a million parachutes

for us

31 agosto 2003

:: fotologger

fotos novas... http://www.fotologger.com.br/parachutes
:: serenidade e confusão


http://www.fotologger.com.br/fer

não sei o que é mais sua perna ou o que é meu coração. não sei se são seus olhos ou meus lábios. se a pressão envolta é de seus braços ou é em minhas costas. não sei se é a sua fome ou a minha sede. só sei que é você.

:: arranjos

já faz um tempo que eu não consigo imaginar o que anda passando pela sua cabeça. se são as velocidades dos semáforos ou os trabalhos desnecessários que irritam mais. se os achocolatados novos que comprou a surpreenderam ou foi mesmo a notícia de que havia melhoras em seu estado clínico. as ruas continuam com o mesmo público e as lojas de vez enquando tem alguma novidade. há os mesmos amigos para os quais dedica um tempo adequado ao tipo de amizade. e há os amores a quem reserva tempos flexíveis de acordo com a compensação. os motores dos carros estão cada vez mais silenciosos, mas em número cada vez maiores. a diferença é a sensação de zumbido. a internet cada vez mais sem sentido e a gente cada vez menos produtor de sentido. é o tempo e suas manufaturas: moldam o decorrer embora enferruge as possibilidades.

o que ando fazendo ultimamente são arranjos. deixei um pouco a porralouquice de inventar e desinventar coisas. ofício bacana para quem sabe aproveitar seus frutos. arranjar é só trocar os móveis de lugar, fazer outros caminhos, revesar na leitura de livros, conversar com os amigos sobre amenidades, comprar um sabonete diferente, usar um barbeador outro, evitar a profundida.

já não sei muito bem os propósitos das grandes discussões. sei que elas existem e que garantem conforto para muitos. para mim são como papos de bar. gostaria de beber com aristóteles. deve ser bacana vê-lo breaco e tomando dura de platão. ou nietzche molhando com espuma o bigode. ou sartre mandando alguém a merda pela falta de geladez genuína da cerveja francesa.

e vão sendo feitos rearranjos. das discussões profundas, mobilizo o que há de menos profundo. me interessa o blefe, os jogos, a fuga, a covardia, o medo, o desprezo, a separação, as farsas, as intereferências na comunicação, as drogas, a chuva, o frio, a televisão, o papel higiênico, caixas acústicas, xícaras mal feitas, o amor.

e mesmo assim, não consigo imaginar o que anda passando na sua cabeça. acho que o simples fato de renunciar a invenção traz essa angústia. não sei o que se passa porque não invento que se passa. e nos meus arranjos o que falta de eficácia sobra de solidão.

30 agosto 2003

:: meus olhos

meus olhos são estes:
esguios, não-enfrentativos, inglorios.
se você prestar atenção
tem uma cicatriz sobre o esquerdo,
esquerdo como o modo que foi feito.
meus olhos são estes.

meus olhos são doces:
lentos, um pouco rançosos, perdidos.
quase não age como qualquer olho
desproporciona as reações de ódio e afeto,
e tem lágrimas recolhidas de outros olhos.
meus olhos doces.

meus olhos tristes:
prenteciosos, que amam e faltosos.
estão por aí, bebendo em bares vazios.
vazios de sentido como todo amor chega a ser,
e caminham pela cidade sendo vistos.
meus olhos são estes.
:: posicionamento da cama

minha cama fica num canto. a cabeceira é na parede da janela. a parede oposta está a porta e um móvel sobre o qual estão a televisão e o videocassete. perto da cama está o amplificador, a guitarra, o violão e a pedaleira. pensei em colocar uma poltrona para ler, mas não tenho dinheiro para isso.

nesses dias frios, percebi que a janela deixa uma corrente de ar entrar. de noite, a preguiça do frio me impede que mude de posição, que leve a cama para o lado oposto da janela. acabei ficando doente - na verdade não sei se foi a friagem da corrente ou a minha repentina queda de pressão. o fato que hoje ia mudar a posição da cama.

todavia, me ocorreu o motivo por deixar a cama naquele canto: para que quando chegasse a primavera eu pudesse acordar com o calor do sol.

29 agosto 2003

:: one i love _ help is just around the corner

estou cansando;
meus tornozelos doem.
tenho tido principios
de paixões avassaladoras
que precipitam
em qualquer palavra
mais ousada.
me perturba m pouco
a perda de nossas conversas;
laços e fitas gravadas
e vídeos reeditados
para o bel prazer.
mas tudo bem.
a ajuda já deve estar a caminho.
e se não estiver,
quem poderá dizer.
venha, venha me ver.
me diga se estou bem
ou é só impressão infundada.
sentados e esperando
uma ajuda que será
apenas para nós.
vem me fazer passar
essa dor de cabeça rala
mas constante.
é falta de comida balanceada,
e cheiros mais leves.
um silêncio de tempos
paira então sobre
as diferenças de tudo isso.
e eu sei:
a ajuda já chegou.
:: inacabados

estou com um monte de textos pela metade. quadros inacabados. olhando para eles espero por duas coisas: que eu tenha alguma capacidade de lhes dar forma mais acabada ou que eles por si comecem a fazer o seu próprio sentido.

começam tão belamente ou possuem uma idéia boa, mas perdem-se no despreparo, no desespero e na raleza de esperança de seu autor. uma ou outra forçosamente é finalizada para garantir alguma freqüência e para que não se perca um costume, um hábito bom.

e assim inacabados eles se prestam a outros usos. todos os posts são meio que inacabados. reiventam-se ao passarem pelas mãos dos que lêem em outras épocas e circunstâncias. os posts apaixonados tornam-se ainda mais quando lidos por pessoas apaixonadas. os que principiam a esperança encontram muita em posts com jeito esperançoso. os que racionalizam a dor para aliviá-la encontram razões úteis em posts doloridos.

assim vão sendo. os posts sendo finalizados de novo qdo relidos e ainda mais inacabados quando estão ali, nos arquivos, esperando fazer sentido novamente.

27 agosto 2003

:: vandreza

eu fico meio bobo com essa menina. nunca entendi como a gente ficou amigo. e não entendo como a gente mantem isso. quando estou com ela me dá uma impressão estranha: não fiz nada para que gostasse de mim e ao mesmo tempo ela não espera muita coisa em troca. é um gostar meio incondicional. tipo: gosto de ti e ponto.

está sempre bem disposta a falar comigo. quando lhe contei sobre o cancelamento de meus planos de viajar, parece que foi pior para ela que para mim.

talvez, seja eu o errado: a maioria das pessoas gostam incondicionalmente e eu quem inventa motivos para gostar de mim.
:: fw

"Night by silentsailing night while infantina Isobel (who will be blushing all day to be, when she growned up one Sunday, Saint Holy and Saint Ivory, when she took the veil, the beautiful presentation nun, so barely 20, in her pure coif, sister Isobel, and next Sunday, mistlemas, when she wore a wreath, the wonderful widow of 18 springs, Madame Isa Veuve La Belle, so sad but lucksome in her boyblue's long black with orange blossoming weeper's veil) for she was the only girl they loved, as she is the queenly pearl you prize, because of the way the night that first we met she is bound to be, methinks, and not in vain, the darling of my heart, sleeping in her april cot, within her singachamer, with her greengageflavoured candy whistle duetted to the crazyquilt, Isobel, she is so pretty, truth to tell, wildwood's eyes and primarose hair, quietly, all the woods so wild, in mauves of mass and daphnedews, how all so still she lay, neath the whitethorn, child of tree, like some losthappy leaf, like blowing flower stilled, as fain would she anon, for soon again 'twill be, win me, woo me, wed me, and weary me!, deeply now evencalm lay sleeping."

Finnegans Wake, James Joyce

26 agosto 2003

:: one i love _ bigger, stronger

quero um carro veloz que me faça chegar
que acompanhe as reviravoltas de sua cabeça;
quero ser tão grande a ponto de você notar
que tamanho e velocidade não fazem diferença.

quero ser mais forte para suportar
coisas difíceis como a indiferença.
ser tão singelo quanto a forma do amar:
ser sua causa e sua conseqüência.

quero ser nada a menos que isso.
quero ser pouco, mas o que for preciso
para te amar com despróposito e em vão.
quero ser tão grande quanto seu coração.
:: bigger, stronger

é um blog triste. não quero isso para mim...

25 agosto 2003

:: in my life

a vida é uma grande brincadeira. encontrei ess entrevista do paulo freire sobre sonhos e projetos, feliz da vida por achar alguém que conseguiu consilhar o sonho com o trabalho e tomo esse baque desigual.

ontem tentei postar uma mensagem sobre esperanças que é o que mais tenho acima de tudo e em plena segunda-feira vejo meus sonhos serem adiados.

acho que há tempos não tive um projeto tão voltado para mim. um egoísmo necessário. a idéia de viajar pelo simples prazer sempre me pareceu desimportante porque sempre havia algo para ser feito que merecia minha atenção. infelizmente, terei que refazer todos meus planos; adiar para daqui a uns 2 ou 3 anos. "e eu nem tenho tanto tempo assim..."

vou esquecer por enquanto. não há porque se alarmar. vai ver que não era para eu ir mesmo por enquanto. melhor esquecer agora, talvez não me faça tanta falta...

24 agosto 2003

:: fragmento importantíssimo

"Nós somos seres de tal maneira constituídos que o presente, o passado e o futuro nos enlaçam. A minha tese então é a seguinte. Não posso, não pode existir um ser permanentemente preocupado com o vir a ser, portanto com o amanhã, sem sonhar. É inviável. Sonhar aí não significa sonhar a impossibilidade, mas significa projetar. Significa arquiteturar, significa conjecturar sobre o amanhã. E quando tu me perguntas, a questão agora é saber qual é o sonho em torno desse amanhã. Segundo a questão fundamental é saber com que sonho, e contra que sonho. Porque eu não posso sonhar em favor de alguma coisa, se não sonho contra outra. Que é exatamente aquela que, obstaculiza a realização do meu sonho. Eu não posso sonhar se eu não estou claro também com a favor de quem eu sonho. Daí que o ato de sonhar seja um ato político. Um ato ético, e um ato estético. " (Paulo Freire)
:: fotoblog

descobri este serviço no blog do fudge. muito divertido! pena que é só uma foto por dia...

http://www.fotologger.com.br/parachutes



:: sono

sobre a cama, ela dorme serena.

hoje faz 3 anos que se divorciou. o telefone tocou o dia inteiro com pessoas preocupadas em falar amenidades que fazem esquecer. não atendeu a ninguém. na mão livre, segura uma caneta. sobre a colcha, um calendários com os meses avulsos.

da janela aberta vem o frio de fim de tarde. ela acorda, arruma a cama e fecha a janela. esquenta a água para preparar macarrão, fará experimentos no molho e só lembrará da data porque sua amiga em deslize tocará no assunto pelo telefone.

23 agosto 2003

:: 8 meses : projetos

_ ayumi.lab

ayumi é uma das personagens de um romance que estou desenvolvendo. aqui apresento alguns esboços e experimentos dramaturgicos e linguisticos. por isso que é lab.

_ a desordem com ellen gatsby

sou extremamente fascinado e curioso pela alma feminina (vide que meu autor favorito é virginia woolf). "a desordem com elle gatsby" são crônicas em primeira pessoa e eu-líricos feminino. é normalmente elaborado de conversas com mulheres, algumas delas sou amigo confessional; outras revelam-me nuanceas do feminino sem o saber.

_ mariana.blues

é o projeto conceitual mais antigo e provavelmente do qual nasceram todos os outros. é uma tentativa de se aprofundar na idéia do tristemente alegre e/ou alegremente triste. a retomada desse projeto vem de um pesquisa sobre o gênero musical "blues" e de novas conversas com a mariana: sugiro que ouçam "bancarrota blues" do chico buarque. =)

_ songs for luiza

um pouco abandonada, mas penso sempre. dedicada a luiza fecarotta, a coluna versa sobre a dor. nasceu de uma para se tornar um pouco seu alivio.

_ sorria, cecília

há tantos motivos para sorrir. quando não, inventa-se!

_ o exercício da solidão

é o título de uma antologia de poemas meus. como é um tema recorrente nos meus escritos, resolvi agrupá-los numa tentativa de montar um panorama do que ando pensando e sentindo.

_ one i love

são poemas e crônicas feitas a partir de músicas principalmente. é co-escrito com a liza no one i love. aqui publicarei alguns posts como convites para ler o blog mesmo.


na parte de links há ainda os blogs dos quais participo como nuvoleta e balika; e projetos como a amorosa cia pneumatica.

há ainda uma vontade muito grande de levar para frente o parachutes.tv e o zine que é a versão impressa desse blog.

o material avulso encontram-se sob a asa desse blog e suas vivências.

22 agosto 2003

:: elisa

elisa terá o casamento perfeito. seu vestido branco é simples e longo. nunca sonhou nada barroco. exigiu a troca do véu por uma coroa de flores colhidas no dia. sua vó havia feito isso. era uma homenagem embora a história só tivesse sido contada para elisa.

antes que lhe preparassem a maquiagem, lavou seu rosto com água e essências e leu bandeira como se despedisse.

agora está pronta para seu destino. almoçará algo leve e pedirá um momento a sós com sua mãe para confessar algo que jamais adminitira antes: que quer ser mãe também. e deixará reservado alguns minutos para seu amigo que será também seu padrinho. cumprirá uma promessa: dirá que é feliz uma vez que há muito tempo havia combinado com ele que quando a felicidade chegasse um contaria para o outro.

chorará por tanta concentração de ternura. antes de dizer o sim, olhará para o céu para lembrar que será o mesmo céu sempre que puder. ouvirá elogios e desejos de felicidade. lembrará de todos que a amaram e de todos que aindam amam e dirá: sim.

e se perdoará finalmente por esse culpa quase perene de quem é feliz quase sempre.


:: auto-conhecimento

mais tarde, quando eu me conhecer melhor, vou poder supor que existem paraísos menos pretenciosos e talvez menos tendenciosos até. vou deixar o livro incompleto, as páginas rabiscadas com desenhos que representam o melhor de todos. vou pro mundo tirar fotos com máquinas aponta e clique. junto um pouco de dinheiro e revelo. e deixo as melhores cópias para as melhores pessoas.

desde que deixei as coisas para trás, sinto um caminhoso ainda mais sinuoso. ninguém disse que seria fácil, não é? eu ainda escrevo coisas que me dão na telha e evito ao máximo tirar conclusões, acho. tenho muitas dúvidas e são elas que aprofundam a solidão. a cada momento de fé, passo a ter outras dúvidas. e não sei o quanto suportarei.

já escrevi tantos textos tristes... já não sei se são tão válidos. a alegria é fundamental para a qualidade de vida. eu sou bem alegre, embora não pareça. se me conheço o suficiente? o suficiente para quê? acho que não há conhecimento o bastante que nos faça alegre. a alegria vem de outra coisa.

vou deixar polaroids perdidos por aí. por enquanto é tão só quanto a solidão. não quero escrever coisas bonitas e com muitos sentidos. quero que me faça companhia até que adormeça com segurança.
_9

sorria,
porque sempre há uma loja de conveniência que venda chocolate;
porque sempre haverá um show bom para ir;
porque sempre há motivos para dançar
e sempre alguém vai escrever uma música que nos dirá tudo que não precisamos saber.

_10

sorria,
que amanhã será outro dia,
e terá novos amores,
tantos quantos forem necessários
para que o amanhã seja outro dia.

_11

sorria
do barulho da descarga;
dos sussurros da paixão;
do diálogos em surround;
e do silêncio de quem não pode
ouvir silêncio.


#03

você me veio como a noite: prevísivel. esperei que se desfizesse de suas mágoas para que só então pudesse me fazer as coisas que sentia. tinha um jeito e mentalidade de quem se arrependeria o quanto antes, mas fez uso das distâncias e desfoque e eu também não liguei quando me disse que estava tão confuso quanto redemoinhos que se perdem em tanques de lavar roupa.

descansamos nossos argumentos sobre estar ou não juntos. você escreveu na palma da minha mão o futuro nosso e eu lavei e não li. tentei no toque da escrita entender, mas as sensibilidades são alteradas em horas de desespero. e meu desespero dizia respeito a estar ou não juntos. quedei, quase sem força, a conclusão de que nem tudo poderia estar perdido.

mas você foi como o dia: sorrateiro e um pouco feliz.

21 agosto 2003

:: marés

há as marés. sobre elas, um sol ou uma lua. entre os intervalos dos trabalhos, ela verificava o quanto a maré havia subido. reconhecia que a cor do céu mutável lhe dificultava a observação, mas não se importava. deixava a barra de chocolate aberta sobre a fechada na mesa. sentava-se e papeava com seres imaginários, sorria quando lhe faziam piadas e oferecia um teco de chocolate depois que mordia.

a brisa lhe sussurrava coisas familiares e ela agradecia coçando sua sobrancelha. os pés descalços hesitavam pisar na areia. tinha sido uma semana terrivelmente quente e suspeitava das manchas em seus pés como queimaduras amênas.

ele chegou e lhe deu um beijo na testa. ela sorriu em agradecimento. conversaram sobre o dia e suas dificuldades. na certa o dia seguinte voltariam para suas cidades e nunca mais se veriam. é assim, às vezes.

mas alguém imaginário disse:

-- há as marés.
:: nomes

quando comecei a escrever posts a partir das músicas do coldplay, sempre tive um receio muito grande de me concentrar em shiver porque é a música que mais gosto dos caras. quando combinei com a liza para escrevermos roteiros sobre as músicas do a rush of blood to the head era exatamente para evitar o parachutes que tem a música.

no fundo, gostaria muito de que o one i love se chamasse shiver . mas quando ouvia a música título do blog da liza pensei em como os sentidos são realmente construídos. não trocaria o nome hoje simplesmente porque one i love representa todas as idéias e construções imaginárias contidas naquele blog - coisas invisíveis, maurício, notas ao luc, frescor pela vida -, assim como a idéia original da música do sixpence também foi alterada no processo de escrever este blog aqui.

acho que há uma compreensão e um entendimento que vem da prática do cotidiano. a criação de sentido não é só um modo de montar palavras através de radicais gregos ou latinos ou inventando expressões fortes e afirmativas. existe uma criação que vem do dia-a-dia. quando penso em cerejas, lembro-me imediatamente da cris e seus "vou lá e já volto" ou "cuuuuuuu" ou essa coisa nuvoletistica que ela tem.

assim deve acontecer com os nomes das pessoas também.

tenho lido e pesquisado muito sobre blues . e me lembrei em como mariana.blues foi um projeto ambicioso sem saber. essa idéia de uma alegria melancólica sempre me perseguiu, mas nunca soube bem como utilizá-la na prática. tenho pensado em retomar o projeto mariana.blues com outros conceitos novos sem perder o que me inspirou e o que achei belo desde o início.

dar nome é desdar nome também.

18 agosto 2003

:: coldplay

aquecimento para o show. vou colocar aqui versos e histórias inspiradas nas músicas do quarteto britânico. os primeiros foram publicados no blog one i love. como muitos não costumam ler, os inéditos publicarei em ambos os blogs.

_ daylight

para minha surpresa
me peguei te chamando de sol
assim quase sem querer
e pensei que essas interferências
nas sintonias de meu rádio
fossem você desregulando
as coisas por aqui.

era falta, o dia estava nublado.
talvez, mais escuridão houvesse de qualquer maneira
mas hoje as previsões são cada vez mais de falta.
talvez até chova.

você deve estar olhando pela janela,
achando que não há céu mais bonito
que ao que está assistindo.
o céu aqui é dificil, congestionado, briguento.

e há como dizer que é o mesmo céu.

e cada raio que fugia dos meus bloqueios
era a sua música que melhor era sintonizada.

_ in my place

eu estou aqui, perdido.
olhando para cima porque parece o único caminho a seguir.
você não me dá nenhuma chance,
fica com suas mágoas, pagando por elas, prestações centesimais.

quanto tempo até que perceba que estou aqui lhe esperando?
se você ir, eu deixo de ficar. por favor, diz que fica.
cante alto para que quando eu me cansar
possa distinguir o que é sua voz das outras de minha cabeça.

estou cansado. será tão teimosa quanto eu de esperar?

_ sparks

hoje tomarei cuidado
em cantar algo que ambos conhecemos.
algo que você possa dizer que é seu
tanto quanto eu.

você vai vivendo salva dos meus perigos
e eu só quis estar nos seus.
tentando cantar a dor
e qando foi hoje vi que a dor era só minha.

prometo: fagulhas vão deixar de ser só o que temos em comum.

_ don't panic

nós temos a melhor vida,
estudamos, pagamos conta, lemos jornais.
podemos escolher entre filmes legendados e dublados.
e teremos os filhos mais bonitos.

de manhã, as notícias de ontem.
de tarde, as notícias.
de noite, as notícias do dia.

temos o carro a gasolina, a tecnologia sem ruídos,
podemos encontrar pessoas maravilhosas na internet.
e nos satisfazemos com cereais fibrosos.
abusamos um pouco comprando morangos de atibaia direto do produtor.

lá fora, a violência próxima. mas temos ternura.
temos ainda o azul dos oceanos e podemos de combinar de ir a praia para desafiar as ondas espumantes.
a gente usa camisinha direito. a gente paga a tv a cabo.
a gente vai para boates e compra coisas no ônibus para ajudar.
o avião tem máscaras de oxigênio puro e não me aborreço com balas como troco.

nós temos a melhor vida,
posso te visitar, se quiser.
:: fazes-me falta

no café, peço um chocolate quente grande. sento-me numa mesa menor em um lugar estratégico em que posso acompanhar o salão inteiro; em que o volume da música ambiente e a temperatura estão agradáveis e que eu possa ver se o bilheteiro da sala de cinema já pode deixar as pessoas entrarem.

há um principio de briga, amenizado por uma piada lançada que ambos os lados enfrentadores acatam de tão boa que é; casais apaixonados; casais um pouco menos; amigos aos montes rindo antes do silêncio cinematográfico. há um outro que está só.

esquento minhas mãos na xícara, hábito para quem nunca quer ter as mãos frias. um pequeno arrepio por conta de um vento fugitivo. absorto, vejo o vapor. um vapor aconchegante e convidativo. sorrio por um estante pelo vício do chocolate. lembro do cachicol esquecido sobre a cadeira. não faltaram avisos.

lá fora, os movimentos do carro sugerem a volta para casa. aqui todos se sentem um pouco em casa. no conforto da sala de cinema exorcizarão pequenas mágoas e tristezas e perceberão coisas que não puderam ou ainda não inventaram. acho graça de ter pensado isso porque eu também vou me entregar.

na sala de cinema, o barulho do projetor, os sussurros, defeitos da película evidenciam o quanto não estou só. e assim me sinto mais só. porque não estou naquele filme. estou em outro. ainda mais difícil porque o roteiro não costura para dentro. é escrito a lápis todo tempo e com vontades de viradas e climaxs.

o filme é bom. mas fazes-me falta.

17 agosto 2003

:::: sorria, cecília



_4

sorria
pelos que não sorriem.
sorria
você está sendo filmado.
sorria
das comédias românticas,
das tragédias gregas,
dos romances ingleses,
dos contos russos,
dos ensaios alemães,
do blues sulino,
do maracatu recifence,
do samba,
do hip hop,
e das zonas.

_ 5

sorria
em dias nublados para resistir,
em dias de sol para contribuir,
em dias frios para pedir calor,
em dias quentes pela graça de sorrir.

_ 6

sorria
dos que fogem; dos que tem medo;
dos que desconfiam do sorriso.
sorria e peça outro.

_ 7

sorria
enqto dorme,
enqto não chega sonhos ruiins,
enqto não há alarde
sobre epidemias de sorrisos
em terras devastadas de sonhos.

_ 8

sorria
e ensine a sorrir.
sorria
e aprenda a sorrir.
sorria
e leve trabalho para casa.
:: fotos novas...

testando as fotinhas novas do logo...

créditos das fotos:

_ mariana na prainha : marcio yonamine
_ renata menezes : marcio yonamine
_ luiza fecarotta : luiza fecarotta
_ bruna mara : marcio yonamine
_ fernanda frasca e ale saji : marcio yonamine
_ leandro e danilo : guilherme fudge
_ nivea : marcio yonamine
_ leilla, marcio e renata : ale saji
_ renata e ale saji : marcio yonamine
_ prica : marcio yonamine
_ giuliana : marcio yonamine
_ meninas de quimono : andrea yagui
_ seios : cristiane conti
_ as meninas cantando : marcio yonamine
_ galera na prainha da eca : fernanda frasca
_ tereza e renata : fernanda frasca
_ guga e marcelito : fernanda frasca
_ leo, danilo e giu : fernanda frasca
_ liza : liza serafim

espero mais fotos e figuras para o mês que vem.

16 agosto 2003

:: sorria, cecília

às vezes o dia não conspira a nosso favor. pelo menos é uma impressão que temos. momentos de profunda intropescção que parece obscura, tristes até. pensamos que não podemos sorrir, mas é quase um equívoco. podemos sim. as linhas a seguir não chegam a ser versos, mas pequenos pedidos. sorria.

_ 1

sorria,
mesmo que não lhe peçam
ou que peçam para não sorrir.
sorria
por transgressão, por desvario, por divertimento,
pelo gasto exagerado com chocolate e vodka,
para fazer massagens no musculos faciais,
sorria.

_ 2

sorria
porque nem tudo está perdido,
porque há o encontrado,
porque tem compromissos laçados
e porque tem cisão com a maioria das coisas das quais é contra.

_ 3

sorria
porque se não o fizer, quem fará?
sorria
por tanta falta, por tanto ridículo,
por tanto desperdício.
sorria por quem não sorrirá
por achar um desperdício.

15 agosto 2003

:: as horas

o blog as horas mudou de endereço:

http://www.sradalloway.blogspot.com

:: dica

um blog muito bom que descobri no blog da cereja.



p.s. "infinito" é lindo.
:: crônicas

um link para um rtv com as crônicas já publicadas aqui no parachutes. meio tosco mas beleza. abraços aos leitores.


14 agosto 2003

:: muffins

agradecimentos especiais para a ciça pelo presente: um caderninho com várias receitas de muffins!!! beijos pra ti, menina. o de abacaxi será minha primeira tentativa.
:: choro

ângela ficou viuva aos 34 anos. no velório de seu marido, todos comentavam a sua frieza. não havia derramado uma só lágrima. todos sabiam o quanto ângela era apaixonada por seu marido, embora todos soubessem também que ele se casara por conveniência.

uma semana antes de completar 42 anos, ângela soube que leopoldo, um antigo namorado seu havia morrido em uma briga tal qual seu marido. em seu velório, ânglea derramou lágrimas grossas de uma tristeza dolor. a mãe de leopoldo que nunca gostou de ângela comentou com uma amiga sobre o constrangimento vindo das lágrimas. sugeriu que fossem amantes.

ângela ouviu o fim da conversa e disse a ela com compaixão:

-- não choro por quem amei. choro por quem me amava.

e deu um beijo no rosto do defunto antes de pedir a benção para dona da casa e ir embora.


:: mariana.blues parte 2 e 3

não pense que será o último
porque não estou aqui para estar perdida.
não devo nada a ninguém
e sei os caminhos dessa cidade;
sei das saídas e das fechadas.
não tenho muito dinheiro,
mas levo uma tangerina no bolso.
já repartiu uma tangerina com alguém?
você nunca tem um tangerina.
eu ando pela avenida paulista,
comendo minha tangerina
e não será a última
e não será minha.

...

já sentiu um aperto no coração?
lave suas camisetas na máquina de lavar
na opção roupas não-delicadas:
elas esticam.



:: você

você não me completa,
você me faz falta,
você me lembra a incompletude de tudo isso;
de que há dores e mágoas e registros danificados,
versos novos para velhas tristezas,
cometas raros, elementos químicos de microsegundos;
promessas agudas de paz.
populações à revelia das tecnologias amorosas,
mentalidade burguesa da solidão.

você não pode me responder as questões
que há muito deixei de me propor.
você não é a resposta para meus terços anseios.

você não me completa.
você me faz falta.
você me transborda.
:: maracatu

ô!

o grave penetra; canções desacordadas;
bate!
bate, bate, bate, tambor!
penso sincopado ao sino;
tramelas e meu coração se esvaindo.
o que me resta, sobra ao mundo: o mundo!
me pergunta se estou bem,
eu posso estar, estou, tou, tou.
mesmo que você me deixe, deixa!
a bancarrota de mim me prive, priva!
o céu nuble; a rosa desfolhe;
existe o tambor.

12 agosto 2003

:: leituras

estavam quase abraçados.

as cabeças atravessadas. não se viam. ele falava em seu ouvido direito. ela mantinha os olhos fechados, prestando atenção. a mão esquerda dele segurava um livro.

ele lia para ela.

a direita segurava a mão dela. toda vez que ele impostava alguma passagem, ela ria com contenção. toda vez que ele dava pausas articuladas, ela armagurava-se. havia momentos em que ambos sorriam em uma concordância familiar, como se conhecessem há tempos.

ele baixava o livro para dizer algo seu, mas desistia. ela não amaria um poeta mediano. ela tencionava lhe dar um beijo, mas recuava. ele não amaria uma cega.

e da boca dele precipitava saliva e dos olhos dela, lágrima.

no fim das 50 páginas diárias, despediam-se, reiteravam o horário do dia seguinte e se recomendavam cachicóis e pullovers em dias frios como esse.
:: the voyage out project

recebi um convite para visitar hamburgo com os cuidados de mariana zanotto. preço da brincadeira se estiver em londres: 89 libras esterlinas ida e volta.
:: a tempestade #01

pressente a tempestade
que arrasará com tudo que acredita.
o novo governo, as novas formas de mídia,
obtenção da paz pela tolerância,
experiências aromáticas de chás desconhecidos.

novos amores, velhos amores,
o fim da casa de bonecas,
o início da era de aquário.
hades sendo só mais um,
venus arrumando a mesa do café.

literatura barada de blog,
vídeos com baixa resolução,
palavras de ordem, palavras de desordem.
chega o aroma do mar das invenções:
é cheiro de brisa serena que antecede.

10 agosto 2003

a desordem com ellen gatsby parte #02
(a partir de fragmentos de aurea horbach)

odeio quando tenho sua atenção e não sei o que dizer, embora tenha pensado que soubesse tanta coisa que poderia ser e acabou não sendo. reivento-me para que não soe tão perdida, mas ele percebe porque mesmo que minhas costas e minhas pernas estejam endireitadas, os meus olhos são todos desviados, frêmitos e por uma pálpebra inseguros.

e ele, em seu cavarelhismo, tenta me deixar menos constrangida, fazendo piadas que não são engraçadas para ele, mas que poderiam ter me feito rir se o constrangimento não fosse tanto. sinto ódio pela vida que é reservada a ele e pela vida que é reservada para mim. e mais ódio porque não é nos reservado nada. ele mantêm a calma, foi um desencontro. desses de tempo e circunstância, porque já nos havíamos encontrado.

tenho uma noite perfeita, apesar da embriaguez, perfeita, porque tinha a alegria perfeita, o espírito perfeito de quem é feliz e sente muito. é, apesar de desencontros passados, um encontro presente. naquela noite não estávamos mascarados, éramos livres, quase nós mesmos, numa sinceridade singular de amor quase perfeito.

.. perfeita porque era livre, de uma liberdade de carnaval com muitas bocas a serem beijadas e no entanto só uma a que interessava... perfeita porque terminava com uma promessa de reencontro. havíamos combinado, um encontro marcado feito a tarde em que a lua se deixa iluminar pelo sol num céu criminosamente laranja.

na última noite. eu não fui. quebrei a perna. tive um resfriado. o trânsito. parente falecido. presa em casa. chaves perdidas. falta de dinheiro. será que algum dia ele vai entender? mas não é preciso agora. para ele, eu passei. para ele, ele continuou.

o que me resta hoje é esse ódio de não ter dito sim. um ódio que passará e será tão suave quanto um sim.
:: the voyage out project

alguns preços:

+ passagem pela ibéria: 800 dólares
+ diária em albergue em londres: 20 a 25 dólares x 14 dias = 280/ 350 dólares
+ carteirinha de albergue: 25 reais

p.s. 1 dólar = 3 reais.

09 agosto 2003

:: lembrete

só para não esquecer: show do coldplay, 3 de setembro, no via funchal. parece que a pista vai custar uns 100 reais. mto salgado, mas vale a pena. vejo todos lá.
:: mudanças

mudei de quarto. moro numa casinha nos fundo agora. nesta casa, existem 3 cômodos: a cozinha, a sala e o quarto.

foi uma experiência boa. de revisitação. ao embalar os livros, lembrei-me da história de cada um deles. devem ter uns 300, fora os que estão emprestados. muitos foram presentes, muitos outros pechincas de sebos, outros me valeram um sacrificio econômico. limpei a cozinha e montei novamente o laboratório. tudo funciona: o ampliador, a pia, a luz vermelha. só faltam as químicas e o que ampliar.

na sala montei um escritório. todos os livros organizados. material para foto. fitas de video e bugigangas eletrônicas. no quarto, deixei reservado um espaço para um armário e uma cômoda que pretendo comprar. a cama perto da janela. uma mesa de centro que deixo papel e caneta e alguns bombons. pensei em comprar um sofá se o dinheiro deixar. deixo meu ampli, guitarra, violão e teclado. pendurei alguns cartazes antigos na sala e no quarto.

numa parede coloquei fotos de amigos. muitas. fazem pose, estar aqui é um privilégio para mim.
:: dica

está nas bancas de são paulo uma coleção da folha com ótimos livros por 11,90 e é em capa-dura. essa semana teve "rumo ao farol" (to the lighthouse) da virginia woolf que é um dos meus livros mais queridos - espero fazer uma resenha sobre ele algum dia - e amanhã é a vez de "cem anos de solidão" do garcia marquez que é também um achado - viva os buendias!.

:: a desordem com ellen gatsby

quando você foi embora e disse que não voltaria, achei que enganava-se. preparei o quarto e os chás habituais. deixei comprado farinha, ovos e pão, além de bife e alguns vegetais. abri as janelas para que entrasse ar novo combatente do mofo e pó. nas manhãs, cuidei do jardim, regando os projetos de flores e tirando tudo que pudesse comprometer a estrutura correta de um jardim.

de noite, gravei as séries de tv e organizei seus livros e anotações. me dediquei ao francês e aos mapas de viagem. escrevi artigos sobre gastronomia que me deram algum dinheiro. pensei em adotar um cão.

ousei ao trocar o achocolatado. e deixei preparado sândalos sobre a coberta e a cama para que se surpreendesse. pensei em pintar os quartos, mas o dinheiro só deu para pintar o teto que ficou um azul ralinho feito céu de brigadeiro. se usar lâmpadas incandescentes pode imaginar um sol.

mas o tempo foi passando, e menos enganado você foi ficando. os cheiros e o jardim foram descolando de significados. a água do chá esfriou e já me habituei a dormir no sofá. comecei a esquecer por que havia essa ou aquela parede, esse ou aquele quarto, esse ou aquele sol.

até que deixei de esperar e saí de casa. talvez a gente se cruze por aí.
:: chicão, o cão

chicão via aquela figura de cabelos longos e voz aguda e compassada e sentia uma alegria ofegante. sua dona lhe fazia cócegas e dava outros carinhos. chicão pulava sobre ela e tentava dizer o quanto.

ganhou dela um ursinho vermelho. era gracioso. mostrava a todos que podia. apanhava-o na boca e exibia orgulhoso a representação de tanto afeto.

um dia, mastigava o urso (pois esse é uma forma de amor canino) quando sua dona lhe trouxe o seu prato de ração. chicão foi tão ansioso até a refeição que deixou cair o ursinho no prato. não sabia o que fazer. olhava para sua dona, voltava para o prato. perguntava afoito com latidos contidos: o que fazer?

sua dona ficou rindo da situação e aconselhou que tirasse o urso do prato. chicão chorou até que dust, o outro cão da casa, disse na língua dos cães que o urso não se meteria a comer sua ração. para isso existiam as rações para ursos sintéticos.

:: drummond

não pude resistir de colocar aqui um dos poemas do drummond que mais amo. me reconheço muito ou gostaria de me reconhecer. me deu esperança de repente, um pouco mais.

não é meu, mas gostaria de dedicar a todos os leitores, de coração.

"Reconhecimento do Amor"


Amiga, como são desnorteantes
Os caminhos da amizade.
Apareceste para ser o ombro suave
Onde se reclina a inquietação do forte
(Ou que forte se pensa ingenuamente).
Trazias nos olhos pensativos
A bruma da renúncia:
Não querias a vida plena,
Tinhas o prévio desencanto das uniões para toda a vida,
Não pedias nada,
Não reclamavas teu quinhão de luz.
E deslizavas em ritmo gratuito de ciranda.

Descansei em ti meu feixe de desencontros
E de encontros funestos.
Queria talvez - sem o perceber, juro -
Sadicamente massacrar-se
Sob o ferro de culpas e vacilações e angústias que doíam
Desde a hora do nascimento,
Senão desde o instante da concepção em certo mês perdido na História,
Ou mais longe, desde aquele momento intemporal
Em que os seres são apenas hipóteses não formuladas
No caos universal

Como nos enganamos fugindo ao amor!
Como o desconhecemos, talvez com receio de enfrentar
Sua espada coruscante, seu formidável
Poder de penetrar o sangue e nele imprimir
Uma orquídea de fogo e lágrimas.

Entretanto, ele chegou de manso e me envolveu
Em doçura e celestes amavios.
Não queimava, não siderava; sorria.
Mal entendi, tonto que fui, esse sorriso.
Feri-me pelas próprias mãos, não pelo amor
Que trazias para mim e que teus dedos confirmavam
Ao se juntarem aos meus, na infantil procura do Outro,
O Outro que eu me supunha, o Outro que te imaginava,
Quando - por esperteza do amor - senti que éramos um só.

Amiga, amada, amada amiga, assim o amor
Dissolve o mesquinho desejo de existir em face do mundo
Com o olhar pervagante e larga ciência das coisas.
Já não defrontamos o mundo: nele nos diluímos,
E a pura essência em que nos transmutamos dispensa
Alegorias, circunstâncias, referências temporais,
Imaginações oníricas,
O vôo do Pássaro Azul, a aurora boreal,
As chaves de ouro dos sonetos e dos castelos medievos,
Todas as imposturas da razão e da experiência,
Para existir em si e por si,
À revelia de corpos amantes,
Pois já nem somos nós, somos o número perfeito: UM.

Levou tempo, eu sei, para que o Eu renunciasse
à vacuidade de persistir, fixo e solar,
E se confessasse jubilosamente vencido,
Até respirar o júbilo maior da integração.
Agora, amada minha para sempre,
Nem olhar temos de ver nem ouvidos de captar
A melodia, a paisagem, a transparência da vida,
Perdidos que estamos na concha ultramarina de amar.

Carlos Drummond de Andrade
:: chuva

quando o encontrou, não sabia se era ele. soube quando percebeu que ele estava tão surpreso quanto ela. sentaram-se e nas primeiras palavras perceberam que eram. fizeram um acordo: seriam como eram virtualmente.

o tom das palavras faladas deram outra realidade a eles. ela sentiu-se afetuosa o suficiente para colocar na voz o que faltava nos teclados. ele conseguiu enfim fazer as piadas que dependiam de um timbre engraçado na voz. riram e sorriram. e nesse momento ambos se achavam bonitos.

até que houve um momento de silêncio. ambos pensaram que haviam esgotado os assuntos. falaram de cinema, música, tv, leituras... até que se olharam e esperavam a chuva que chegava.

conversaram em silêncio sobre a chuva e seus cheiros.
:: p.e.a.

agora que faço parte da população economicamente ativa, percebi que tenho direito a férias e 13, estava pensando o que fazer já que há anos não tenho férias reais - aquele tempo em que você deixa sua vida realmente de lado. 3 ano do colegial estudando para o vestibular, 1 ano de cursinho, 1 ano no japão, 6 anos de eca fazendo coisas. 9 anos quase sem aquelas férias desagregado totalmente de algum trabalho.

ontem me ocorreu uma idéia: uma viagem.

para onde? inglaterra me veio bruscamente. posso visitar os lugares de virginia woolf ou assistir aos festivais de verão. vai depender da grana.

me parece uma boa meta. vou começar um diário de viagem...

08 agosto 2003

:: musicoterapia para dias nublados

thanks, mari. disco ótimo. atenção para a faixa 2. procurem no kazaa, é maravilhosa!



tracklist:

1. do nothing till u hear from me _ mary j blige
2. plenty _ guro + erika badu
3. lucky old sun _ geroge benso
4. am i the same girl _ swing out sister
5. respect _ aretha frankin
6. boogie on reggae woman _ stevie wonder
7. shake a tail feather _ blues brothers
8. vivão e vivendo _ racionais
9. sr. tempo bom _ thaíde e dj hum
10. cb sangue bom _ marcelo d2
11. façamos (vamos amar) _ chico + elza
12. bancarrota blues ao vivo _ chico buarque
13. a rosa _ chico + djavan
14. usina _ mestre ambrósio
15. what is this? _ sergio mendes
16. o rato e a febre _ gambiarra
17. a urca _ nando rei
18. amor até oo fim _ elis regina
19. you're in a bad way _ st ettiene
20. por uma cabreza _ astor piazolla

e fica para trás, bem pra trás, um dia ruim.

07 agosto 2003

:: ayumi.lab #02

as ruas difíceis, particulares. minha blusa do avesso; entranhas para fora porque incomodam a minha pele a costura bem resolvida. só ergo meu braço para me proteger de algum reflexo de sol vindo de alguma janela. são tantas as janelas e você pode estar em alguma.

vou me desviando das pessoas. na rua sta ifigênia, luzes piscam e barulho de video-game. alterno entre os fragmentos de conversa entre os ambulantes e seus fregueses e uma música que não pára de tocar na cabeça.

do outro lado da rua, vendedores com caixinhas de frutas me olham. talvez me achem bonita; talvez estejam tirando sarro do meu cabelo desigual.

atravesso e sou atravessada.
:: teoria das musas

é uma teoria que primeiro ouvi pela boca do danilo, mas que hoje a rossana fundamentou deveras bem.

as minhas produções, a minha empolgação e criatividade, o meu jeito de pensar está diretamente ligado a uma musa. eu preciso de alguém que canalize todo um ideário mesmo que essa pessoa nem saiba que isso está acontecendo. o que a rossana colocou que me deixou intrigado foram as musas não declaradas ou invenções que servem como musas.

para a rossana, não é ruim ou bom ter musas, é o meu jeito. fununcio assim. mas o que ela acha ruim é a facilidade de me frustrar com tanta expectativa e a queda vertical logo depois. nesse conversa de hoje, detectamos que esse ângulo de queda tem se tornado menos obtuso. o que deixa a queda mais suave mas não interfere na teoria da musa em si.

quem serão as musas não declaradas?
:: mariana.blues

agradecimentos abertos ao cd gravado pela mariana com musicas up-happy-funk. erikah badu realmente destrói. coloco o playlist assim que ela me passar... =)

06 agosto 2003

:: pontas

recebi esse email numa confusão de lista de emails ou spams, não sei bem. tentei responder mas o servidor disse que o endereço não existia.

"eu tive amor pelos meus cabelos enquanto você os quis, provavelmente até como elogio único a que eu era capaz: você durante dias atrás de pontos, cicatrizes, olhos de arame farpado ao meu redor. pois me prometeu um bilhete escrito, pediu que guardasse o guardanapo de papel delicado pra que um dia viessem as palavras. cumpri a espera o quanto pude dentro da carteira. eu reparava no papel odiosamente branco entre outros coloridos, ou então branco único pois dinheiro e gato não se prendem dentro de casa. enquanto cachorros, como eu, esperam o dono estancados no tapete da porta. meu amor é assim: você negou com fúria delicada minha humilhação e finalmente juntou meus pés e pregou-os com madeira e martelo. saiu uma lágrima do meu suor. depois não aguentei, e oferecia intencionalmente sem querer o papel a qualquer motivo de sujeira em sua pele, na roupa. meu sangue dos pés nunca chegaram a sujá-la, não foi?

meus cabelos. para e pura imitação de seus gostos, ou será que me enganou mais uma vez? você pode olhar pra frente, um fim de vista onde a serra cerca o depois, olhar o tempo que precisar e se eu me puser entre a serra e você, exatamente onde os olhos me encontram, sou atravessado violentamente. você, como sempre, não fez nada. eu que fui de encontro à estaca. pode me servir de orgulho que tantos outros melhores que eu tenham se rasgado comigo, antes de mim. mas não posso conceber seu olhar, que não é lança, é espada de ambos lados criminosos, e faz questão de exibir as habilidades: caminhando, rebolar, sorrisos em alguma direção coitada que na verdade se refere a dentro. lembranças melhor não serem reveladas, porque doem.

percebeu que todos a descobriram e odiavam, menos eu. não me descobriu. eu me apresentei. e perguntava, perplexa, quais motivos ? ignorância da própria beleza e violência. você aplainou algumas pontas, pude me aproximar, mas com distância desconhecida porque arame continuava. bela forma de se envolver. chegaram a xingá-la. eu fui protetor e ferido. me chamaram de seu namorado, uma idiotice de quem falava e muito maior minha, pois. se. outros achavam. uma vaidade de gente feia e morta embora estampada no jornal. páginas policiais, no entanto fama.

chamei beleza enquanto gritavam gostosa. amor é puro se não doente? então não amei, você diria. mas cumpri as ordens inventadas, flores e cartão, criei um romance em minha cabeça, chamei beleza com o pouco de fôlego e pés aprisionados, perfuração atrás da porta de entrada, tão encostado para recebê-la ? creio que se um dia você entrasse, a proximidade do desejo surraria minha cara. eu não tinha como cair. você que me prendeu. sadicamente, fecharia a porta, girando a maçaneta: um barulho de chave e alguns segundos espaçados para recriar o desespero. depois risadas abafadas pela madeira divisória. a porta aberta violentamente como na infância. esta cicatriz no nariz foi chave contra. depois pedido de perdão e a parte carnuda da mão alisando o machucado. era você. mas você fingia nunca perceber, por filosofia própria.

veja então se não percebe. meu único elogio no topo da cabeça, como que me escapando, rebeldes os cabelos, não querendo meus. boa maneira de não se envolver, me evitar. seu namorado, no entanto, tinha os cabelos, o rosto, o sorriso e você ? os outros gritariam sua parte mais gostosa, mas não me misturo. cada fio cresceu mesmo desgostando-os, os cachos de antes quebraram opacos, viraram cada qual para seu canto, sem se conversarem. nunca mais arranjo. posso dizer de meus cabelos, assim como de minha vida. espero que também da sua. você vai descobrir que seu namorado terá uma beleza a mais e uma retirada. fiquei careca. o feio. porém não deixei varrerem meu elogio para o lixo, guardei num saco e fiz uma visita. seu namorado não me reconheceu, talvez nem se tivesse ainda os cachos ? quem sabe se ainda amigos você me comentou? -, seria reconhecido.

esperei ele atender a porta, ele perguntou o que queria e me olhou do topo a baixo, nem percebeu os buracos dentro dos sapatos, eu sorri como você tantas vezes sorriu pensando nele, e joguei ? ele atrás da porta ? a porta contra, caiu de bunda. tranquei a porta mas fiz questão de não sair, acompanhei seus urros de dentro, sem impedimento abafado, socos e cara amassada ? a maçaneta, você precisa consertar.

trouxe comigo o saco de cabelo. e cola quente. seus gritos, a veia pulsando no pescoço, subindo a lateral da testa, bochechas vermelhas antes de queimadas e grudentas de cola assim requentada.

abri mão de meus cabelos para seu namorado ser todo ele beleza, os cachos no topo da cabeça, nas orelhas, grudados por toda a face.

se pelo menos pudéssemos saber que sorriu."

05 agosto 2003

:: deus é um velhinho de barba muito engraçado

estou prestes a me apaixonar por alguém que tem a maldade em seus olhos.
:: papel

escreverei sbre esse papel, uma história feliz de nós dois.
e perfumarei com sândalo colhido da estância mais fugidia,
e quebrarei linhas para que pareçam versos cadenciados,
a boa e velha cadência de um amor seguro,
e deixarei esses desespero silencioso feito grito noturno
exercizando feitos heróicos e dores abissais;
e comporei com letras de música,
trilhando sonoramente estas seqüências,
e derramerei algumas lágrimas,
manchando as palavras certas,
os pontos de dissonância,
os verbos de duplo sentido,
a veia cava, homem per capita,
noite estrelada com gliter,
adesivos fofos comprados em ônibus urbanos.

uma história
feliz
de nós
dois
de papel.
:: felicidade

a cecília me perguntou de um sonho ou uma felicidade. me questionou por que eu não escrevo sobre isso. não sei se tenho muitos sonhos ou na verdade nenhum. não sei o que eu quero. às vezes acho que sei mais o que não quero. ando meio sem inspiração para escrever. todos os esboços soam mais toscos do que o costume. tenho momentos de euforia por algo que me surpreende pq a vida é assim: supreendente. mas de mim mesmo, quase nada vem.

as pessoas sempre tentam me convencer do contrário. mas não acredito muito nelas, apesar de amá-las. não por falta de índole, mas elas podem estar mais enganadas do que eu. eu vivo me enganando e sei bem como funciona. a felicidade é uma enganação. ou um estado conspiratório de espírito.

e respeito muito as pessoas que conseguem enganar a si mesmo até esse ponto.
:: o reverso

sabe quando a gente canta músicas que gostaria de dizer para alguém? ou escreve textos pensando na pessoa? quando a gente diz que ama muito ou que já esqueceu ou que não faz tanto mais sentido?

e quando eu sou a pessoa?

03 agosto 2003

:: flores

embora o inferno esteja cheia de boas intenções, era minha trazer algumas flores. é engraçado como rimos da sorte e da falta dela. faz frio na cidade, mas as flores parecem ter mudado seus hábitos. há muitas por aí. nada muito sofisticado, mas muito colorido. perco-me um pouco nos detalhes, póles, caule, folhas, androceus. lentidão do homem em contemplar uma beleza dolorida. sementes microscópicas, como ansiar pela vida que vem se ela não nos mostra? a vida invísivel assim como as coisas invisíveis estão conspirando para a perdida esperança. nem sei o quanto vale um punhado de flores num buquê que se desfazerá.

o fato é que não pude lhe trazer as flores.

mas posso te levar onde têm.
:: cloud number nine





brigadim para cereja.

:: prosas e versos

"tudo bem. você não está bem. você está escrevendo em versos."

palavras de uma amiga que me conhece melhor que eu.
:: a vida romantizada

perdi o afeto num molho de chaves tortas,

perdi a noção do que é vida inventada
e do que é vida vivida.
a minha cabeça pesa o concreto pintado
e meus pés subordinam as nuvens.
sou eu na vida real correndo atrás de sonhos
ou sonho a crueldade da vida real?
não posso ter tudo que quero
mas posso deixar de querer tudo que tenho.
:: medo

do que tenho medo? de mto mais coisa do que você pensa. já viu como ficam aterrorizantes os cachorros pequenos quando se aborrecem? por serem menores dá impressão que seus movimentos são rápidos. me dá mais medo a rapidez das coisas do que o tamanho. tenho medo também de tomar choque, embora tenha trabalhdo como eletrecista. gosto das coisas elétricas e eletrônicas mas me apavoro deveras com motores de 3v. já tive medo de cabeça de peixe e do hulk. tantos medos que já tive que são renovados por tantos outros novos.

tenho medo de não me adaptar a lugares estrangeiros. de não saber falar suas línguas. tenho medo de encontrar pessoas que não irão com a minha cara e criarão empecilhos. tenho medo do silêncio absoluto, sabe aquele que parece fazer pressão nos seus tímpanos? também tenho medo de tempestades. tenho medo do mar porque não sei nadar. mergulhar a cabeça inteira dentro d'água nem pensar!

tenho medo de não consigar mais enxergar. tenho medo de perder a sensibilidade das mãos. tenho medo que as minhas cócegas exageradas afaste abraços diferentes. tenho medo de não reencontrar amigos de longa data. tenho medo também de que tudo perca o sentido e eu não consiga mais inventar os sentidos.

tenho medo de crescer. de não conseguir mais aprender. de não conhecer a terra dos meus pais. do bush. de fogueiras muito altas. de não ter dinheiro para amenidades. de me tornar um conformista. de não vencer na vida. de cemitérios a noite. de ter que me desfazer de meus livros. de perder os amigos. de cometer erros que já cometi.

tenho um monte de medo, sabe? tenho medo de morrer. na verdade, tenho medo do minuto final porque nele saberei se valeu a pena tanto medo.

02 agosto 2003

:: one i love


layout novo baseado no grafismo da liza. tem alguns defeitinhos mas belê.

http://www.oneilove.blogspot.com
:: pavê de limão

galera, o blog da ciça está muito engraçado!!! são crônicas sobre a night meio comédia da vida privada! recomendo!!!

http://pavedelimao.blogspot.com

01 agosto 2003

:: ayumi.lab #01

te vi de soslaio, meio esquerdo.

convenceu-me desde o início que era persona non grata . gostei dos teus olhos.

eu estava no ônibus. era um viaduto alto; cheguei no seu quarto andar. provavelmente estava escrevendo um email, concentrado buscando palavras no dicionário. na parede de seu quarto, um marx quadriculado. amei silenciosamente o tamanho de sua janela. o seu telefone tocou; o meu sinal abriu.

esqueci de você a tarde; lembrei de você a noite. há um silêncio insuportável nos programas usuais da tevê. veio-me seu nome imaginado: carlos versoti.
:: hoje estou _ choro bandido _ pra vc

Mesmo que os cantores sejam falsos como eu
Serão bonitas, não importa
São bonitas as canções
Mesmo miseráveis os poetas
Os seus versos serão bons
Mesmo porque as notas eram surdas
Quando um deus sonso e ladrão
Fez das tripas a primeira lira
Que animou todos os sons
E daí nasceram as baladas
E os arroubos de bandidos como eu
Cantando assim:
Você nasceu para mim
Você nasceu para mim

Mesmo que você feche os ouvidos
E as janelas do vestido
Minha musa vai cair em tentação
Mesmo porque estou falando grego
Com sua imaginação
Mesmo que você fuja de mim
Por labirintos e alçapões
Saiba que os poetas como os cegos
Podem ver na escuridão
E eis que, menos sábios do que antes
Os seus lábios ofegantes
Hão de se entregar assim:
Me leve até o fim
Me leve até o fim

Mesmo que os romances sejam falsos como o nosso
São bonitas, não importa
São bonitas as canções
Mesmo sendo errados os amantes
Seus amores serão bons