a million parachutes

for us

26 março 2004

:: the last laugh

e chegamos a questâo: o que há de errado comigo?
:: lábios que beijei

será que a distância de um antigo amor e o atual é o mesmo do atual para um futuro?
:: depois do almoço

talvez ande faltando a surpresa e a paixão. esse blog anda meio xoxo. outros tempos? acho que sim. a gente acostuma, acomoda a cabeça e os pés. o olho não vê através mais. a gente só olha o céu quando tomba a cabeça de cansaço. não fixamos horizontes. nosso horizonte são os asfaltos. anda faltando vontade de querer mudar. talvez não seja mesmo medo, mas simples perda. falei que iria fazer muita coisa e não fiz. é terrível. minha mão parou de tremer esses dias e não é só disso que ando sentindo falta.
:: bob 4 pontos

são quatro esferas de madeiras ligados a uma outra maior. ao pressionar essa estrutura contra a carne cansada, há uma sensação de alívio. e o mais divertido é que na esfera maior há uma carinha que sorri sempre para você. chama-se bob e como bom amigo, não reclama seu quinhão de luz.
:: parachutes.zine impresso #02

estou acabando de fazer a editoração do segundo número do zine impresso. quem quiser receber o dito cujo é só mandar o seu endereço para:



para aqueles que estão assinando só agora, posso mandar também o primeiro número enquanto estiver sobrando por aqui.


ana,

ando escutando muito samba, muito por causa do meu trabalho, mas não reclamo. estão digitalizando um acervo importante aqui da cidade e tenho o privilégio de já poder ouvir antes que os outros. não pude, porém, ter a experiência do pó temporal. ouço coisas antigas só com a impressão de agulha de vitrola, sem o risco de me cortar.

e há tanta coisa bela que nem imaginava.

muita coisa nova também passa pela minha mão. muitos sonhadores que gravam suas canções com a esperança de viver disso. os outros funcionários pedem para eu não ser tão meticuloso por causa do tempo ou pela falta dele. mas me descuido e me deleito. o samba quer dizer algo para mim, ana, percebo isso. não sei o que é.

* * *

e nessa inquietação, paulinho da viola me perguntou com vontade de conversar. me pediu um samba sobre o infinito e eu só me atrevi a dar ritmo com batidas na mesa. percebendo minha dificuldade, começou ele a bater também. disse:

-- pensa no coração de alguém.

aí eu pensei no seu. ele sorriu porque minha dificuldade foi sumindo. me deu vontade cantar algo que me dissesse, mas não encontrei o quê e as palavras. paulinho sorriu novamente e me disse:

-- descobriu o infinito.

* * *


então veio adoniran barbosa e disse que a nossa casa invisível, ana, na verdade é uma maloca. ele é muito gente boa. perguntei rindo:

-- é porque tem gente louca?

ele respondeu em um português impecável:

-- quem mais senão gente louca para enxergar uma casa no invisível?

* * *


me decidi: vou comprar um pandeiro. ao menos treinei com cadernos a girar em torno de si com um dedo só.

* * *


e descobri: o samba não quer dizer nada. só quer tantos motivos para ser quanto nós cartas para escrever.

e a roda acabou com esse refrão.

beijos

márcio

p.s. ouve isso numa peça de teatro regado ao melhor tango: "melhor chegar a tempo do que ser convidado". ana, espere-me. embarco para aí em meados de abril. já será outono.

25 março 2004

:: soma

porque o mundo não vale o mundo, baby...

24 março 2004


::o clube dos dançarinos de pães

a izis e eu estamos fundando o clube dos dançarinos de pães. é uma iniciativa para divulgar essa arte que tem pés no feitio do pão e na sua eventual coreografia.

difundida pelo genial charles chaplin, a dança dos pães vem sendo praticada (e degustada) por um número cada vez maior de pessoas. o seu maior difusor é o seu joaquim e é especialista em pães com formatos de crocodilo.

senhoras e senhores, pratiquem!

p.s. estamos coreografando um tango lindo e dizem que os pães também sabem sambar.
:: performance de cacilda!





como um pouco de vinho não faz mal pra ninguém, bebemos em louvor dessa sociedade secreta que chamam de amizade. um vinho branco e doce. depois com um guarda-chuva transparente (desses para assistir a chuva dentro da própria) encenamos cenas da peça do oficina, a cacilda! (tocava bethania e rodopiávamos, nós e o guarda-chuva).

"com que lábios te beijei
lábios de amor
lábios de atriz
com que lábios eu te quis
com que chorei
e ris
com que lábios me pintei
com que lábios fui feliz."


e a gente nem sabe do que é feito essa tal felicidade. a gente é péssimo artista de nós mesmos, mas a gente se diverte...

god bless silent pain and hapiness!!!

p.s. quando ia para o trabalho, depois de muito rodopiar, surtei e comprei um contra-baixo elétrico.

22 março 2004

:: o editor - parte II

acabo de imprimir os poemas em folhas soltas. deixei alguns sobre a cama e fiquei observando. é estranho eles terem essa concretude de papel. time new roman, 14. vou ajudar a dar sentido a eles. o restante das páginas penso em colocar no chão. há os meus favoritos que tendenciosamente troco para que fiquem sobre a cama. pego uma cadeira, subo, observa-os do alto. talvez não seja essa a melhor forma de editar um livro.

penso na fonte e no tamanho que usarei. nos detalhes de organização espacial para que a leitura seja agradável (será de qualquer forma). penso nas ilustrações. vou até a estante, folheio alguns livros de versos. percebo que tenho muitos. sim, gosto do verso. gosto do ritmo, da síntese e às vezes, só às vezes, da rima.

sinto preguiça em recolher as folhas. sento-me perto delas, deito-me. começo a observar o livro desse ângulo de terra, de horizonte. imaginei alguém que estará lendo antes de dormir e que antes de seus sonhos, será essa imagem em perspectiva que verá do livro.
:: café

histórias tristes. mas quem se importa? amanhã é outro dia. é o que nos resta, acho. se vou voltar a escrever em versos? a vida ordinária é uma sucessão de linhas cortas e suspensas. se há ritmo, não sei. vou rir um pouco de mim. eu mereço. ou não?


ana,

há alguns dias esta carta matuta na minha cabeça. pensei que se eu desenhasse algo bonito poderia ser metade dela. mas não consigo tê-la completa, não sei onde terminar. e por isso não comecei direito a escrevê-la. penso que não é só respostas que quero lhe enviar, mas não evito o sentimento de aconchego que quero lhe passar. a carta da minha cabeça vai envelhecendo. as notícias deixam de ser notícias. e embora seja inédito, essas palavras soam reprises.

compartilho suas questões da alma como quem comenta livro ousado. não vou dizer que não seja pesado, porque estaria mentindo descaradamente. mas talvez fosse menos amoroso se falasse apenas dos desejos e não da angustia que os sustenta. recebo a generosidade de seus sentimentos com agradecimento. mesmo que as minhas falas sejam assim secas e rudes, elas quase sempre querem dizer "obrigado".

acho sinceramente que deve parar de fumar.

mais alguns dias e posso ir vê-la. não sei a data porque datas já deixaram de ser exatas. talvez essa carta que matuta na minha cabeça tenha horas, dias ou só alguns séculos.

minhas mãos andam tremendo menos. e há uma folga sinistra nos meus tênis. acho que estou encolhendo. ou é o coração que alarga. dizem que corações grandes precisam ser mais fortes. o pulmão ajuda. e o meu é mais forte que o seu (pára de fumar!!!rs).

vou comprar um outro cão para fazer companhia a alikan. um dia faço companhia a você. a carta da minha cabeça está aborrecida por esta que vai agora é o que pude. mal sabe que ela mesma nunca será mais que isso.

bj

márcio

p.s. são paulo anda tão só.
:: na escada

certo dia, enquanto deixava minha cabeça no colo de karina, me perguntei se duraria para sempre. o que eu queria ter me perguntando era se poderia durar mais que podia. virei-me para cima e podia vê-la conversando com as amigas enquanto acareciava meu cabelos. não me lembro do que falavam, mas não consigo me esquecer do rosto dela visto desta perspectiva. virei de volta para o pátio do colégio e voltei a me perguntar.

e quando o sinal da aula tocou, fechei os olhos, virei-me a ela e fingi um sono bom. quando voltei a abri-los, ela me dizia bom dia e que sim, duraria mais que podia. chegamos atrasado na aula e as pessoas desconfiaram.

21 março 2004

:: ...

um pouco triste. chamava de cansaço, mas disseram que podia não ser. um pouco triste pelas coisas que passam e pelas coisas que não virão.

20 março 2004

:: collecting star



have you ever seen so shinning nose?


da ana.

p.s. tenho visões parecidas com essas às vezes.

19 março 2004

:: pq?

por que escrevo? já me fiz muitas vezes essa pergunta. algumas vezes, não encontrando resposta, simplesmente deixava pra lá, parava de escrever. gosto de ler. escrever é outro departamento. na faculdade, numa aula de linguística, gostava da idéia de que todo leitor é um escritor também porque ao ler, o leitor interpreta tal qual o escritor faz com o mundo. a diferença é que o escritor materializa. talvez seja isso para qualquer tipo de profissão. não faço arte, quero deixar claro. não acredito na arte como está dita por aí. eu acredito em cerejas, cartas e quartos brancos. acredito sim.

pois bem. por que escrevo? não sei. gosto de conversar com as pessoas. talvez para mim escrever seja mais ouvir que falar. porque para escrever é preciso ouvir muito, prestar atenção, ler o que o mundo nos oferece. a gente não consegue escrever tudo que a gente ouve e talvez nem queiramos. o que separamos para dar concretude nas palavras são leituras que nos tocam um pouco mais. não escrevo porque preciso escrever. acho que escrevo porque quero ouvir.

e não confio nos escritores que não traem as palavras pela coisa humana. do mais, o por que eu escrevo não importo mais para mim que para quem perguntou. eu escrevo para ter mais coisas para conversar quando sair com a galera que lê prum chopps.


ana,

recebi suas chuvas e paráquedas como quem aterriza também. dos lápis aquarelados você faz brincadeiras e visões. a paisagem lá fora está borrada, não sei se sou eu quem as borra ou se elas choronas vão decantando em si. ainda estou procurando os gizes pastel, até segunda-feira talvez desista de desenhar se não encontrá-los. falaram-me que manchar com algodão umedecido dá um ar expressionista aos desenhos. e agora eles me deram essa possibilidade remota de monet e eu só queria fazer um desenho invísivel para você...

todo dia leio um pouco seus manuscritos. preciso organizar meu tempo e dar mergulhos na sua piscina. não sei nadar, mas quero aprender. disse a mim mesmo que aprenderia a cantar também. o ano é feito de promessas. na minha cabeça passa tantas outras que fiz; se as cumpri não importa tanto agora. pois sim, eu as cumpri.

na noite seguinte da sua angústia, pensei na possibilidade de que eu também poderia ficar angustiado. no começo era vontade de partilhar a sua, depois me deu medo. todavia, é só. nada mais. nesse mundo medroso, não serei eu mais a rodar essa história de terror e cale-ses. quero ser daqueles, como você, que resistem as atrocidades com desenhos, palavras e boas receitas.

hoje estou preguiçoso. não quero chamar de cansaço que desse mal já reclamo muito. é uma carta rala, quase sem sentimento. mas era só para dizer "oi" enquanto volto a procurar o que ultimamente não consigo encontrar.

márcio

p.s. cachorinho rules!

18 março 2004

:: marla

marla gostava de lavar pés. tinha 3 bacias de diferentes tamanhos e cores. na menor, ela lavava os pés das crianças. usava um sabonete muito suave a base de frutas silvestres. ninguém sabe onde ela arranja aqueles pedaços mágicos.

na bacia maior, ela lavava os pés dos adultos. usava sal e algumas poções para aliviar dores. depois, apertava as artérias e veias, passava um pouco de talco e agradecia.

a bacia azul ela guarda para o seu amor. nunca a usou. ainda espera. é uma bacia um pouco maior que a das crianças, o tamanho suficiente para que as mãos , dentro da bacia, lavem os pés do amado sem se deixarem afastar. a temperatura da água é de 52 graus. e os sândalos são só para enfeitar, mas se ele perguntar, ela inventará algo sobre como o suco das flores tocam seus próprios pés.

marla não alcança seus próprios pés.
:: canção

me peguei sonhando até agora pouco...
:: o editor

eis-me aqui, o editor. tenho em mãos um manuscrito que talvez nem deva chamar assim. é um punhado de poemas que tenho a missão de organizar da melhor forma possível. medo? quase nenhum... essas tremedeiras não são nada, não.

para levar esse projeto tenho dois papéis pendurados no meu quadro de cortiça. o da esquerda diz "molde, corte e costura, rasgos e remendos" que é linha guia do livro. o da direita diz apenas "ana". pode não parecer muito para levar como direção, mas é o que está me bastando por enquanto.

tenho ido a livrarias para entender a linguagem dos livros. a capa, a orelha, a contra capa, etc... vou fazer reuniões com uma amiga que acabou de se formar em editoração. da última vez que eu a vi, ela não tinha cabelos.

eis-me aqui, o editor. tentando explicar a dificuldade, mas escondendo a alegria e a satisfação.

17 março 2004

:: lá

"aonde está você agora além daqui dentro de mim?"

16 março 2004

:: por que olhar pela janela?



daqui.
:: balão

às vezes me imagino morrendo só no meu canto e sinto uma leveza de balão dentro de mim. quando ele chega em meu olhos, pressiona minhas glândulas lacrimais e choro. um choro leve também porque o balão não tem mais força que isso.
:: para dizer adeus

já me diziam: "há sempre a hora de se despedir do amor". e eu sempre imaginava uma música de recomeço. como se um adeus fosse o mesmo que um olá para alguém novo.

que bobagem dizer adeus a alguém que se costumava amar. mais bobagem é dizer apenas olá para quem se ama.

15 março 2004

:: caixa de sapatos

e se a caixa se rebelasse contra sua função singela de guardadora e se pintasse e dissesse: "sou carta também"? e a ana lhe deu verniz e nossas palavras ficaram ainda mais bonitas porque se encontraram.



visitem!!!

14 março 2004



ana,

não tenho muita crença em deus, mas tenho fé. acredito em seres imaginários e sentimentos sinceros. sou desses que não sabe de que lado está a maldade, se lado dos sonhos ou das concretudes das paredes. sou desses que prefere a terra miserável a indolor vida do céu. penso no céu às vezes quando sinto dor. mas ultimamente pessoas como você tem sido o meu céu. quase não sinto dor.

a barca que navega eu conheço um pouco. organizar e dar sentido para as coisas tem sido a minha busca. sei que minha vida não é assim, mas gosto de inventar, arquitetar e sentir essa massa que vai se tornar rio. sei que é uma empresa de extrema solidão. passo maus bocados, mas é gratificante ver os seus rios dar afluentes e chegarem no grande oceano.

oh, captain, my captain!

fiquei um pouco atordoado e confuso sobre as idéias que faço de você. para mim seus braços, bocas e cabelos são muito concretos. nunca diferenciei até então a ana imaginária da ana verdadeira. é uma coisa muito bela e viva para que eu tenha simplesmente inventando, pelo menos não sozinho.

você falava de como as minhas cartas tem esse jeito aconchegante e talvez irritadiço por isso. reconheço que são. mas é temporário, volto a antiga forma fantasiosa e generosa que você merece, volto a falar da nossa casa e jardim e penso nos gatos e cachorros. o piano estou providenciando com um fabricante austríaco que diz ter conhecido beethoven. nessa vida, ana, não duvido mais de nada.

ando cansado. você são algumas horas de sono bom.

márcio

p.s. pensei em você enquanto assistia "lost in translation". a gente se encontra e desencontra nessa nossa língua portuguesa e sussurra coisas que pouca gente entende. vamos para tóquio qualquer dia desses?


:: dogville que o diga

"a principal diferença entre a felicidade e a alegria está em que a felicidade é sólida e a alegria é líquida".

j.d. salinger

13 março 2004

:: faltou perguntar

e o ângulo e a força das pedrinhas para saltarem mais de duas vezes sobre as águas?

12 março 2004

:: tupling

-- o que é isso?
-- é um barulhinho.

11 março 2004

:: estupidez

a gente vive uma época muito estúpida.

é estúpido eu ficar preocupado com uma amiga só porque ela mora em madrid. e é estúpido essa angustia que passei o dia só esperando alguém comentar se ela estava bem ou não. é estúpido mesmo.

fiquei vendo as imagens da tevê e lembrando quando assisti ao segundo avião atingir a outra torre gêmea em nova york ao vivo pela tevê egipisia. tive medo dos olhos do aeroporto. e fui fazer escala exatamente em madrid. os vôos estavam atrasados. o mundo havia parado e hoje parou de novo. mas ao contrário de dois anos e meio atrás hoje vi muito mais a sofrimento que raiva. os espanhóis sairam às ruas, em luto. não sairam espancando muçulmanos a torto e a direito. estavam tristes porque acreditam em outra coisa e essa outra coisa ficou abalada.

não sai da minha cabeça uma cena que vi na tevê enquanto esperava por notícias sobre brasileiros feridos. um jornalista brasileiro relatava por telefone o que havia visto. estava num trem que parou do lado do que explodiu. não estava entendendo o que havia acontecido. alguém gritou: foi bomba! foi bomba! estava frio. e os cortes no frio soam muito mais dolorosos. as pessoas dos prédios ao lado começaram a jogar cobertores pela janela para que as vítimas se aquecessem. foi uma chuva de cobertores!

uma chuva de afago num dia estúpido.

10 março 2004

:: politica cultural

abanava-se. estava nervosa pelas coisas desse mundo. realmente o mundo não é para as pessoas doces. não é mesmo. ficou em silêncio, irriquieta. respirou fundo. sorriu dificil:

-- vamos falar sobre amenidades?
:: para ver as meninas

aqueles momentos que você procura inconscientemente uma música que faça sentido. um incomodo de ouvir coisas próximas que poderiam dizer mas não dizem. sem vontade de voltar para as velhas músicas. resignação. novos timbres. paulinho da viola diz: posso entrar? claro, como não? e me sussurra essa canção na voz de uma mulher que desconheço:

"silêncio por favor
enquanto esqueço um pouco a dor do peito
não diga nada sobre meus defeitos
eu nem me lembro mais
quem me deixou assim
hoje eu quero apenas
uma pausa de mil compassos
para ver as meninas
e nada mais nos braços
só este amor assim descontraído
quem sabe de tudo não fale
quem não sabe nada se cale
se for preciso eu repito
porque hoje eu vou fazer
(ao meu jeito eu vou fazer)
um samba sobre o infinito."

e repito na mesma cadência:

"porque hoje eu vou fazer
ao meu jeito eu vou fazer
um samba sobre o infinito".

e estamos aí.

09 março 2004

:: work song

estou perdendo o jeito. estou sim. tinha facilidade em organizar frases, agora qualquer coisa soa barroco. gosto das coisas simples e diretas e não tenho mais sido simples e direto. talvez esteja fantasiando demais e vivendo de menos. mas como disse seu borges: de que lado do olhar estamos? não que eu desgoste das histórias que eu ouço e registro, não é não. mas cada dia ando sentido falta das minhas histórias, poemas sofregos, piadas internas e confusão mental. dificilmente escrevo para os amigos próximos, eles nem me visitam mais aqui. não sei se perco a vontade de falar a eles por causa dessa certeza de que não lerão. uma coisa empurra a outra e todos somos empurrados para uma direção que não sabemos se é a melhor.

estou perdendo o gosto pelas coisas. me interesso pouco pelos filmes. não vejo tanta tevê assim. não procuro novidades na internet e não garimpo mais atrás de bandas malucas. talvez a leitura tenha melhorado, mas acho que é remorso pelo atraso. antes minha cabeça pensava em função de videos. tinha idéias e imaginava cenas e ia lá produzir. hoje durmo mais que imagino. assim é dificil fazer algum video.

presto atenção nas angustias das pessoas. mas não tenho tanta força para ajudar. é um sentimento que tempos atrás me revoltaria, mas que hoje me afeta menos. pessoas chamam isso de sensatez, eu ainda chamo de covardia, mesmo que diga que é sensatez também. algumas coisas nos dão força. outras simplesmente retiram com brutalidade ou pior: com serenidade. quando percebemos, talvez seja tarde demais. ou talvez não seja.

não tenho tanto a perder assim. mas o que tenho é precioso. isso talvez seja a má interpretação que faço do mundo: tenho apego a poucas coisas e me irrito por ter tantas poucas coisas, então me apego com certo desdém. os sonhos tenho muitos. posso dar e vender. os sonhos também têm perdido cada vez mais o sentido. quem não me conhece me chama de pretencioso, quem conhece só acha que sonho demais e que isso vai me fuder de jeito algum dia. talvez me arrependa de tantos sonhos. até lá me dá calafrios me arrepender de sonhos.

a gente vai vivendo como pode. pegando pelo caminho objetos que cairam do bolso, negligenciando outros. a gente olha para cima, vê o céu e nega a cidade. a gente olha a cidade e esquece do céu. a gente esquece de que a cidade é feita de pessoas. a gente esquece que é pessoa também e é esquecida. um homem sábio compreende sua solidão, mas isso não quer dizer que queira viver entendido. cada vez que refaço meu roteiro da cidade, percebo que ando perdendo o jeito. talvez seja uma ferrugem fácil de solucionar. mas acho que é falta de amor mesmo.

vou trabalhar.

08 março 2004

:: song #1

há uma comoção austera em se receber presentes. mesmo quando são tão antecipados, ainda nos pegam de surpresa alguns detalhes que mesmo com nossa perspicácia, não conseguimos prever de todo. o correio tocou a campainha às 9 horas da manhã, eu já sabia que era para mim porque o carteiro da vizinhança normalmente passa de tarde e normalmente não recebo nada além de impostos e malas diretas.

o som da caixa dizia que havia uma outra dentro. tomei cuidado em abrir, mas como havia muitas fitas adesivas acabei perdendo para a ansiedade e fui rasgando. quando percebi, havia destruido parte do endereço. sabia que tinha guardado o endereço numa agenda, mas a possibilidade de perder o endereço me acovardou. tomei a mesma serenidade e restitui todas as letras do remetente. foi a primeira vez que prestei a atenção nas letras e como eram verdadeiras letras de menina. aquelas formas imperfeitas me disseram algo muito humano, mas não sabia bem o quê..

a caixa contida era bem menor que contigente. era densa também. desfiz os elásticos e abri a tampa florida: a fita prometida, um cartão pequeno e uma carta. infelizmente não pude ouvir a fita porque me desfiz de todos os aparatos analógicos. a carta me entreteu até o meu trabalho onde consegui passar o conteúdo da fita para um cd.

fiquei pensando em como os suportes mudam nossa relação com o mundo. li a carta e nele vi muito além do que havia sido escrito. imaginei ela escrevendo com suas letras de menina, hesitanto no acento do meu nome, insegura com tantas palavras e idéias sem poder articulá-las em folha lisa e tinta. falta de prática, talvez. circulava o número 1 que era primeira de muitas que pretende gravar. justificou a falta de data com a vontade de ser eterna. e me deu essa sensação de eterno ao ver o "i" de sua assinatura muito semelhante aos "is" da minha infância. talvez, em épocas remotas, eu tivesse o costume de fazer "is" assim.

dobrou com imprecisão em 8 e com a ajuda do peso da fita pressionou o suficiente para que tomasse seu lugar.

ouvi a fita com um pouco de hesitação também. conhecia algumas músicas, mas a maioria era interrogação. gostei de todas. abusou ao colocar nina simone que é como um tiro de misericórdia. não chorei orgulhoso que sou. mas o que me causou mais comoção foi ler e ouvir o cd ao mesmo tempo. o mundo me soou encantando, como se pudesse ter compreeendido com exatidão o que representavam as letras, melodias e aquela letra de menina.

guardei a carta na caixa e continuei ouvindo o cd-fita. pensei que o mundo fosse feito desses pequenos detalhes e que eram tantos que poderiam caber numa caixa. e enquanto ouvia belle and sebastian, ela era pessoa mais bonita do mundo.

:: sister dew _ deus

"please forgive me if I keep on smiling
but every sad story has a funny side in
from that moment on I felt like crying... every day.
all around us there were people screaming
for half a second I thought I was dreaming
my baby looked at me her eyes were beaming,
i walked away."
:: telma

veja bem. não me importa se você não liga mais para mim. pois sou eu quem fica vendo seu rosto em rosto alheios. não me venha me procurar só quando você precisa porque apesar de me sentir bem quando sou útil, sei que não é para sempre mesmo que eu mesmo não acredite no para sempre. sei que não liga em fazer parte da minha vida, mas você poderia tirar esse sorriso do rosto. me desconcentra deveras.

07 março 2004

:: dolores

só alguém como ela para projetar um espaço na casa para ele fazer suas experiências estelares: uma varanda que se volta para o céu, sugestiva. espaço para os equipamentos que não se sabe se chegarão. no-break para o computador e um banco para inventarem juntos e abraçados as novas gerações de foguetes.

:: a noite

quando alice chamou pedro para jantar, ela sabia que ele andava triste por um amor não correspondido. soube através de débora, uma amiga em comum. alice usou sua fama de mulher fácil para não causar estranhamento ao chamá-lo, usaria decotes e boa maquiagem. ela assistiu a um sorriso pequeno mas muito meigo. talvez pudessem ir ao cinema antes ou mesmo passear pelo parque que era caminho do restaurante.

quando pedro recusou o jantar de alice, ele sabia que ela fazia isso por pena. dias antes, lera sem querer um caderno de alice que estava com débora. entre biologias e quimicas, leu: "por que nunca ninguém me amou?".

pedro a achou extremamente bela naquele pedido, muito mais de quando ela usava decotes e maquiagens caras. ela não era tão bela quanto falavam, mas ele viu as olheiras mais sinceras e lindas em seu rosto.

pedro não recusou o passeio no parque e sugeriu um café. ela aceitou e ambos foram abraçados atravessar a noite fria.

(depois de assistir ao último epsódio de dead like me)
:: a song about you

passei a noite inteira pensando em motivos para que você ficasse. coisas que pudessem ancorar sua levitação natural. sei que não é próprio dos homens alçarem vôos, mas é sua paixão pela liberdade que mantêm a leveza e julga as profundidades. passei a noite toda pensando em objetos, razões e circunstâncias que facilitassem sua decisão para ficar.

mas não são cordas que deve amarrar nas árvores feito balão. quando adormeci, sonhei que eram seus braços que tocavam (seguravam) as raízes das flores que mais ama.


ana,

escrevo ainda com o frescor da nossa conversa que embora não fosse de timbre fiel, revelou a tensão e a disritmia da sua voz doce. o mundo é som também, pude comprovar. não fosse pela música, talvez me satisfazesse apenas com sua voz. poderia ter pedido que cantasse, mas não me ocorreu. seus risos me distrairam muito.

não sei muito do destino. talvez pregar peças seja mais ameno que má sorte. tenho impressão de que nos atribuem muito mais desencontros que encontros. muitas vezes devo ter passado por você ou coisa que pudesse ter você e não reconheci -- lembro-me de angela ro ro cantando em véspera e dor: "enquanto me tiver/ que eu seja a última e a primeira,/ e quando eu te encontrar,/ meu grande amor, (por favor), me reconheça". não se ocupe muito do telefone, ligo mais quando puder. a minha insistência pode disfarça qualquer má sorte.

não recebo muitas ligações. mas as que chegam são precisas. talvez pela raridade, talvez pela especificidade. embora pareça conversa jogada fora, é desses papos que tiro lições de algebra, culinária e estórias. me intero, mesmo com deficiência, do mundo que acompanho com dificuldade. as outras vidas que estão longe correm paralelas em vias de comunicações invisíveis. as palavras não só informam o peso, o custo do algodão, os acontecimentos da família. a cada palavra sei se a vida está sendo boa com quem me preocupo. a cada som percebo o mundo se mover e que todos temos sonhos.

italo calvino nas suas cidades invisíveis relata muitas histórias sobre cidades duplas, cidades que possuem um reflexo inventado de acordo com a loucura local. imaginei que somos muitos e que identidade é quase fé. não sei quantas anas há por aí, não sei quantas estão em meus olhos e ouvidos. seriam análogos os fins das cidades com os sentidos das anas?

as cidades não tem fim.

marcio

06 março 2004

:: up in clouds

quero escrever como os passarinhos: analfabeto, sem caneta, sem linguagem e achando normal ter asas.

05 março 2004

:: retomando a esquisofrenia

devido a um impasse lógico-moral, resolvi retomar o blog. o sucesso aparente do zine me parece um motivo bom para continuar, embora com mais cadência.

isso aqui dá trabalho, viu? =)

gostaria de agradecer a todos que fizeram críticas ao zine impresso. muitos erros ainda, mas o próximo será melhor. assim espero.

p.s. preciso retomar também as letras maiusculas para o meu próprio bem...

p.s.s. beijos pra izis.

p.s.s. quem quiser o zine impresso é só mandar o endereço para marcioyonamine@yahoo.com.br.

01 março 2004

:: bacharel

agora ele tem um título: bacharel em comunicação social. mas há tantos outros menores, desimportantes e quase que não são títulos que conquistou durante seus estudos. não o chamem de mais nada além do nome e um olá.

agradecimentos a todos que torceram por mim. mais que um diploma, foi o fechamento de um ciclo. não pago mais meia entrada, mas posso ler com mais paciência os livros da minha lista de espera. reservo mais tempo para escrever cartas também. a cabeça está leve, mas o coração é o mesmo.

força sempre.