabida.

continue sua caminhada. eu tento continuar a minha. mande-me notícias quando puder, só para eu ter uma idéia das suas atmosferas e quantos mais furacões virão para deixar tudo no seu devido lugar.
:: sonhos

sou um cara que vive de sonhos. encho-me de esperenças a cada gota obliqua que caí. se foi minha perdição muitas vezes, os sonhos já me salvaram. boia colorida para naufrago. hoje em dia tenho pouco sonhos e corro menos risco de me perder. não é que eu tenha poucas esperanças, mas a gente se acostuma as peripécias da vida, né? mas os sonhos um dia acabam. na realização ou em sua dissolução. já tive muitos sonhos e nesse momento que todos me acabaram posso vê-los todos com nitidez e clareza. posso dizer também: foram todos muito bonitos.

já amei bastante. acho que já amei tudo que se pode numa vida inteira. agora deixo o amor para quem possa fazer um uso melhor. porque amor não é só amar, amor também é fazer amar. o meu grande amor sempre será o último porque com ele está os meus sonhos maiores, os mais ousados, mas também os mais possíveis. mas que seria dos sonhos se fossem todos possíveis? talvez não existe amor.

meus sonhos acabaram. talvez tenha outros no futuro. hoje estarei a disposição dos sonhos que se foram, dos amores que se foram. amanhã, não sei mais.

27 janeiro 2005

:: não sei sambar

querida, não sei sambar,
não sei levar a vida nas pontas dos pés.
o meu rebolado é uma contravenção
e passa disritmia de saudades.
minha síncope não dá molejo,
é simplesmente falta de ar.
não sei levantar a mão
e pedir que me leve, querida.

e quando se abre a roda,
e todos pedem para o céus
suas graças ou agradecimentos,
eu só vejo a gramática dos corpos,
a poesia doida dos seus pés
que vão se aproximando de mim...

batuca-me, batuco-te.

sou desses que gosta do samba machucado
e evita machucar.
mas quando a vida -- querida -- pede,
eu não sei sambar,
mas sambo mesmo assim.

26 janeiro 2005

:: parachutes.tv

para comemorar o aniversário de uma grande amiga, tem vídeo novo na parachutes.tv



p.s. é o último lá no canto inferior direito...

25 janeiro 2005

:: são paulo

sabe, nem sei porque gosto daqui. talvez porque só tenha essa cidade em mim. já visitei outros lugares, longínquos até. mas são paulo vive me dizendo coisas que não entendo. fico porque quero entender. aqui estão os meus amigos, os significados, os amores - está sim, mesmo tão longe. são paulo é uma cidade cruel, isso sei bem. vejo o que ela faz com as pessoas que tem outras cidades em seus corações.

e toda vez que volto para essa cidade, parece que volto a ser eu mesmo. na estranheza da cidade, os meus sentimentos vagueiam e se articulam. mesmo que eu vá embora algum dia, são paulo vai comigo. assim como a língua e os versos queridos. assim como as fotos e o timbre dos amigos. assim como o amor e a lua. são paulo não me diz adeus, mas quando volto, sei que ela me diz um "oi" como se nada tivesse acontecido.
:: saudades

querida,

só queria dizer que senti saudades.
e que acho que temos uma vida bonita.
e que acho vc bonita também.
e que o mundo é bem grande mesmo.
e que se tudo der certo, chego aí em junho.
e que vou aprender a dançar e achar q to te conduzindo,
porque é você quem conduz.
e que a lua está cheia e de graça.

e que mora no meu coração.

22 janeiro 2005

:: desesperança

infelizes são os que já tiveram o grande amor, porque o amor, em suas vidas, não poderá ser mais que isso.

21 janeiro 2005

:: giramundo

"só porque o sol nasce igual, não quer dizer que traz o mesmo dia".


(hoje é dia de maria)
:: loveless

meus olhos chovem...

20 janeiro 2005

:: noite

"o amor que move o sol e outras estrelas".

essa frase me atravessa a noite.
deitado, olho para o teto desenhado
com algumas luzes que escapam da cortina.
o coração é uma imensidão que transita
entre profundas solidões e aconchego.
não é o amor que me destina a noite,
o sol e outras estrelas se perpetuam
a revelia do que almejo ou sinto.

flutuo sobre o colchão,
o amor me faz levitar.

no ar sereno da noite,
penso nela. o amor que desmonta
o carrossel de uma vida qualquer.
a minha pele diz sim. a saliva pede.
perco a gravidade. não é na noite
que se refugia a dor da distância.
não é no dia que se faz da saudade
justificativa para remédios bons.

o amor não move o sol e nem outras estrelas.
as estrelas se movem em reverência ao amor.

19 janeiro 2005

:: rilke

amor são duas solidões protegendo-se uma à outra.

17 janeiro 2005

:: contos lunares #02

pois que apareceu um homem nessa vila tão pequena que dizia ser da américa. ele tinha um sotaque estranho e um português impostado apesar das pessoas da cidade não saberem o quão correto poderia ser. disse a todos que era viajante e que já esteve em muitos lugares diferentes. era seu sonho pisar nessas terras e falar a língua dos povos. à noite, enquanto mostrava uma identificação que carregava no pescoço, contou sobre sua missão de exploração da lua. as pessoas ouviram maravilhadas e iam cumprimentar o visitante.

uma menina se levantou:

-- eu também vou para a lua. o meu coelho rodolfo mora lá.

e todos se viraram e foram cumprimentar também a menina. o visitante foi muito educado, não desmentiu a menina que gostava mais de falar sobre os blefes de rodolfo do que as crateras da lua. o visitante disse ao padeiro que talvez ela tivesse um coelho morando na lua. o padeiro:

-- talvez? com tanta lua por que não haveria de ter coelhos?

o visitante sorriu. no dia seguinte, antes que o viajante partisse para continuar sua viagem, a menina foi até sua pousada e lhe confessou a mentira:

-- chama-se atilia e é uma coelha.

16 janeiro 2005

:: roteiro sentimental

querida,

fui ao mercado municipal hoje. não o tinha visto depois das reformas. costumava passar em frente quando pegava o ônibus para a faculdade. estava todo escondido entre telas e paredes de cortiça. foi uma surpresa! agora existem muito mais entradas. o mercado está aberto para todas as direções da cidade.

as paredes estão pintadas. as grades se foram. os vitrais foram reformados assim como as telhas. quem tinha acostumado com o velho mercado, não acredita que pudesse recuperar o fôlego. acho que ele ainda se estranha. os fluxos foram mais racionalizados, mas a sensação de se perder, como a qualquer mercado, está lá.

há pimentas, queijos, condimentos, chocolates, frutas variadas, azeites, carnes, alcaparras. são como materias para experimento. cada coisa tem seu cheiro e sabor que será transformado nas receitas que existem por aí. talvez não tenha lhe contado nenhuma novidade, mas acredito que encontramos nosso melhor fornecedor para o nosso café. será divertido até os preparativos!

resolvi passear mais pela cidade. começo meus quinze dias de férias e vou caminhar por aí. organizar um roteiro sentimental para ti, querida. vou calcular o tempo que demorará para chegar em cada um dos lugares que queres visitar. assim poderá escolher o que melhor lhe agradar. é claro que também tenho motivos terceiros: quero estar o quanto puder ao seu lado, aproveitar todos os segundos a ponto de saber com alguma exatidão qual a freqüência de seu pulso e respiração.

as ruas dessa cidade são como as linhas do seu coração. vou caminhando por elas até te encontrar.
:: amarelinha

não falta a renata sonhos. ela os tem em excesso até. de quando em quando tem o disparate de rir de si mesmo. e de se sorrir. ela reconhece a matéria dos sonhos e tem seus lábios da um passo a invenção. o que renata sabe sem saber é que há um precipio entre o que vemos e o que não vemos. o que falta a renata é alguma prática e fé de que o precipio é só um buraco fundo sobre o qual se brinca de amarelinha.
:: contos lunares #01

-- e os pássaros? que peso enganam se não há gravidade na lua? se qualquer um pode ser, mais do que nunca, pássaro?
-- os pássaros estão calçando tênis...

15 janeiro 2005

:: veja bem meu bem - los hermanos

veja bem meu bem,
sinto te informar
que arranjei alguém
pra me confortar.
e esse alguém está quando você sai.
e eu só posso crer,
pois sem ter você,
nesses braços tais.

veja bem, amor,
onde está você?
somos no papel,
mas não no viver.
viajar sem mim,
me deixar assim.
tive que arranjar
alguém pra passar
os dias ruins.
enquanto isso,
navegando eu vou, sem paz.
sem ter um porto,
quase morto, sem um cais.
e eu nunca vou te esquecer, amor,
mas a solidão deixa o coração nesse leva-e-traz.

veja bem além
desses fatos vis,
saiba: traições
são bem mais sutis.
se eu te troquei
não foi por maldade...
amor, veja bem,
arranjei alguém chamado saudade.

p.s. uma amiga me cantou isso num violão tosco. acreditei mesmo que saudade fosse uma pessoa...

13 janeiro 2005

:: sobre joelhos doloridos #04

não tente dobrá-los. se for o caso, não tente esticá-los depois.

12 janeiro 2005

:: sobre joelhos doloridos #03

sim, aos 26 anos você produz ainda casquinha de ferida.
:: sobre joelhos doloridos #02

mesmo ambos mancando, o cachorro sempre vai correr mais que você.
:: sobre joelhos doloridos #01

mancando, você vê o mundo mais lentamente e percebe que ele não corre tanto quanto você imaginava.
:: vou te chorar uma constelação bonita

vou te chorar uma constelação bonita
e pentear seus cabelos de cometa.
vou arar sua nuca com flores comedidas
e pousar cadências em seus lábios apressados.

vou te contar os dedos das pegadas da praia
e fazer o mar recuar para a apagar o sol.
vou te anoitecer os olhos, sonhos e unhas
e te convencer que sei de suas atmosferas.

vou te cantar primaveras e trompetes
e correr seus dedos pelas teclas do piano.
vou te cobrir em vidas frias e matemáticas
e fazer bater a aorta de meu amor.

vou te sorrir aquários azuis
e preparar cafés levemente doces.
vou te chorar uma constelação bonita
e descer na parada mais próxima da sua casa.

10 janeiro 2005

:: agradecimentos

desculpe-me pela raleza das respostas, mas agradeço a todos que mandaram mensagens de boa sorte para mim por causa das provas. como viram pelo post abaixo, não está sendo uma tortura, não. está sendo até divertido. =) mas muitíssimo obrigado pela lembrança.
:: sonhos

sou um cara que quer muitas coisas, acho. e acabo não conseguindo nada. não me arrependo do que vivi, mas sinto falta do que não pude viver. acho que é por isso que estou prestando vestibular para letras. sempre gostei das línguas, linguagens e literaturas. mas sempre me ocorreram aventuras maiores. hoje, já com alguma bagagem, penso se acharei o que procuro nas letras. leituras tem me feito um pouco feliz.

mas gostaria de falar dos sonhos.

quando cheguei ao local da prova, vi garotos e garotas que apenas estão iniciando seus caminhos. estão nervosos, com medo. outros tantos, querem manter a confiança de um ano bem estudado. mal sabem eles que, assim como eu, podem não encontrar facilmente seus objetivos. mas esse clima de anseios me fez pensar um pouco sobre os rumos que a minha própria vida tomou. ninguém se conhece ou se conhecem pouco, mas todos estão esperançosos sobre seus futuros. não lembro com exatidão o vestibular que me fez ter os 6 anos de eca.usp . talvez esses garotos e garotas nem se lembrem daqui a alguns anos desse clima que os uniu e que os separava ao mesmo tempo.

senti-me um pouco desrespeitoso. não estava tão nervoso quanto eles. pensava que a minha tranqulidade os desrespeitava. afinal, nem sei se levarei a sério essa faculdade se eu passar. tenho sentido falta de estudar. e a análise crítica tem me atraído deveras depois da oficina literária que fiz. e eu sei que não é nada disso que esses garotos estão passando.

não me solidarizo com nenhum deles. alguns passarão, outros não. mas os sonhos continuarão, uns ainda mais brilhantes, outros se deformarão. mas dedicarei alguns pensamentos meus e sonharei com o dia que serei feliz como eles serão.
samba

decidi, há algum tempo
que o som de minha voz
seria o ritmo
de meu andar.

criei, então,
letras fáceis
de cantarolar,
para que, minha voz grossa
- e desafinada -
fosse capaz de acompanhar.

decidi,
há algum tempo
que seria batuque.
e seria som.

seria mais do que
minha dor no peito
mais que minha alma crua.

seria samba
do mais simples.


08 janeiro 2005

:: sumiço

amanhã começa a segunda fase da fuvest... a semana promete cansaços... desejem-me sorte!!!


07 janeiro 2005

:: both side blues

ela se preocupa com o que ele pensa.
ele sente falta do colo dela.
ela escreve bilhetinhos cheios de significados.
ele encontra signficados em aparelhos de dvd.
ela convida para um almoço.
ele tenta garantir o almoço de amanhã.
ela sente falta de algo que não sabe.
ele não sabe se falta algo.
ela não tem coragem de lhe falar.
ele se esconde para não ouvir.
ela chora escondida.
ele chora escondido.
ela vai acabar com tudo.
ele espera que ela acabe com tudo.
ela não quer se sentir culpada.
ele vai saber de quem é a culpa.
ela vai ser feliz.
ele vai ser feliz.

ele aponta para o céu.
ela aponta para o horizonte.
:: cabeleira

pentearam meus cabelos. há muito não os via assim arrumados. a sua arrumação usual, o corte, só acontece pelo incomodo dos tamanhos. no banho os lavaria com sabão se não houvesse os shampoos da minha irmã e minha mãe.

não que não os tenha consideração. eles são muito bem assim independentes. os cortes que promovo são visitas que faço de vez enquando como quem arruma a casa do filho que resolveu morar só.

às vezes lhe dou tinturas. outras vezes os ajeito só para não atrapalharem os olhos. serão bem lembrados (já me propuseram vendê-los para fazer perucas) e sobreviverão no tempo mais que eu.

06 janeiro 2005

:: o reverso da paixão

ela controlava sua paixão através da ausência. tinha incrível habilidade de evitar se apaixonar. quando decidia, entregava-se tardiamente e com violência. a sua vida é formada pelo reverso da paixão e seus atrasos.

e ela espera alguém que se atrase tanto quanto ela ou que a espere caso ela se atrase. mas a paixão que falta sempre chega tarde.
:: o amor que acende a lua

não se sabe de onde vem o amor.
muito menos por que a lua acende.
dizem que amor vem da necessidade natural do par.
e a luz da lua não é dela mas do sol.

a partir do amor inventamos histórias
para nos reinventarmos.
não sabemos da história da invenção da lua,
mas a reinventamos a cada história.

não sabemos para onde vai o amor,
muito menos se haverá sol para as luas todas.
mas reinventamos porque amamos,
o amor que acende a lua.

03 janeiro 2005

:: querida

"o mundo roubou a gente..."
e nós que pensávamos que tínhamos tão pouco...
agora sabemos o muito que somos.
:: novidades

estou fazendo um template novo para abrigar todas essas parafernálias do parachutes: a tv, o zine, a rádio, outros projetos... em breve!

feliz 2005!!!