a million parachutes

for us

29 novembro 2003

:: we never change

nós sempre tentamos ser pessoas melhores. superar dificuldades e contruir futuros de lego. sempre mantemos o bom humor que achamos que são próprios. são sempre os mesmos dedos e braços e percepção do acaso. reclamos de quem nos aborrece e sonhamos com quem não nos ama. é sempre uma tentativa de mudança, promessa de final de ano. mas nos reconhecemos nos mesmos erros.

persistimos nos nossos amores. teimamos em acreditar no jeito de ser nós mesmos. se uma pedra nos dificulta o caminho, analisamos a pedra, descobrimos cor, formato e gosto. calculamos trajetória, inclinação, coeficiente de destruição. mas não chutamos. deslocamos um pouco, pensando que nos atrapalhará menos. e é assim. seguramos o choro ou choramos demais. assistimos a filmes para desacreditar da vida. lemos livros que não nos diz respeito. ouvimos canções sombrias para nossos corações sombrios com a pouca consciência de que elas podem deixá-los mais sombrios. e chamamos de belo o que nos convém.

e ainda há esses que trazem esperança. otimismo de barbarie. e há os que não acreditam na felicidade e há os que não sabem o que é felicidade. e há os que sabem por outros o que é felicidade.

não sou o que estou contido. eu sou o que me sobra. eu sou o que me falta.

28 novembro 2003

:: estrela

no momento anterior ao de virar estrela, rita decidiu desistir de virar estrela.

sonhou a vida inteira em pertencer a uma constelação, brilhar e inspirar, para depois virar supernova.

mas conheceu andré que tinha qualquer coisa de satélite e planeta. pensou em ser feliz.

foi quando explodiu.
:: retrospectiva _ um sonho

estavas com machucados. a boca ferida, vermelha. os labios cortados. talvez um corte perto da sombrancelha direita. os cabelos desiguais. era um lugar que lembrava um cassino. luzes difusas que quase piscavam. todavia, sorriste como que se dissesse "não se preocupe, passa".

(fevereiro de 2003)
:: retrospectiva _ teus olhos

penso que deve haver muita esperança por aí,

senão por que insistiríamos em escrever histórias infantis? lavar pratos, marcar encontros, produzir roteiros e conhecer novos amigos? por que o bom humor, as canções, o estoque de chocolate, a alternativa de um dia andar na chuva? por que explicar letras de música, ilustrar monólogos, acreditar nas superbaladas? por que o discurso sobre os novos amores, por que o desafio ao medo, a reconciliação com pessoas queridas, planejamento de viagens, mudanças de móveis e letras e acentos? por que guardar coisinhas como bilhetes, cartas, objetos semi-inuteis, memórias, enfim? por que desafiar as correntes, ler e reler e querer ler novamente, aprender softwares, novos estilos e crenças e designs? por que procurar figuras no google, mandar longos emails, manter-se moral? por que esperar pela noite? por que esperar pelo dia?

sim, penso que deve haver muita esperança por aí.
e nos teus olhos, muito mais.

(janeiro de 2003)

27 novembro 2003

:: antonia

marcelo desistiu de antonia porque ela lhe trazia esperança.
:: cássia

no braço esquerdo de cássia, há uma veia que visivelmente palpita. nunca conseguiu esconder bem os sentimentos com um indicativo de coração tão evidente.

não foi feliz no amor. talvez por causa da sua palpitante veia, talvez não.

mudou-se para o extremo sul. usou blusas e tatuou sobre a veia um corrego que, apesar dos pesares, nunca congelou.
:: insônia

são quase 6 horas da manhã.

e eu pensando nela. fiquei o dia inteiro pensando nela, a não ser quando dormia. dormi a tarde e não pensei nela. e eu nessa luta para dormir e não pensar nela, os meus dias tem sido pequenas e quase ralas angústias. persistem feito som. às vezes parece silêncio, mas só deixando um agulha cair que se percebe o quanto silencioso foi, mas aí já não é mais silêncio. meu coração apertado diz: você precisa sair da terra. então me imaginei em satélites, porque sou covarde para não sair da terra.
:: retrospectiva #02 _ ansiedade

ando sentindo ansiedade,
excesso de manteiga no pão e sucos muito doces.
não presto atenção no amassado de minhas camisetas e nem se minhas bermudas ainda estão umidas.
o café está muito forte e me contenho para não pular para a última pagina do livro.
aparentemente parece que já assisti a todos os filmes e conheço todos os ganhadores dos gameshows.
se uma ou outra notícia se mostra mais cor-de-rosa, surpreendo-me com alegria exarcerbada e não consigo deixar de ouvir a mesma fita com as mesmas músicas no mesmo walkman.

o tempo chuvoso, passa! o tempo ensolarado, passa!
o céu azul... nem era um céu azul quando nos despedimos.
as pessoas andam apressadas nas ruas... estão apressadas ou sou eu quem as apressa?
meus dedos nesse teclado não acompanham os meus pensamentos.
e meus olhos, o coração.

...ando sentindo sua falta.

(dezembro de 2002)

26 novembro 2003

:: retrospectiva #01

o parachues nasceu de um outro blog chamado "time machine". uma máquina do tempo melancólica, quase nostálgica. aí acabou. tinha resolvido não escrever porque nenhum amigo meu lia mesmo. aí na véspera de natal nasceu o parachutes por causa dessa música linda do sixpence. não perdeu a melancolia, mas durante o ano foi uma tentativa de superá-la. muitas pessoas olharam e foram. outras, ficaram. muita gente me encontrou por aqui - gente importante hoje para mim. muita gente importante nem sabe que isso existe.

falta um mês para o primeiro ano desse humilde blog. como não tenho tido muito tempo para colocar coisas novas, vou postar coisas antigas também numa retrospectiva do que achei mais legalzinho. divirtam-se.

:: anotações

fico feliz quando encontro papeizinhos com anotações
entre páginas dos livros que li.
como minha letra era diferente,
quantas palavras deixei de usar,
e que amores diferentes já tive.

anoto tudo isso e deixo num outro livro
e já não sei mais o que é memória.

:: icq

muitas horas no icq, onde andam meus amigos?
perdi o jornal das oito e considero o filme que vai passar logo depois ruim.
os livros parecem mais grossos embora as letras estejam maiores.
no laboratório de minha gaveta, muitas anotações para cartões postais,
despedidas fingindo ser abraços de benvindos.
alguém online: occupied. não incomodarei.
away: talvez mais próximo do que imagino.

deveria ter um status: saudade.

(dezembro de 2002)

24 novembro 2003

:: recado



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23 novembro 2003

:: regina

regina não ia bem nas aulas, era distraída. no colegial, falava muito pouco com os colegas. repetiu pouco, mas ficou de recuperação sempre. levaram-na em psicólogos, pedagogos e pais de santo. tudo que ela tinha era um caderno com desenhos bicolores. eram rascunhos de tatuagens.

regina tinha várias tatuagens. era o seu verbo. dizia para as pessoas o que queria ser, o que gostava de comer, ouvir. o que lhe fazia falta, o que tinha de sobra.

foi quando um garoto lhe mostrou o braço tatuado. estava ainda vermelho. era a figura de uma menina.

-- é você. ele disse.

-- não parece. ela respondeu.

-- e tem quê?
:: exagero

esse blog é um exagero? sou uma pessoa exagerada? o que é exagero?
:: elizabete

quando seu melhor amigo deixou o país por causa das perseguições políticas, elizabete foi se entristecendo aos poucos. não tinha esse poder imaginativo de achar que tudo acabaria bem. ela vivia o presente e no presente não havia marcelo. tentou com a sugestão de amigos criar a esperança, mas não pôde.

marcelo era quem lhe fazia companhia. sabia fazer biscoitos com diâmetros de anéis. brincavam de casamentos desfeitos com mordidas. reiventados em outras fornadas. ela sabia pintar; ele, desenhar. criaram personagens e suas casas. suas capas, os discos. não era feliz, não tinha noção de felicidade.

quando veio a anistia, marcelo voltou. procurou por elizabete que estava internada num sanatório sereno, quase uma campina.

ela não o reconheceu. mas sorria.

marcelo viu no rosto de elizabete os anos que não esteve: os de loucura por causa da tristeza. e em seu próprio rosto havia algo entre regaste e motivos para continuar.


:: críticas

depois de algumas opiniões a cerca desse blog, resolvi: vou ser escritor de sitcom; ou fazer roteiros para filme woodyalleniano; ou criar aves que estão quase em extinção -- o que vier primeiro.

22 novembro 2003

:: ana e seus arquivos #02

e se fosse apenas pavor? uns dias se espera pela chuva, mas ela não vem. irritadiça por um lado, alívio do outro. estaria mais certa por esperar pelo pior ou por acreditar que pode dar certo?

e se fosse somente medo? há quem diga que é o que nos guia, mas será que nos dá sentido? você falava de portas abertas para dentro e para fora. você também falava sobre noites em que há o absurdo. há absurdos semelhantes nesse relacionamento que você tem com as palavras e a realidade. talvez a poesia etérea seja mais concreta do que se pensa. talvez seja tão concreta quanto uma pedra de magritte.

tem dias que somos pouco ana e muito menos paula. e desses dias me esqueço fácil.
:: quem lê tanta notícia ?

já faz um tempo que o número de visitantes anda caindo. eu mesmo não tenho consiguido postar coisas por aqui. sei bem que as pessoas andam ocupadas. umas me encontram, outras tantas somem por aí. quem passa por aqui? deixe um recado para eu saber. =)
:: logos

novas fotos para o logo. comentem.

20 novembro 2003

:: anos incríveis

eu assistia aos anos incríveis, todos os finais de tarde, depois da escola. divertia-me com a complexidade do simples, reconhecia-me muitas vezes. e embora ficasse ansioso pelo último episódio, não gostaria que tivesse um fim.

e não teve.

penso muitas vezes nesse seriado. na tevê a cabo, a série está passando novamente. mas desta vez, os tempos são outros, eu sou outro. assisto de dois jeitos que se confundem: um como arnold garoto, outro como a voz de arnold já memorialístico. lembro-me de que na época me angustiava com a idéia de passado, de ter um passado esquecível, sem importância.

hoje respiro mais tranqüílo: o que eu esqueço, lembro-me prontamente com alegria. não é minha voz que fala das pessoas passadas. são as pessoas que passaram que me sussurram conselhos de novos programas de tevê.

19 novembro 2003

:: paciência

hoje perdi minha carteira. já estou cansado de ficar perdendo as coisas. já perdi a paciência de mim mesmo...

18 novembro 2003

:: a hora da estrela

no programa de tv da cazé, há o processo. ensaios, leituras, a própria autora aparece. clarice tem esse jeito estrangeiro para acentuar ainda mais a nossa sensação de estrangeiro de nós mesmos. no livro, o autor fica metade do tempo da narrativa decidindo-se pela narrativa ou não. até o próprio autor questiona a validade de se contar a vida de macabéa.

macabéa é triste, mas é potência de felicidade. há muitas macabéas, há macabéas que são muitas.

e a hora da estrela é esse momento em que a multidão vê seu próprio desespero. é o momento que chegará para todos e todos reconhecem. no programa da cazé, o final é diferente. chama-se o dublê. a cartomante erra acertando. e me espantou -- um espanto de alegria -- esse novo final com o qual sempre sonhei secretamente - quem sou eu para imaginar por clarice? -- mas que nunca imaginava ver.

e me deu esperanças pensar que clarice pudesse ter inventando outros finais que não esse. e me deu coragem ao perceber que esse escolhido é tão bom quanto qualquer outro que eu imaginava.

17 novembro 2003

:: the weather channel

aqui dentro é uma chuva rala e ventos de entortar galhos.
:: ana e seus arquivos #01

o que sei de você? quase nada. vivemos num tempo de quase tudo. temos quase tudo a nossas mãos. quase todos os desejos, quase todos os beijos, farelos, guia de compras, industrializantes formas de se fazer queijo. temos quase todas as doenças e quase todas as curas possíveis. quase todas as informações achamos na internet. mas o que sei de você?

me ocorreu, numa hora vazia dessas, ler os seus arquivos. memória teclada, rascunhos e vestigios de dias simples. e desmiuçando cada post, você ia sendo reinventada - pois invenção é a imaginação sabotando o nosso costume de realidade. soube de suas viagens e amigos; da sua falta e da solidão; da sua inclinação para o verso; cremes para a pele fresca de mulher. uma vida que embora eu soubesse da existência, não sabia como se dava. saber da existência é tão pouco, percebi. na existência não há a prática, o estar, ou pelo menos, não com a força natural de um convívio.

essas memórias eletrônicas me fizeram pensar que no mundo há muito mais do que se imagina e aglutiná-los na palavra existência é descaso.

e mesmo que eu não saiba quase nada sobre você, como em seus arquivos está dito: saber sobre você pode significar "desejar saber sobre você".

16 novembro 2003

--- Sentenças ---

Nós nunca mudamos

Ela não liga pra luxos, nem luxos ligam pra ela, mas por um breve estouro decidiu que seria princesa.
E tentando descobrir como prendia a pequena coroa de strass, a quebrou.
Não chorou mas percebeu que nunca ia ser princesa, por que não lhe cabia esse papel. Ela não cabia ali.
Era mais, mas não muito.
Nunca aprenderemos a sangrar, mas nos aperfeiçoaremos na arte de encontrar novos machucados.

Olhos verdes

Embora a música acomode-se nos seus sonhos,ela já não sabe exatamente onde ela começa e a música termina.
E vice-versa.
O sol pode ser de qualquer cor, mas os olhos, estes serão pra sempre verdes, mesmo que não.

Dormir

As esperanças cansadas. O copo que faz marca no apoio, porque o gelo derrete. E o sono, e o sono.
Eu queria cantar pra você dormir, mas eu já não sei mais músicas.
Já que vamos fugir da luz, deixe-me pelo menos brilhar junto contigo.
O bem querer, você não sabe que eu não consigo dormir de noite? Daí eu chamo seu nome.


Amsterdam


Whisper a little pray for me my babe.
Prostitutas no subterrâneo, pombos nas grades, chãos imundos e nós poderíamos estar satisfeitos.
As coisas não justificam os chás, os folheados recheados de queijo ou coisa que o valha, os amanteigados com geléia.
A vida se auto-justifica em amsterdam e a gente praguejando contra as coisas que queríamos fazer especialmente por nós.
Todo mundo precisa, eu também.

Você só vive uma vez

"Isso é dedicado ao 'um' que eu amo". Enquanto repete acaba acreditando e pára de súbito e corre do palco.
Não entendendo, batem palmas, enquanto chora atrás de cortinas em frente a espelhos, puxa fios de cabelos de outros passados.
Aonde começa a chover e termina o arco-íris há muito mais que um pote de ouro e um duende safado.
Talvez haja alguém a quem ame, ou a quem cante.
Pede algo bem forte, e fuma pela primeira vez. Tosse, engasga, e os olhos enchem de lágrimas. Fez isso pra poder confundir choro
com os mecanismos do corpo que trazem lágrimas aos olhos e pra lembrar que amanhã talvez seja hoje.

Mundos bonitos

Eu deixei você me pintar da cor que preferia pra alegrar um pouco seus súbitos de apaixonar.
Você podia colocar as flores aonde quisesse, desde que soubesse aonde estariam quando estivessem mortas e fosse preciso
desfazer-se delas.
Podia haver campainhas, sinos ou rádios portáteis espalhos por todos os cômodos, cada um tocando uma música diferente.
Você podia ter colocado Beethoven, ou Mozart, mas você insiste nas letras que cisma cantar.
Segundas-feiras passaram a ser promessas. Domingos eram as estampas e as tintas.
Eu desenhei em post its mundos perfeitos e você os grudou na geladeira pra lembrar da felicidade quando o mal te acometesse.
Tenhamos destinos fabulosos e nos ocupemos das vidas perdidas por aí.

[Para Liza Sera-fim e Márcio Yo.]

from cristiane conti. muito grato, querida.

15 novembro 2003

:: fantasmas

no ônibus, acomodo-me num lugar perto da janela. o caminho é longo e já sou grato por ter um lugar para sentar.

então, percebo que há pétalas no chão, provavelmente de margaridas. durante boa parte da viagem, equilibro-me para não maltratá-las ainda mais.

perto do meu ponto, penso por que isso? por que me retenho a elas que nem flores são mais? e nem para mim foram deixadas; fazem parte de outra história. por que tentamos conservar com tanto preciosismo esses resquícios de beleza que nem nos pertence?

os fantasmas estão bem mais próximos do que imaginávamos.
:: sexta-feira

é sexta-feira. do metrô desembarca um bloco de pessoas, massa heterogênea e sonora. devem estar em 20, cabelos feitos e roupa de sair. discutem música, casos, namoros e trijeitos. riem, falam de si. estão felizes, proque é sexta-feira e podem estar juntos.

vejo neles uma esperança simplória de um noite inesquecível para as outras seis noites quase sem importância.

já se foram e meu ônibus tarda a partir.
:: a luz disperdiçada

da janela vem essa luz disperdiçada, uma luz que já foi muito forte. ela bate na parede branca e dá a clareza para outras partes do quarto. é silênciosa embora queira dizer muito. meio deitado nessa cama, com vontade de levantar, penso em você. penso que você poderia estar aqui, deitada comigo, ouvindo esse silêncio aterrador para depois sussurrar uma verdade inventada e doce. você estaria olhando para o teto, pensando nas estações que passaram e estão passando. meio a revelia da minha presença. aí, dando conta, viraria para mim e sorriria enquanto a luz disperdiçada se enfraquecesse e a noite nos tomasse por bons visitantes.

eu ameaçaria ligar o som, você pediria para que não. porque só restaria o silêncio da ausência. esse mesmo silêncio que essa luz agora me faz estar. penso em suas estações. penso que já é tarde para fechar a janela.

14 novembro 2003

:: irish coffee.

vou me embriagar. vou manter a lucidez. vou permanecer acordado até o momento que diga que é hora de deixar. vou cair ali em itacotiara, fazer castelos de areia de um tempo medieval que não tive. vou desdenhar a fresta. fazer da confusão que é minha cabeça, uma festa de serpentinas. vou falar das viagens que não tive, das pessoas ausentes que nunca vi. vou discutir uma saudade que não é de mim. é de alguém que me ensinou irish coffee.

13 novembro 2003

:: have a nice day, sir.

12 novembro 2003



A NAVEGAÇÃO DA CASA

Muitos inversos rudes já viveu esta casa. E os que a habitaram através dos tempos lutaram longamente contra o frio entre essas paredes que hoje abrigam um triste senhor do Brasil.

Vim para aqui enxotado pela tristeza do quarto do hotel, uma tristeza fria, de escritório. Chamei amigos para conhecer a casa. Um trouxe conhaque, outro veio com vinho tinto. Um amigo pintor trouxe um cavalete e tintas para que os pintores amigos possam pintara quando vierem. Outro apareceu com uma vitrola e um monte de discos. As mulheres ajudaram a servir as coisas e dançaram alegremente para espantar o fantasma das tristezas de muitas gerações que moraram sob esse teto. A velha amiga trouxe um lenço, me pediu uma pequena moeda de meio franco. A que chegou antes de todas trouxe flores: pequeninas flores, umas brancas e outras cor de vinho. Não são das que aparecem nas vitrinas de luxo, mas das que rebentam por toda parte, em volta de Paris e dentro de Paris, porque a primavera chegou.

tudo isso alegra o coração de um homem. Mesmo quando ele já teve outras casas e outros amigos, e sabe que o tempo carrega uma traição no bojo de cada minuto. Oh! deuses miseráveis da vida, por que nos obrigais ao incessante assassínio de nós mesmos, e a esse interminável desperdício de ternuras? Bebendo esse grosso vinho a um canto da casa comprida e cheia de calor humano (ela parece jogar suavemente de popa a proa, com seus assoalhos oscilantes sob os tapetes gastos, velha fragata que sai outra vez para o oceano, tripulada por vinte criaturas bêbadas) eu vou ternamente misturando aos presentes os fantasmas cordiais que vivem em minha saudade.

Quando a festa é finda e todos partem, não tenho coragem de sair. Sinto o obscuro dever de ficar só nesse velho barco, como se pudesse naufragar se eu o abandonasse nessa noite de chuva. ando pelas salas ermas, olho os cantos desconhecidos, abro as imensas gavetas, contemplo a multidão de estranhos e velhos utensílios de copa e de cozinha.

eu disse que os moradores antigos lutaram duramente contra o inverno, através das gerações. Imagino os inversos das guerras que passaram: ainda restam da última, farrapos de papel preto nas janelas que dão para dentro. Há uma série grande e triste de aparelhos de luta contra o frio: aquecedores a gás, a eletricidade, a carvão e óleo que foram sendo comprados sucessivamente, radiadores de diversos sistemas, com esse ar barroco e triste da velha maquinaria francesa. Imagino que não usarei nenhum deles; mas abril ainda não terminou e depois de dormir em uma bela noite enluarada de primavera acordamos em um dia feio, sujo e triste como uma traição. O inverno voltou de súbito, gelado, com seu vento ruim a esbofetear a gente desprevenida pelas esquinas.

Hesitei longamente, dentro da casa gelada; qual daqueles aparelhos usaria? O mais belo, revestido de porcelana, não funcionava, e talvez nunca tivesse funcionado; era apenas um enfeite no ângulo de um quarto; investiguei lentamente os outros, abrindo tampas enferrujadas e contemplando cinzas antigas dentro de seus bojos escuros. Além do sistema geral da casa – esse eu logo pus de lado, porque comporta ligações que não merecem fé e termômetros encardidos ao lado de pequenas caixas misteriosas – havia vários pequenos sistemas locais. Chegaram uns amigos que se divertiram em me ver assim perplexo. Dei conhaque para aquecê-los, uma jovem se pôs a cantar na guitarra, mas continuei minha perquirição melancólica. Foi então que me veio a idéia mais simples: afastei todos os aparelhos e abri, em cada sala, as velhas lareiras. Umas com trempe, outras sem trempe, a todas enchi de lenha e pus fogo, vigiando sempre para ver se as chaminés funcionavam, jogando jornais, gravetos e tacos e toros, lutando contra a fumaceira, mas venci.

Todos tiveram o mesmo sentimento: apagar as luzes. Então eu passeava de sala em sala como um velho capitão, vigiando meus fogos que lançavam revérberos nos móveis e paredes, cuidando carinhosamente das chamas como se fossem grandes flores ardentes mas delicadas que iam crescendo graças ao meu amor. Lá fora o vento fustigava a chuva, na praça mal iluminada; e vi, junto à luz triste de um poste, passarem flocos brancos que se perdiam na escuridão. Essa neve não caía do céu; eram as pequenas flores de uma árvore imensa que voavam naquela noite de inverno, sob a tortura do vento.

Detenho-me diante de uma lareira e olho o fogo. É gordo e vermelho, como nas pinturas antigas; remexo as brasas com o ferro, baixo um pouco a tampa de metal e então ele chia com mais força, estala, raiveja, grunhe. Abro: mais intensos clarões vermelhos lambem o grande quarto e a grande cômoda velha parece se regozijar ao receber a luz desse honesto fogo. Há chamas douradas, pinceladas azuis, brasas rubras e outras cor-de-rosa, numa delicadeza de guache. Lá no alto, todas as minhas chaminés devem estar fumegando com seus penachos brancos na noite escura; não é a lenha do fogo, é toda a minha fragata velha que estala de popa a proa, e vai partir no mar de chuva. Dentro, leva cálidos corações.

Então, nesse belo momento humano, sentimos o quanto somos bichos. somos bons bichos que nos chegamos ao fogo, os olhos luzindo; bebemos o vinho da Borgonha e comemos pão. Meus bons fantasmas voltam e se misturam aos presentes; estão sentados; estão sentados atrás de mim, apresentando ao fogo suas mãos finas de mulher, suas mãos grossas de homem. Murmuram coisas, dizem meu nome, estão quietos e bem, como se sempre todos vivêssemos juntos; olham o fogo. Somos todos amigos, os antigos e os novos, meus sucessivos eus se dão as mãos, cabeças castanhas ou louras de mulheres de várias épocas são lambidas pelo clarão do mesmo fogo, caras de amigos meus que não se conheciam se fitam um momento e logo se entendem; mas não falam muito. Sabemos que há muita coisa triste, muito erro e aflição, todos temos tanta culpa; mas agora está tudo bom.

Remonto mais no tempo, rodeio fogueiras da infância, grandes tachos vermelhos, tenho vontade de reler a carta triste que outro dia recebi de minha irmã. Contemplo um braço de mulher, que a luz do fogo beija e doura; ela está sentada longe, e vejo apenas esse braço forte e suave, mas isso me faz bem. De súbito me vem uma lembrança triste, aquele sagüi que eu trouxe do Norte de Minas para minha noiva e morreu de frio porque o deixei fora uma noite, em Belo Horizonte. Doeu-me a morte do sagüi; sem querer eu o matei de frio; assim matamos, por distração, muitas ternuras. Mas todas regressam, o pequenino bicho triste também vem se aquecer ao calor de meu fogo, e me perdoa com seus olhos humildes. Penso em meninos. Penso em um menino.

Paris, abril, 1950.

BRAGA, Rubem. A Borboleta Amarela. Rio de Janeiro: Editora Sabiá, 1963. p. 21-25.

p.s. rubem braga rules. a casa invísivel se move...
razões para partir
(a partir de texto de ana paula mangeon)

você vai embora. e nem pensou qual será a jornada. agora o importante é partir para uma falta merecida. pegará navio, trem , avião, metrô. as paisagens escapando dos seus olhos. o coração leva para deixar em qualquer outro lugar. é assim: nem sabe que tipo de malas preparar.

malas compactadas, cheias, para estadias longas. malas poucas para volta rápida. mala vazia para nova vida. comprar outras malas para trazer presentes. ou não ter mala nenhuma, mas mochila.

vai deixar pai, mãe, amigo, namorado, cachorro. despedaçará sua presença em fotos e cheiros e trijeitos de perfumes organizados na pia. quem sentirá sua falta? quem você gostaria que sentisse?

parta. inicie o movimento. seja o cavaleiro e o moinho de vento. seja o vento. roupa leve, pele fresca. o mundo diz o que você gostaria de ouvir de si mesma: atravesse-me! envie postais, recados, pensamentos e fantasmas. experimente comidas com outros têmperos, visite reinos. divirta-se com a diferença. resista a amplitudes de temperaturas e humor. chegue, volte.

partir é o começo de chegar.
partir é o começo de voltar.
:: parachutes radio station #04

a quarta edição do programa acontecerá no domingo, 'as 22horas. será um especial "one i love", com músicas temas do blog http://www.oneilove.blogspot.com e mais umas cositas mais. ouçam!

o link para a rádio no dia do programa está do lado esquerdo da página.
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11 novembro 2003

pedaços de uma cecília imaginária #01

_ não abuse

cookies que se curam. muffins que flutuam. pavês de limão extraordinãrios. essências e baunilhas. flores comestíveis. receitas frescas, tão frescas quanto a idéia de felicidade. a eterna busca de felicidade. um chá. livros espalhados. cuidados para não manchar. o chocolate fere, os doces da mação curam. sushis, sashimis e saquês. não abuse, céci. do sal.

_ as terras da frança

e se as terras da frança são tão boas, o que dirá daqui agora então? nessas terras há outros castelos, outras bandeiras e uma língua bastante anazalada. nessas terra sentimos outros calores, corpos familiares. vocábulos e sons que interpretam e atravessando, nos interpretam.

_ banhos tomados

eu ando tendo tristezas assim a esmo. feito chulé em tênis mal resolvido. vou tomar banho e melhora. penso que fará um sol amigo e cansaços me farão parar. vou poder olhar o que me passa tão rápido e tirar a conclusão de que o que passa não me falta. não é tão pedaço de mim.

você é como um banho.

p.s. feliz aniversário!
:: umas saudades

voltava da usp. e senti saudades. há muito não fazia o caminho de volta de lá. horas no ônibus, tempo de reclusão para pensar no dia. era o momento em que muitos posts nasciam, anotados em cadernos de bolso.

pensava nos doces e sentia fome. pensava nas invenções e sentia satisafação. pensava nos amigos e sentia falta. pensava nos amores e me apaixonava de novo a cada volta.

não me apaixonei desta vez. a parte da viagem que fiquei só, me deixou irritadiço. me desacostumei. senti saudades da paciência, talvez mais saudades da perseverança.

09 novembro 2003

:: parachutes radio station #03 playlist

1.yellow _ coldplay
2. murder _ coldplay
3. for you _ coldplay
4. taisetsu wo kizuku mono _ chara
5. miss celies blues _ shug avery
6. fever _ diana krall
7. dia de festa _ casino
8. casa de praia _ casino
9. same _ snow patrol
10. since i told you it?s over - stereophonics
11. breath your name - sixpence
12. summertime _ ella fitzgerald & louis armstrong
13. nao va se perder por aí _ os mutantes
14. a minha menina _ os mutantes
15. roadhouse blues _ the doors
16. insensatez _ vinicius de moraes
17. samba de orly _ chico buarque
18. gente humilde _ renato russo
19. stereolab - infinity girl
20. somebody that i uset to know
21. 1979 _ smashing pumpkins
22. punch up at a wedding _ radiohead
23. casa de praia _ casino
24. summertime _ ana paula mangeon


:: os corações deslocados ou 10 lugares para colocar as flores que chegaram
(para cereja)

01. na cozinha

o vinho sobre a mesa. copos limpos, onde estão? restam algumas migalhas de broas sobre a mesa... que estranho, quem comeu? se a janela estivesse aberta, arriscaria cigarros. corações são copos limpos ou broas sobre a mesa? amor é esse estranho que deixa migalhas.

se deixar as flores sobre a geladeira, poderá associá-las a maionese.

02. no hall de entrada

na entrada tem sempre essa sensação de saída, depende do ponto de vista. quando você recebeu as flores, teve algo no coração que foi embora pela mesma porta. é como se não pudessem ocupar o mesmo lugar no espaço, mas essas leis da física lhe deixam irritadiça, compreendo. como se conformar com a idéia de que não podemos voar?

se der um passo a frente, já deixou de estar em casa.

coloque um vaso num cômodo em frente a porta, assim as flores te recebem quando chegar. e é você quem as abandona quando sair.

03. na garagem

aqui também se guarda coisas antigas. é aquela parte da memória que é escura e cheira a dióxido de carbono. quase não vamos para lá. mas parece o lugar que sempre tem espaço. o coração se comporta diferente. parece que tem pouco lugar, cheira a jasmim e teoricamente não nos faz mal. mas como subestimar um espaço onde nasceram as melhores bandas que você inventou?

aqui ficam os amplificadores e lá o microfone. há ainda fragmentos de mensagens em versos que falta musicar. o carro atrapalha, mas a rua é a serventia da casa.

se colocar sobre o carro, você corre o risco de se divertir imaginando seu pai com cara de rabugento na avenida paulista com um vaso sobre o teto.

04. na banheira

há dias que a banheira nos protege. parece meia casca de ovo. e no banheiro há essa luminância para que nenhuma sujeira escape. cansamos de tanta luz. a banheira é uma cama fudigia.

se você espalhar as flores sobre a água, verá flutuando, criando imagens que você pode tentar compreender. e imaginará você flutuando também. e nesse momento, será como flores na estado comum de flutuar sobre a água. e terá por um momento a perda da solidão para ser massa de flores flutuantes. coloque alguma essência para ficar mais divertido.

depois deixe pra secar.

05. na pia do banheiro

deixe dentro da pia. aí quando for escovar os dentes e cuspir, terá um dilema surpreendente.

06. no quarto

o quarto é coração. ou deveria ser.o que são essas coisas coladas na parede... são o que falta. há no coração as faltas. o cobertor, a cama, a janela para a melhor paisagem do mundo, o mundo. computadores que guardam, gavetas que se deslocam. o som, os cds, as revistas, os livros, os escritos. e esse poder de mudar tudo de lugar.

se colocar as flores lá, só será mais um motivo para sentir falta e aconchego.

07. no corredor

o corredor é, junto com a cozinha, a área social da casa. o coração dificilmente pára lá. é um lugar não-lugar. uma passagem, transição de carvanal da globo. lugar melhor da festa pela responsabilidade de não ficar. a melhor metáfora que encontramos do cotidiano.

as flores lá terão uma vida como a nossa. pessoas dizendo oi, pessoas dizendo tchau.

08. na varanda

na varanda, a gente ouve música alta cometendo o crime de fazer o mundo ouvir. se deixar as flores lá, terá mais que um halibe, terá alguém para culpar.

09. no lixo

e se for muita emoção, ainda resta o lixo.

10. no jardim

a melhor parte da casa, porque pode não ser a casa. e se for bobinha e ter esperança, pode esperar que as flores plantadas possam ter a vida que você não reservou a elas. podem fugir de seu controle, como você sempre quis para seus próprios corações. porque temos muitos corações. para os sem números de cômodos, penteadeiras, mesas, escrivaninha, chão, nos corações deslocados que se assemelham a uma cama ou qualquer lugar propicio para os sonhos.

08 novembro 2003

casa de praia _ casino

a casa cheia de estranhos
o banho de piscina
sei mais de você do que você pensa
eu te abraço forte
eu te devo um chopp
mas o que eu queria..
a sala pintada de branco
o gato na cozinha
será que você não quer conversar
eu falei do tempo, eu falei do livro
mas o que eu queria...
não faz mal
eu faço uma música pra você...
a casa cheia de planos, a festa e a piscina
será que você não quer conversar
eu falei do resto, eu falei da vida
mais do que eu devia....
mas o que eu queria...

07 novembro 2003

:: lacinho

em suas "memórias de um ovo", j.f.farewelson relata detalhadamente a feitura de uma caixa de presentes que fizera para sua mulher na ocasião do aniversário de casamento. na época, farewelson estudava novas ligas e materias -- foi ele quem iniciou a pesquisa sobre dióxido de silício, matéria prima dos poderosos processadores de computador. abandanou o projeto quando estabilizaram o material que parou de lhe dar "choquinhos".

a caixa em questão era muito engenhosa segundo as testemunhas que tiveram o privilégio de ver seu protótipo. possuía um jogo de espelhos que a fazia aparentar menor do que realmente era. a prova de água e fogo, diziam que mudava a cor segundo o humor de quem a segurasse. possuía duas tampas: a principal, própria das caixas e uma menor na própria tampa que dizia ser para os ansiosos ou saída de emergência caso a caixa contivesse animais pequenos (diziam que havia sinalização interna que os animais compreendiam...). era decorada com motivos bauhaus e tinha um lacinho.

mas da caixa só temos o seu relato. no dia do aniversário, farewelson deu a sua mulher a caixa sem presente -- tanta dedicação o fizera se esquecer do principal. sua mulher num acesso de raiva atirou a caixa três vezes contra ele o que fez despedaçar a invenção. embora o casamento tenha sido dissolvido e reatado 43 vezes, da caixa só restou o lacinho que sua mulher amarrou no dedo mindinho de farewelson para que não se esquecesse.

06 novembro 2003

:: costura fina

ela fica costurando suas sapatilhas enquanto ouve rádio. sabe que amanhã dependerá delas para poder voar. é uma costura precisa, reforçada com linha de nilon, quase titânio. e ainda há essa fé de que pontos exatos ensinados por sua mãe garantirão a boa sorte em vôos difíceis e dos quais tem medo.

-- há de me proteger, nó de são camilo. ela reza enquanto procura acertar o buraco da agulha.

e o rádio é o outro lado. diz a ela que existem outros mundos em que não é necessário voar. dá pra aproveitar a vida andando de tênis all-star e machucando o joelho em brincadeiras físicas. ouve coisas tristes de chorar porque sente falta. ouve coisas alegres de pular por causa dos tambores natais. enquanto dá a última passada ao redor da sapatilha, a passada de garantia, calcula o quanto sobrará de linha para poder empinar pipa no céu de hamburgo.
:: o jardim de metáforas de ana paula

sentou-se no jardim, os pés descalços, esperando vento que fisesse sonhar. saias pairantes, cabelos levados, força oposta, pressentimento - apenas - de chuva. a um passo de bombons de epifânia. arriscava um sorriso. a casa fazia barulho, as plantas calavam-se. silêncio, as joaninhas pedem. é hora da sinfônia dos insetos. enquanto tocam e cantam, exalam cheiros, preparam chás. rituais nobres para um dia não tão. ana paula espera que lhe digam o que está reservado para o fim do dia.

-- ora, começa o beija-flor, nada mais que a metáfora do fim do dia! diz antes de cair cansado por tanto esforço já que beija-flores não costumam falar.
:: você costumava ser

você era a pessoa por quem costumava estar apaixonado. você tinha esses trijeitos estranhos, tiques descompasados, taquicardias repentinas que normalmente assimilamos por último, mas que são as primeiras figueiras que lembramos. você costumava ter sonhos de pão-doce e o mundo a seus pés. hoje você está ao bel prazer do mundo, esse mundo belo e visionário de alpargatas importadas.

hoje você consegue o dinheiro. você costumava deixar estar. são muitas preopações para serem resolvidas antes de dar a resposta certa às aspirações e sonhos nobres que todos nós deveríamos ter. você costumava me ligar mais vezes e se preocupar menos porque não duvidava tanto assim de mim. hoje você nem liga e tem acessos de preocupação porque sabe que eu não venceria.

você era a pessoa por quem costumava estar apaixonado. você me perguntava coisas surpreendentes e tombava a cabeça feito ponte. hoje você é uma pessoa normal, como sempre quis ser.

04 novembro 2003

:: i?m listening to sad song

explonding dog


from here.
:: tribiniani

ela usava camisetas largas de bandas inglesas que nem ouvia. deixou o cabelo curto e repicado porque era prático. colocou band-aid no óculos para que não machucasse o nariz e gostava de futebol.

chorava toda vez que era abraçada. sorria todav vez que alguém lembrava o joey do friends. quase sempre todos lembram o joey.

pela sua habilidade em equilibrar-se numa corda ganhou uma bolsa para estudar as artes do circo na frança. ficou 2 anos. quando voltou, as pessoas não lembravam mais o joey, mas ela perguntou sobre a última da série.

03 novembro 2003



se o amor é cego, a casa pode ser invisível.

02 novembro 2003

:: playlist parachutes radio station #02

+ fundo musical _ frank sinatra

+ unwell _ matchbox20
+ one headlight _ the wallflowers
+ no scrubs _ tlc
+ dear martin _ belleatec
+ dez em ponto _ drosophila
+ maracanâ _ luisa mandou um beijo
+ nova bossinha _ mamelucos orbitais
+ como devia estar _ capital inicial
+ the crystal lake _ grandaddy
+ sweet jane _ cowboy junkies
+ piruetas _ chico buarque + trapalhões
+ baião de quatro toque _ zé miguel wisnik
+ na pista _ casino
+ cry me a river _ ella fitzgerald
+ it had to be you _ ella fitzgerald
+ summertime _ ana paula mangeon
+ movin on up _ primal scream
+ amsterdam _ coldplay
+ life is bad _ shelby lynne
+ sparklehorse _ little fat baby
+ whished for you _ squirrel nut zippers
+ on fire _ spiritualized
+ baby london star _ the brilliant green
+ the lost art of keeping a secret _ queens of stone age
+ cantaloop _ us3
+ diamonds on the inside _ ben harper
+ it?s true that we love one another _ the white stripes

p.s. agradecimentos a carla. =)
:: parachutes radio station



ouça agora!

01 novembro 2003



nesta sala, há uma clarabóia diferente, as telhas são articuladas para que se abram, como se ruflassem. o barulho do céu de fora se confude com o barulho do céu de dentro. os móveis da sala estão encostados nas paredes, há um vão imenso no meio, feito planície de batalha. o piso é teflon, não se gruda muita coisa. nos dias apaixonados, fazemos contagem regressiva e lançamos satélites em foguetes supreendentes.