a million parachutes

for us

31 maio 2004

:: selma

a mãe de selma dizia que o inverno é uma estação de misérias. todo ano, nessa época, a mãe de selma ficava mais silenciosa. o pai explicava que houve 3 ou 4 invernos em que a família passara fome.

a mãe de selma morreu numa primavera. "orgulhosa", dizia o pai, "resistiu até que nascessem as flores".

selma não se lembra da fome. mas sonha, às vezes, com sua mãe e suas transpirações de inverno. pequenas neblinas singulares e efêmeras. os vapores condensados tornavam vísivel a felicidade que o silêncio nunca representou bem.
:: as flores que chegaram anuciam

a sua pele estava tão macia que pode sentir as pétalas lhe afagarem o rosto.
a sua alma estava tão serena que pode saber quando as flores foram colhidas e até quando durariam.
a sua cabeça estava tão limpa que pode lembrar que a aspirina podia dar mais resistência às flores que chegaram.
a sua vontade era tão grande que a idéia de ter um jardim nem pareceu tão difícil.

30 maio 2004

:: arrumação dominical

hoje eu quis arrumar o meu quarto. tirar a sujeira e as tralhas. mudar as coisas de lugar. deixar a tevê mais perto da janela para eu me acostumar mais com a janela. arrumar os livros e as fitas de vídeo. dar nomes aos cd´s gravados. aterrar o computador -- levo choques elétricos todos os dias. incomoda-me mas não o suficiente para que eu me resguarde. abrir espaço perto da cama para pular e dançar e torcer. talvez reformar a velha poltrona para as leituras adiadas. guardar os instrumentos para que não peguem poeira. organizar os presentes e as cartas e os bilhetes para que mesmo tão guardados, soem brotar naturalmente aos meus olhos. arrumar a mesa para receber os meus próprios esboços. inclinar menos o espelho, enxergar-me mais perpendicular.

quis arrumar o meu quarto para as coisas que tenho vontade de fazer. arrumar o quarto para a pessoa que quero ser.
:: ?

talvez eu não exista mesmo.

29 maio 2004

:: a day like this

sinto frio.
:: tendo a lua

se uma lua te disser que você é um sonho bom, seja um solzinho para ela.

28 maio 2004

:: isobel

em amabilis, havia um ditado que dizia: "há os que nascem para o céu de dentro e há os que nascem para o céu de fora". e todos da cidade comprovavam com a mais b que era uma máxima a ser sempre juramentada. no começo das revoluções tecnológicas, uma poetisa de nome isobel disse: "aqueles que tem a natureza do céu não distinguem o céu de dentro ou de fora, apenas os objetos que nele navegam".

isobel morreu de tanto trabalhar. a cidade ainda cultiva as velhas máximas, mas amabilis ficou desconfiada.
:: a carta

recebi uma carta. hoje em dia, receber cartas é um acontecimento. nem me lembro da última vez que recebi uma, assim, tão pessoal. o hábito nos entorta até que ficamos direito.

a carta nem trazia tantas notícias assim. foi um daquelas ocasiões em que nós nos pegamos pensando em alguém que nos foi importante em momento que julgávamos tão perdido. nós ficamos apreensivos para não perder novamente e tentamos imortalizar ou mesmo continuá-lo de alguma forma. como eu, ela escreveu. mas ao contrário de mim, ela enviou.

a nossa importância no mundo nem é tanta, penso muitas vezes. somos um mar de espíritos soltos, alguns perdidos, alguns encontrados, alguns com vontade de se perder, alguns com vontade de se encontrar. quando li a carta, senti-me parte desse mundo de espíritos porque se alguém reserva seu tempo para escrever uma carta é porque para ela era importante dizer essas coisas. e para mim está sendo imporante perceber isso. estar no mundo, é estar para alguém.

gosto de pensar que os posts daqui são como cartas. que eu me esforço um mínimo para manter as pessoas que estão longe, próximas. registramos nossas vidas para termos essa vaga idéia de que espíritos existem. registramos também para dar continuidade. transcedemos através da carta e por alguns minutos ficamos deslocados no tempo e espaço dessa esfera que se chama dor.

27 maio 2004

:: essa tal sabedoria

como dizem: "inferno astral tarda mas não falha".
beleza, vou me esconder num cantinho.
volto quando acabar.
:: amor parte 674

se eu disser que te amo nem é tão verdade. mas também nem é tão mentira assim.

26 maio 2004

:: carolina

o último mês em que estive com carol, ela estava avoada de mim por causa da viagem. tentei passar o maior tempo possível com ela, mas ela se concentrava em suas novas atividades.

comprou uma máquina fotográfica, contava-me seu deslumbramento com lentes polarizadores e abertura 5.6 .

-- carol, quando você volta?

clique. e ia correr atrás de borboleta ou paisagem.

-- carol, você comprou meu remédio de pressão?

-- ãh?

e continuava anotando as receitas de revista ou tv. carol achava que a comida do estrangeiro podia enjoar.

-- carol, a gente está atrasado para sua festa de despedida!

-- achei a peça ! carol consertava a bicicleta numa tentativa de compreender o funcionamento. ela queria saber consertar bicicletas quando estivesse no estrangeiro.

-- há muita engenharia aqui. dizia com convicção.

no último dia, resolvi desistir de qualquer despedida mais emocionada. decidi tomar a mesma atitude que ela de não pensar nessas interrupções brutais das quais muitas nem damos conta até a saudade e a falta mudarem para nossa casa.

quando nos depedíamos, carol me entregou um envelope amarelo. nele havia fotos que ela tirou na sua aprendizagem, uma minha com ela na festa de despedida e uma outra minha com cara de aborrecido que carol tirou de minhas mãos dizendo que era dela. também havia várias receitas:

-- para sua pressão.

e uma argolinha de 2 chaves. a menor era da correntinha de bicicleta que consertara e a maior era de sua casa no estrangeiro.
:: outras do orkut

a joana é uma amiga que estudou comigo na faculdade, desde que ela se casou e foi morar no chile a gente perdeu o contato. mas eis que o orkut é inventado e como bons internautas curiosos, inscrevemos e nos encontramos. a vida tem dessas.

tem um link para o blog dela:
http://meuolho.blogger.com.br/

visitem!

24 maio 2004

:: visitas noturnas

sempre deixo a janela aberta, mas as cortinas semicerradas. deixo tocando um som baixinho como que querendo pegar no sono, mas são músicas de amanhã. sobre a escrivaninha, há papéis com jeito de anotações, mas todos estão em branco como se esperassem as palavras de um certo alguém. no mural de fotos, há um espaço estrategicamente vazio que as pessoas juram que foi descuido.

quando durmo, ela atravessa a cortina, desliga o som, anota qualquer recado nos papéis, e pendura um lindo desenho de paisagem naquele espaço.

mas hoje não.
hoje a lua não veio me visitar.

22 maio 2004

:: parachutes.tv.05



colplay. why. marisa. e muito mais.

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:: a rede

o orkut é de dar medo.

21 maio 2004

:: why

gosto daquelas músicas que a gente canta com um sorriso desse tamanho e com o coração despedaçado.
:: isaura

ah, isaura, hoje vou faltar no trabalho para ficar contigo.
vista a melhor roupa e apronte o cabelo: vamos ver o mar.
o trabalho às vezes não justifica.
não quero mais folgar de ti.

20 maio 2004

:: alento

as pessoas que me visitam nesse modesto blog tem sido o meu melhor alento ultimamente. obrigado. :)

19 maio 2004

:: sobre sonhos

gosto quando me conta seus sonhos. sem querer, você tensiona a membrana do onírico e me faz um som. e de som para nota me transmuto melodia.

seus sonhos que são desejos. sua vontade de ser uma pessoa melhor. e você me conta para dá-los concretude; para que se convença da parcela possível, quinhão variável do sonho. e me conta porque sonho eu também em ser bom engenheiro dos sonhos, de idéias. para que se concretizem mesmo que em esfera tão abstraída.

mas também gosto de ouvir seus sonhos vindos do medo, do tremor e solidão e que chamam de pesadelos. faz o coração mais leve e menos ditador. você me conta porque também tenho habilidades destruidoras e dissipativas quando digo:

-- foi só um sonho.
:: parachutes.tv

depois de alguns problemas técnicos, a parachutes.tv volta na semana que vem com seu tão esperado espisódio 5. aguardem.
:: cansaço...

ando cansado, talvez triste até. meu tempo passa muito rápido e eu nem sinto passar. de repente estou envelhecendo e não estou percebendo a sabedoria prometida. os dias passam um atrás do outro. quero pensar que estou fazendo a coisa certa. a gente se sacrifica por coisas que não entende bem. acho que tenho boa índole pois quero fazer a coisa certa. sou orgulhoso, faço coisas que detonam meu coração por ser tão orgulhoso. mas não sou tão besta, sei reconhecer perdas. isso sei bem.

ando compondo. coisas bobinhas, é claro. mas dá alegrinha ver os tracks desses multipistas preenchidos. penso em barulhinhos. quero fazer uma música cheia de barulhinhos. assim como esses posts, gosto de pensar que vou dar essa canção para alguém. esse blog não me pertence, sabia? é de muita gente boa.

infelizmente, não saquei como colocar letras. as músicas são feinhas e poucas saem do compasso do coração. uma ou outra parte me dá um negócio no coração. o resto são notas que experimento. ando com vontade de chorar baixinho. é culpa dos sambas. é culpa das baladas. é culpa das guitarras que distorcem para o chão.

ontem encontrei uma amiga que há muito não via. ela estava um pouco feia, sempre foi muito cuidadosa consigo mesma. estava sentada num daqueles bancos de espera na linha do metrô. fui cumprimentá-la, me enganei. ela é linda, foi abrir o sorriso. o sorriso é a melhor roupa. o sorriso é a melhor calcinha. o sorriso é o melhor penteado. reclamou da minha barba mal feita. veja só! não nos víamos faz meses e ela reclama da minha barba. e eu pensando que pudesse ser uma metáfora de tempo, mas o chico é quem faz metáforas boas sobre o tempo que passa. ela só queria falar mal da minha barba e eu ia falar como ela estava feia e nem pude.

agora estou fazendo uma musiquinha para ela. por enquanto só tem 5 acordes e lá-lás.

e eu vivo dessas coisinhas. tiro fotinhas para chris. escrevo linhas de cartas para a ana. ouço músicas das mais variadas. penso em versos cantados na boca da fê. talvez a cereja esteja muito ocupada. talvez a lua esteja apaixonada pelo sol. a rê precisa respirar diferente. vou telefonar para a van e para a pri. aniversário da izis. a beta inventando iogurtes. os outros andam felizes, acho. prefiro pensar assim. porque hoje estou cansado e quero sonhá-los felizes desse jeito.

17 maio 2004

:: xote de navegação _ dominguinhos - chico buarque

eu vejo aquele rio a deslizar
o tempo a atravessar meu vilarejo
e às vezes largo
o afazer
me pego em sonho
a navegar

com o nome paciência
vai a minha embarcação
pendulando como o tempo
e tendo igual destinação
pra quem anda na barcaça
tudo, tudo passa
só o tempo não

passam paisagens furta-cor
passa e repassa o mesmo cais
num mesmo instante eu vejo a flor
que desabrocha e se desfaz
essa é a tua música
é tua respiração
mas eu tenho só teu lenço
em minha mão

olhando meu navio
o impaciente capataz
grita da ribanceira
que navega pra trás
no convés, eu vou sombrio
cabeleira de rapaz
pela água do rio
que é sem fim
e é nunca mais


p.s. essa música é para a ana que diz que já foi, mas que volta.

16 maio 2004



ana,

do outro lado do rio tietê há uma são paulo imaginária. aqui não há mar, talvez nem haja céu que possa ser. atravesso os viadutos -- é o que posso fazer para me levar -- e lá do alto penso que se voar as coisas se tornam até mais próximas. sempre que estou em lugares obliquos assim me parece que posso tocar o imponderável. imagino uma barcaça no rio que vá para o mar, o tietê não deságua no mar. bem verdade, não sei onde vai parar. onde você está agora? me pergunto. do lado de lá do viaduto.

e quando atravesso essa cidade é como se atravessasse alma e talvez mundo. sei que é tudo é bem maior do que costumo enxergar. tenho visão limitadíssima pela própria condição. mas talvez eu possa ouvir seu coração daqui.

é bonita, não vou pintar uma ana senão bonita.

penso em você e sei que é forçada de barra imaginá-la nessa cidade tão cinza quanto a minha alma. mas essa cidade, como você, teima em buscar cores. a são paulo imaginária em que você mora foi embora também atrás dos seus próprios sonhos.

márcio
:: saudades

sinto tantas saudades de você que troco todos as músicas das letras que vou cantando.

14 maio 2004

:: sonho de carnaval

No carnaval, esperança,
Que gente longe viva na lembrança,
Que gente triste possa entrar na dança,
Que gente grande saiba ser criança.

(Chico Buarque)

11 maio 2004

:: me too

você tem medo de que alguém a conheça tão bem que deixe de estar apaixonado para amá-la.

eu também.
:: puta

quando atravesso a rua das putas, sempre acho que elas vão abusar de mim...
:: gente

a gente tem vontade de dizer umas coisas e não diz.
a gente quer ser livre e não consegue.
a gente quer amar direito e continua amando torto.
a gente foge de casa pensando que está se mudando.
a gente volta para casa pensando que estará tudo igual.
a gente come doce pensando que uma caminhada queima tudo.
a gente acha que o amor vencerá.

mas ainda assim, a gente é gente boa,
a gente faz umas coisas com orgulho e humildade,
e às vezes,
a gente pode falar com a boca cheia de que foi de coração.
:: coração

sinto que você é dessas pessoas experientes que sabem a textura e consistência do coração de tanto tocá-lo. me diga, então, o coração está mais para uma fruta ou uma flor?

09 maio 2004

:: city lights

faz frio em são paulo. posso tirar as blusas e cachicóis e luvas do armário. quando o sol dá ares de sua graça, as pessoas aplaudem para dentro. esse é um brasil que as pessoas não se importam muito. nem é triste e nem é alegre. hoje em dia é uma obrigação ser triste ou alegre. gosto dessa são paulo que se deixa caminhar sem palpitações constantes. o metrô é pontual. o café é um pouco forte. as livrarias vendem o que faz bem. os namorados discutem horários e lavanderias. as mostras de cinema são redutos. os shoppings tem aquecedores.

penso nas pessoas que amei. são paulo no frio é convidativa a isso. e ao invés de calcular as falhas que tive, imagino se essas pessoas amadas estão sentindo o mesmo frio que sinto agora. talvez estejam tendo a mesma idéia de ir tomar um chá ou café. lembro-me dos sorrisos, sim, os sorrisos são como calefação das almas.

uma moça em outra mesa convesa com sua amiga sobre as inseguranças do seu amado. acho primeiro que é coincidência, mas depois penso que deve ser o tema de nossas vidas. se não for por qualidade, é por número, já que tantas vezes pensamos no amor e seus opcionais. ela limpa as lágrimas como se ninguém tivesse notado que chorava. há um tratado de ignorar choro de constrangimento. paga o café da amiga também e ambas saem para nunca mais.

o amor é cego, penso. mas não é cegueira.

08 maio 2004

:: crossroads

no lugar em que os caminhos se cruzam, encontra-se o diabo.
mas como eu o diabo também está de passagem.
:: sonho #578

eu sou um palhaço. quero ser um palhaço.
:: sonho #318

tinha um inseticida nas mãos e ao invés de assassinar a barata, eu lhe dizia que há tempos os aerosóis não possuiam mais cfc, substância nociva a camada de ozônio e que os estados unidos da américa não assinaram o protocolo de kyoto. ela me disse que se importava tanto quanto eu com os humanos, afinal era ela quem sobreviveria num futuro nuclear.

no final do sonho, lembro-me só que o inseticida tinha se transformado num desodorante de ambiente e que a tereza reclamava da injustiça que era as baratas poderem voar.

07 maio 2004

:: a woman in the moon is singing to the earth

querida, querida. se sua garganta doer muito, usa o coração. só quem importa ouvirá.

:: Fogueirinha

Alguém me conta a história de um homem velho que ele viu sentando à porta da casa em uma hora de sol, fazendo uma fogueirinha de gravetos. Passou e deu bom-dia. O homem respondeu. então ele perguntou por brincadiera:

-- Está se aquecendo?

O homem respondeu:

-- É.

-- Mas por que é que você fez esse fogo? Faz sol...

O velho ergueu os olhos tristes:

--- Porque é bonito -- e me faz companhia.

(Rubem Braga)

06 maio 2004



ana,

soube que já é chegada a hora. falta muito pouco. estamos por aqui de passagem, embora nós mesmos não saibamos para onde estamos indo. é uma estrada longa ou curta? é a pessoa que é imensidão.

vou escondendo essa ou outra lágrima fudigia. o mundo não nos pertence, mas queira que a sabedoria de fazer bons usos dele não nos desapareça. jogar papel no chão, nem pensar! escrever uns versinhos despretenciosos e os oferecer. quem sabe valha mais para um outro coração que não saiba da existência?

esse tempo amalucado afeta muito o humor, mas pouco o amor e a esperança. o coração continua, poisé. acabei achando os gizes pastéis, mas agora não tenho tempo e temas para ficar desenhando. meus olhos doem às vezes. minha mão treme. minha cabeça anda avesso a boas figuras de linguagem. estou com medo de começar a ler um livro longo, apeguei-me aos contos e crônicas porque são rápidos e me deixam menos ansioso. lá fora o mundo pede, mas eu não sei o que é.

e você já está indo. talvez já tenha ido faz tempo. talvez eu tenha conversado com uma ana ausente, fantasmal. o tempo passa e já estará de volta, contando histórias e peripécias. a ana ausente é preparação para a saudade que virá. a ana ausente é encruzilhada para o presente.

volta logo!!!

márcio

p.s. alikan experimenta uma ração nova, mas não dispensa a sobremesa de mousse de limão.

05 maio 2004

:: consolo na praia

a poesia de drummond me afeta deveras. corta feito canivete e refresca feito rebento de rio. me vêm lágrimas, sei que não são dos olhos porque tenho cuidado bem deles. no peito, sinto uma verdade do tamanho do mundo e meu coração não tem o tamanho do mundo. é preciso continuar, todavia. a gente vai descobrindo a incompletude, a impossibilidade das felicidades bonitas, os sabores agridoces. a gente descobre que o grande amor nem era tão grande e aquele afeto era de fato amor. a gente descobre tudo isso muito tarde, mas não tarde demais.

existe uma vida melancólica, triste até. mas isso é pior motivo para deixar de sorrir. lembro-me de uma foto de drummond dando um sorriso tímido. do nada, me deu esparança.

um presente para os leitores desse humilde blog:



p.s. clique com o botão direito do mouse e selecione "save as" ou "salvar como".

03 maio 2004

:: accidently kelly street

às vezes a gente esquece que o amor pode ser um docinho de morango que não engorda e nem faz crescer.

02 maio 2004

:: the desesperate kingdom of love

e cecília meireles voltou para minha vida, veja só. eu que fiz minha partida para ares mais cruéis, percebo um toque no ombro. a diz: "ouve essa do fagner"! e quando dou por mim é cecília que entra poetisa como só ela pode ser.

quando penso em você
fecho os olhos de saudade,
tenho tido muita coisa
menos a felicidade.

correm os meus dedos longos
em versos tristes que invento,
nem aquilo a que me entrego
já me dá contentamento.

pode ser até manhã
cedo, claro, feito o dia,
mas nada do que me dizem me faz sentir alegria.

eu so queria ter do mato
um gosto de framboeza,
pra correr entre os canteiros
e esconder minha tristeza.

e eu ainda sou bem moço pra tanta tristeza,
deixemos de coisa, cuidemos da vida,
senão chega a morte
ou coisa parecida
e nos arrasta moço
sem ter visto a vida.


cecília quer me contar algo. já percebi pela lua adversa. eu fui dormir atordoado. a fê continuou na madrugada dos inquietos e ansiosos por essa tal vida. ela diz que é só insônia e eu digo que é coração.

p.s. o título do post é uma das músicas do disco novo da pj harvey...

:: deus parte 2

não sei qual é o plano de deus, mas minha cachorra tentando espirrar só pode estar aqui para nos divertir!

01 maio 2004

:: lucky 13

eu a amava. primeiro, amava aos poucos. depois, com fervor. então, amei feito garoa. até que cheguei onde me encontro.

ela me falava de um amor perdido. eu a ouvia, sempre fui bom ouvidor. dizia que as dores passavam e que eu não devesse me preocupar e acho que nunca me preocupei mesmo. porque ela era tão orgulhosa que mesmo que eles voltassem, não duraria muito. ela é desses espíritos inquietos. eu a amava aos poucos porque sabia que não era para mim. sabe quando percebemos o tamanho do problema que deveria ser amar alguém assim? poisé.

passou o tempo, mas ela ainda o amava. passei a amá-la então com fervor. indignava-me o sofrimento que ela mesmo reservava a si. ela fazia troça, brincava com os defeitos dele. mas a qualquer fraqueza, lembrava dos bons momentos. ela vivia de bons momentos passados. sentia-se em casa assim. a cada dia que passava, meu ciúme ficava cada vez mais ferrenho. já não a ouvia mais direito s porque ela só falava dele mesmo que indiretamente. pensava: por que não olhas para mim? e um pensamento não faz alguém te olhar. afastei-me para me preservar, afinal era um jogo quase perdido. na época, pensei que ela fazia a mesma coisa.

talvez ela tenha percebido isso. voltou a me procurar, talvez quisesse um ombro. fitei-a e ofereci. não a amava mais com fervor, mas entendia a sua solidão. ela percebeu que poucos assuntos nos eram comum. que a maior parte do tempo ela tinha falado dele e agora que agora evitava me magoar, não tinha jeito para desenvolver outros assuntos. tentei algumas vezes outros temas, mas a falta de costume e as falas não ditas já tinham feito estrago. eu a amava feito garoa, porque não me incomodava mais feito chuva.

hoje voltei a falar com ela. foi eu quem perguntou sobre ele. ela se animou e voltou com o mesmo discurso de que esqueceria, que o negócio era dar tempo ao tempo. disse para não me preocupar e eu não estava preocupado. tive um pouco de piedade, porque aquilo poderia durar muito mais tempo do que sua esperança suspeitava. quis dizer boa sorte porque na hora achei que tudo era uma questão de sorte. quando o destino não nos pertence é questão de sorte.

eu queria lhe dizer que não me esquecesse. mas ela tem mais o que fazer.
:: she

ela não é qualquer uma.
:: aquisições sebolística

+ as ondas de virginia woolf. minha autora preferida, dizem que é o seu romance mais radical, dizem também que não tem história nenhuma.

+ mulheres apaixonadas de d.h. lawrence. um romance que sempre a curiosidade de ler, mas comprei porque estava barato.

+ recado de primavera de rubem braga. coletâneas de crônicas dos anos 80.

+ memórias do fogo (a trilogia completa) de eduardo galeano. galeano é um dos autores que reconheço a influência nesses posts. são crônicas sintéticas e líricas. para ele é uma questão estética. para mim é preguiça de textos longos e renúncia do verso. nessa trilogia ele conta a história da américa latina através de crônicas. genial.